Férias: Tempo que deveria ser de «relação» e «silêncio»

Padre Vasco Pinto Magalhães critica «pressa» e «competição» que esvaziam sentido do descanso

Lisboa, 04 ago 2014 (Ecclesia) – O padre Vasco Pinto Magalhães sugere que o período de férias deveria começar com um “encontro pessoal connosco próprios”, para melhor viver o descanso e de forma a concretizar momentos de “silêncio e relação”.

“As férias deveriam ser a capacidade de criar condições e concretizar momentos de humanização, momentos de paragem, de respirar, de digerir, espaços de silêncio e de relação”, indica o sacerdote jesuíta numa entrevista publicada no último número do semanário ECCLESIA.

Sugere o autor do livro «Só avança quem descansa» que o verdadeiro repouso surge da “relação humana”.

“Estou convencido que aquilo que nos descansa é a verdadeira relação humana. Falamos muito uns com os outros mas relacionarmo-nos é algo que nos pode escapar com grande facilidade. A relação que nos descansa, que nos faz aceitar quem somos, que nos ajuda a aceitar o outro – isso, é com certeza, o que mais nos descansa”.

Sugere o sacerdote que o silêncio “é condição primeira da relação” e não “ausência de comunicação”.

“O silêncio é a condição para ouvir e falar melhor. Sabemos que no silêncio ouvimos a própria consciência, o outro, descobrem-se outros níveis. Isso é tão repousante”.

Entendido como um tempo de serenidade, é também uma oportunidade para fazer perguntas, sugere o sacerdote.

“Devíamos, desde pequenos, ser ensinados a perguntar, mais do que a responder”, e desta forma entender que “a vida não é um problema, mas um processo”.

“Eu costumo dizer que a vida não tem solução, mas os problemas têm solução. A vida tem percursos, desenvolvimentos, ritmos que vão dando resposta ao crescimento”.

No livro «Só avança quem descansa», publicado pela Tenacitas, o padre Vasco Pinto Magalhães indica que entre ser “turista ou peregrino”, “devemos ser sempre peregrinos”.

“O peregrino é aquele que sabe o valor do tempo, tem metas, não quer comer tudo de uma vez, trava a gula. Faz uma escolha”, afirma.

Ao contrário, o turista “anda nesta vida usufruindo e deitando fora o que não interessa”, desligando-se da realidade.

Num tempo acelerado, indica o jesuíta, é fácil cair em competição, “numa ansiedade” de “querer estar em todo o lado”.

“Estamos sempre a olhar para o outro: o outro está a divertir-se e eu não, o outro está ali e eu não. A competição leva à inveja e é das coisas que mais cansa”.

Na tentação de “colecionar experiências”, “deixamos de fazer a síntese”, e até os domingos “deixaram de ser tempos de relaxamento”.

Mais do que um tempo de “distração e não pensar em nada”, nas férias “devemos pensar em que é que vamos pensar”.

“Escolher um bom livro, perceber onde vou ouvir uma boa música, se sou crente perceber onde, e como, posso rezar. E isso fazer parte do programa de férias”.

A conversa com o padre Vasco Pinto Magalhães foi emitida no programa 70×7 na RTP2 e no programa Ecclesia na Antena 1 deste domingo.

LS

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