Portuguesa lembra ocasiões em que esteve com o pontífice e que marcas considera que Francisco deixa na Igreja

Lisboa, 23 abr 2025 (Ecclesia) – Catarina Casanova esteve por duas vezes com o Papa, na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 e no Vaticano, e recorda as conversas que partilhou com Francisco, que foi “muito conciliador” e atento aos “mais excluídos” durante o pontificado.
A portuguesa, de 28 anos, foi voluntária no Comité Organizador Vicarial de Oeiras da JMJ Lisboa 2023 e, como “quase todos os portugueses” envolvidos, começou “uns anos antes a preparar” o encontro.
“Quando se estava a aproximar a jornada, lembro-me de comentar que gostava de cumprimentar o Papa. Gostava de poder agradecer o que ele tinha feito pela Igreja”, relata.
Todavia, mais perto de se iniciar a JMJ, a jovem percebeu que o posto que lhe foi confiado era dentro da Proteção Civil e que “muito provavelmente nem sequer iria conseguir participar em grandes eventos”, porque estaria “num gabinete de urgência e não havia grandes garantias” de poder sair.
“Dentro desse gabinete ainda fui destacada para uma missão um bocadinho isolada da jornada, que foi acompanhar a família de uma peregrina francesa que acabou por falecer. E por isso, a minha semana foi um bocadinho à margem daquilo que se estava a viver”, indica.
A portuguesa assume que, ao início, se sentiu “triste” por perceber que não iria participar em nenhum dos eventos, mas depois entendeu que Jesus lhe pedia para estar junto das pessoas “que mais precisavam e que podia ser um sinal do amor dele”.
Quando nada fazia prever, Catarina estava a caminho da vigília, no sábado, 5 de agosto de 2023, e recebeu uma chamada, de um número e de alguém que “não conhecia”, a convidá-la para estar presente no palco com o Papa Francisco.
“Eu estive a tarde toda a pensar que tinha imensas coisas que gostava de lhe dizer. O Hugo, que na altura era o meu noivo, estava no coro e por isso cruzámo-nos nos bastidores. Ele deu-me uma fotografia do nosso noivado e disse: ‘não te esqueças de pedir ao Papa que abençoe o nosso noivado’”, lembra.
Em conjunto com vários jovens de todo o mundo, a jovem cumprimentou o Papa, um momento que descreve como “marcante”: “Quando ele acabou o discurso, os papéis dele voaram. Eu estava mesmo sentada ao lado, apanhei os papéis e olhei para ele. E as lágrimas corriam pela cara e o Papa disse: ‘sorri’”.
No final da vigília, Catarina Casanova dá conta que os jovens ainda tiveram oportunidade de estar com o Papa, tendo falado sobre a cultura da Argentina, Nossa Senhora, e agradecido por tudo aquilo que Francisco fez pela Igreja.
“Eu já não me lembrei de mostrar a fotografia, não me lembrei de pedir a bênção”, recorda Catarina que, pensando no assunto, decidiu que depois do casamento, realizado em novembro de 2023, se deslocaria a Roma na Páscoa de 2024, com o marido.
“Marcámos a viagem. E fomos vestidos de noivos. Sabíamos que há um lugar especial para os noivos nas audiências gerais. Tivemos alguma dificuldade em encontrar esse lugar. Quase que acabámos no meio da Praça de São Pedro vestidos de noivos no meio de toda a gente”, refere.
Os dois ficaram muito perto do altar e quando Francisco passou para cumprimentar, Hugo “agarrou a mão do Papa” e “não largou durante algum tempo”.
“Tivemos tempo para falar um bocadinho com ele. Explicámos que éramos portugueses. Que tínhamos sido voluntários nas jornadas. Agradecemos-lhe muito as jornadas. E o impacto que as jornadas tiveram em todos os jovens que nós conhecemos”, revela.
Catarina Casanova aproveitou ainda para falar com o Papa sobre o trabalho que tem no Centro Paroquial de São João Julião da Barra, em Oeiras, e entregar a carta de uma das crianças.
O Papa agradeceu. Pediu que pedíssemos que rezássemos por ele. Agradeceu muito a jornada. Ficou emocionado quando percebeu que tínhamos estado [lá]”, testemunha.
Hoje, Catarina e Hugo Casanova são hoje pais de um filho, Xavier, de três meses, e tinham a intenção de apresentá-lo a Francisco no Jubileu dos Jovens, em agosto.
“Já marcámos a viagem [para ir] ao Jubileu. Agora o desejo era que o Papa também abençoasse este nosso filho”, conta a jovem.
Para Catarina Casanova, Francisco foi um Papa que “mexeu com muitas coisas”, que veio falar de uma maneira “muito desempoeirada sobre a mensagem que na verdade não é nova, é a mensagem de Jesus”.
“O Papa Francisco veio mostrar que o mais importante na Igreja é olhar para quem está fora. Ele dizia que tínhamos que ter as portas da Igreja escancaradas, que tínhamos que ir às periferias”, afirmou. A portuguesa lembra as mensagens do Papa Francisco que mais a marcaram na passagem por Lisboa: Na Igreja “há espaço para todos” e ajudar a levantar é “o único momento em que é lícito olhar para uma pessoa de cima para baixo”. “Às vezes nós, quando estamos numa atitude de ajuda, temos muito esta tendência de superioridade. Eu ajudo porque estou num sítio diferente do outro. E se não estiver, não posso ajudar. Mas é importante percebermos que todos conseguimos ajudar. E todos estamos no mesmo barco”, realçou. Dos 12 anos de pontificado, Catarina Casanova recorda a imagem do Papa Francisco sozinho na Praça de São Pedro, na pandemia da Covid-19, e o Sínodo dos Jovens. “A atenção que o Papa dá aos jovens. E o papel que queria dar aos jovens. E tudo o que vem daí. As cartas que ele escreveu. A Cristo Vive. Eu sou animadora de jovens e foi marcando-me muito. A forma como nós lideramos os grupos de jovens. O papel que queremos dar aos jovens. E acho que foi o que me marcou mais”, salientou. A jovem considera que Francisco construiu uma “Igreja que não tem paredes fixas”, “que está no meio do mundo”, “nos sítios mais estranhos às vezes”. “[Uma Igreja] que não está fechada num edifício. E que por isso nos desafia muito a continuar esta missão de sair com Cristo ao encontro de todos. E mostrar que Jesus não faz aceção de pessoas. Que está disponível para acolher todos”, ressaltou. |
Francisco faleceu esta segunda-feira, aos 88 anos de idade e após mais de 12 anos de pontificado, na sequência de um AVC; o Papa esteve internado entre 14 de fevereiro e 23 de março, a hospitalização mais longa do pontificado, devido a uma infeção respiratória que se agravou para uma pneumonia bilateral.
LJ/OC