Festa africana para Bento XVI

Dossier da Agência ECCLESIA analisa primeira viagem do Papa ao continente africano Chegou ao fim a primeira viagem de Bento XVI a África, com escalas nas capitais dos Camarões e de Angola, mas com vista para todo o Continente. Milhares de quilómetros e milhões de pessoas depois, o Papa poderá rever com um sentimento de satisfação os dias de uma festa africana. Vários apelos e mensagens com olhar para o futuro marcam esta visita de sete dias, de 17 a 23 de Março, durante os quais o Papa quis “chamar todos a uma renovada solidariedade das mentes e corações que possibilite empenho comum na obra de pacificação e reconstrução da nação inteira para um futuro mais digno dos seus filhos”. Para todos os africanos, disse Bento XVI, é essencial empreender um caminho que os faça “levar reconciliação, cura e paz às vossas comunidades e a vossa sociedade”, “eliminar a injustiça, a pobreza e a fome” onde quer que elas se encontrem. Os balanços apresentados neste Dossier da Agência ECCLESIA têm várias perspectivas: o olhar do Pe. Tony Neves sobre o dia-a-dia do Papa e a análise do Pe. Manuel Augusto sobre o caminho que se pode fazer até ao Sínodo dos Bispos africanos em Outubro. D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga, e o Cón. António Rego, director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, estiveram junto do Papa em Angola e relatam o que viram e ouviram durante esses dias. Nestes dias houve a noção de que as intervenções papais em território camaronês tiveram sempre uma perspectiva aberta sobre todo o Continente, particularmente visível na entrega solene do documento que orientará os trabalhos da II Assembleia Especial do Sínodo para a África. Logo no avião que o levou até aos Camarões, o Papa foi deixando claro que a Igreja acredita que pode fazer a diferença em África, ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz. “Vim a África precisamente para proclamar esta mensagem de perdão, de esperança e de uma nova vida em Cristo”, diria depois. Entre as dificuldades evidenciadas por Bento XVI destacam-se o etnocentrismo ou o tribalismo que muitas vezes estão por detrás de outros problemas – conflitos, nepotismo e corrupção, impunidade. “Pensemos no flagelo da guerra, nos frutos terríveis do tribalismo e das rivalidades étnicas, na avidez que corrompe o coração do homem, reduz à escravidão os pobres e priva as gerações futuras dos recursos de que terão necessidade para criar uma sociedade mais solidária e justa: uma sociedade verdadeira e autenticamente africana nos seus valores”, assinalou em Angola. O Papa enfatizou a necessidade de apoiar as iniciativas internacionais que favoreçam segurança, estabilidade e desenvolvimento, nomeadamente na Região dos Grandes Lagos. “É urgente e importante que a comunidade internacional coordene esforços para enfrentar a questão das alterações climáticas e cumpra os compromissos em prol do desenvolvimento, concretizando nomeadamente a promessa, muitas vezes repetida pelos países desenvolvidos, de destinarem 0,7% do seu PIB a ajudas oficiais ao desenvolvimento”, declarou. Em Luanda, o Papa pediu aos peregrinos que não se rendessem “à lei do mais forte, porque Deus concedeu aos homens asas para voar sobre os seus defeitos e limitações”, recordando que, em Angola, ainda há “tantos pobres que reclamam pelo respeito dos seus direitos”. Da viagem fica a certeza que Bento XVI leva África muito a sério e espera muito dela, incluindo novidades teológicas – à imagem do que aconteceu com o Cristianismo nascente e a sua escola de Alexandria, no Egipto. “Talvez este século permita, com a graça de Deus, o renascimento no vosso continente da prestigiosa Escola de Alexandria, certamente, porém, sob uma forma diversa e nova. Porque não esperar dela que possa fornecer aos africanos de hoje e à Igreja universal grandes teólogos e mestres espirituais que contribuiriam para a santificação dos habitantes deste continente e da Igreja inteira?”, questionou. Esperança Por várias vezes, o Papa afirmou que para esta África jovem, cheia de potencialidades – apesar da guerra, das pandemias e das injustiças – chegou a hora da esperança. Uma mensagem particularmente importante quando se sabe que o entusiasmo que se gerou com a obtenção da independência por parte das nações africanas acabou por desaparecer, muitas vezes, por causa do falhanço de governos, de iniciativa política ou militar. “A África é chamada à esperança através de vós e em vós”, disse aos católicos. Dos Camarões falou como uma exemplar “África em miniatura”, pátria de mais de duzentos grupos étnicos diferentes que vivem em harmonia uns com os outros. Estes dias foram marcados por uma esperança contra o “afropessimismo” e pelos desafios lançados à Igreja, “num momento de grande esperança para a África e para o mundo inteiro”. “Chegou para África o tempo da esperança”, assinalou, frisando que os africanos devem ser “agentes primários do seu próprio desenvolvimento”. A Igreja, essa, é chamada a ser a primeira anunciadora desta esperança, levando os africanos a acreditar que um outro mundo é possível. 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