Francisco/12.º aniversário: Encíclicas sociais, processo sinodal e atenção às periferias marcam pontificado (c/vídeo)

Primeiro Papa sul-americano foi eleito a 13 de março de 2013, sucedendo a Bento XVI

Foto: Lusa/EPALisboa, 13 mar 2025 (Ecclesia) – O Papa Francisco completa hoje 12 anos de pontificado, marcados por encíclicas sociais, um esforço de renovação interno da Igreja, particularmente no processo sinodal, e atenção às periferias da sociedade.

Desde a sua primeira viagem, à ilha italiana de Lampedusa, a 6 de julho de 2013, Francisco tem alertado para a “globalização da indiferença”, seguindo-se várias críticas contra o “dogma” neoliberal – denunciando uma economia que “mata” -, pedindo maior atenção às “periferias” geográficas e existenciais.

Entre 2014 e 2015, a Igreja Católica viveu um processo sinodal dedicado à família, que chamou a atenção da opinião pública pela atenção dedicada aos casais em segunda união e à defesa da misericórdia como critério pastoral.

“As situações de miséria e de conflitos são para Deus ocasiões de misericórdia. Hoje é tempo de misericórdia”, disse Francisco, no final da assembleia geral ordinária de 2015.

Ainda em 2015, o Papa lançou a primeira encíclica dedicada ao tema da ecologia, ‘Laudato si’, na qual defende a valorização do ser humano, da natureza, da fé e da cultura para superar a atual crise ambiental.

Francisco pede “um olhar diferente, um pensamento, uma política, um programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade” que consigam resistir ao “avanço do paradigma tecnocrático”.

O tema da misericórdia esteve no centro do Jubileu extraordinário que se encerrou em 2016, durante o qual, simbolicamente, o Papa canonizou Madre Teresa de Calcutá.

“Comprometeu-se na defesa da vida, proclamando incessantemente que quem ainda não nasceu é o mais fraco, o menor, o mais miserável. Inclinou-se sobre as pessoas indefesas, deixadas a morrer à beira da estrada, reconhecendo a dignidade que Deus lhes dera; fez ouvir a sua voz aos poderosos da terra, para que reconhecessem a sua culpa diante dos crimes – diante dos crimes! – da pobreza criada por eles mesmos”, referiu.

A 12 e 13 de maio de 2017, o Papa cumpriu a sua primeira visita a Portugal, assinalando o centenário das Aparições de Fátima, num programa de celebrações que inclui a canonização dos dois pastorinhos mais jovens, Francisco e Jacinta Marto.

A 4 de fevereiro de 2019, em Abu Dhabi, Francisco assinou a declaração sobre a Fraternidade Humana, com o grande-imã de Al-Azhar, a mais importante instituição do Islão sunita.

“Hoje também nós, em nome de Deus, para salvaguardar a paz, precisamos de entrar juntos, como uma única família, numa arca que possa sulcar os mares tempestuosos do mundo: a arca de fraternidade. O ponto de partida é reconhecer que Deus está na origem da única família humana”, declarou, perante representantes de várias religiões, na primeira visita de um pontífice à Península Arábica.

De 21 a 24 de fevereiro de 2019, Francisco fez história ao convocar para o Vaticano presidentes de conferências episcopais, religiosos, vítimas, responsáveis da Cúria Romana e jornalistas para debater a crise provocada pelos casos de abusos sexuais e as políticas a implementar para a proteção de menores.

A 27 de março de 2020, numa Praça de São Pedro deserta, por causa da pandemia de Covid-19, e debaixo de chuva intensa, o Papa presidiu a uma celebração com bênção especial ‘urbi et orbi’ [à cidade (de Roma) e ao mundo] –, falando de uma humanidade em que todos estavam “no mesmo barco”.

Para esta oração, foram levados até ao Vaticano o ícone de Maria ‘Salus populi Romani’, que se venera na Basílica de Santa Maria Maior, local onde o Papa costuma rezar antes e depois de cada viagem internacional, para pedir a intercessão da Virgem Maria; e a cruz venerada na igreja de São Marcelo al Corso, um crucifixo considerado milagroso que, segundo a tradição popular, pôs fim à peste de 1522.

A 4 de outubro de 2020, Francisco publicou a encíclica ‘Fratelli Tutti’ (Todos Irmãos), traçando um cenário de “sombras” para denunciar o que qualificava como “globalismo” do mercado de capitais, que responsabilizou pelo aumento de desigualdades e injustiças sociais.

A primeira viagem internacional depois da pandemia teve como destino o Iraque, em março de 2021, com uma passagem pela cidade de Mossul, ainda a recuperar da destruição do autoproclamado Estado Islâmico.

“Se Deus é o Deus da vida – e assim é –, não nos é lícito matar os irmãos no seu nome. Se Deus é o Deus da paz – e assim é –, não nos é lícito fazer a guerra no seu nome. Se Deus é o Deus do amor – e assim é –, não nos é lícito odiar os irmãos”, disse Francisco, no ‘Hosh al-Bieaa’ (praça das igrejas), diante de locais de culto danificados ou destruídos pelo Daesh, entre 2014 e 2017.

A segunda viagem do Papa a Portugal decorreu de 2 a 6 de agosto, para presidir à Jornada Mundial da Juventude 2023, em Lisboa, e visitar o Santuário de Fátima, reforçando intervenções em favor de uma Igreja mais aberta.

“Jovens e idosos, sãos, doentes, justos e pecadores. Todos, todos, todos! Na Igreja, há lugar para todos”, disse, no primeiro encontro com peregrinos, que decorreu no Parque Eduardo VII.

Mais de 1,5 milhões de pessoas viriam a participar nas celebrações conclusivas, acolhidas pelo renovado Parque Tejo.

O Papa, que reformou a Cúria Romana e as instituições financeiras do Vaticano, enfrenta tensões internas, visíveis nas recentes polémicas relativas à declaração sobre bênçãos a casais em situação irregular.

Os últimos meses de pontificado são marcados pelo documento final da XVI Assembleia Sinodal, que o Papa entregou a toda a Igreja, aborda temas como o papel das mulheres e os processos de decisão, o combate e prevenção dos abusos sexuais ou a reconfiguração das comunidades católicas, com novos ministérios e o fim de um modelo piramidal.

“Não precisamos duma Igreja sentada e desistente, mas duma Igreja que acolhe o grito do mundo e – quero dizê-lo, talvez alguém se escandalize – uma Igreja que suja as mãos para servir o Senhor”, disse, na Missa conclusiva, a 27 de outubro do último ano.

A 24 de dezembro de 2024, Francisco abriu a Porta Santa na Basílica de São Pedro, dando início ao 27.º Jubileu ordinário na história da Igreja, um Ano Santo que quis dedicar ao tema da esperança.

O Jubileu 2025 começou num momento em que o Papa enfrenta problemas de saúde, que levaram ao internamento mais longo do pontificado, no Hospital Gemelli, desde 14 de fevereiro,  tendo sido diagnosticado com uma infeção polimicrobiana das vias respiratórias, que se agravou para uma pneumonia bilateral.

No início do 28.º dia de hospitalização, o Vaticano informou que o Papa passou uma noite “tranquila”e, esta manhã, seguiu, através de ligação vídeo, os exercícios espirituais orientados pelo padre Roberto Pasolini no Auditório Paulo VI, rezando depois na capela privada do seu quarto antes de continuar os tratamentos.

Francisco deixou de ter prognóstico reservado na última segunda-feira, após a estabilização da infeção respiratória, mas continua sem previsão de alta médica, dado que ainda necessita de tratamento em ambiente hospitalar.

OC

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