Férias com História

A cultura é o território privilegiado “onde a mudança se espelha” e se encontra “a alma do homem e da sociedade do nosso tempo Nesta sociedade onde não há tempo para nada – realça o Pe. Tolentino Mendonça – para o “entretenimento há sempre tempo” porque o ser humano “precisa destes momentos de pausa que não são simplesmente momentos de ócio mas têm de ser momentos de grande fecundidade espiritual e humana”. Importa reflectir os modelos de entretenimento e o que se deverá fazer para tornar este tempo em tempo “de encontro com os valores fundamentais da pessoas e da cultura”. Será que ainda resta disponibilidade temporal para ir ao encontro da vivência da fé? Não podemos pensar no binómio «entretenimento ou prática litúrgica». “Aceitamos que o entretenimento é uma realidade da vida individual e social” – menciona o Director do Secretariado Nacional da Cultura. Envia o homem para um tempo sem tempo A festa está “antes do trabalho” e este existe “para o descanso” (J.R. de la Pena, «Crisis y apologia de la fe. Evangelio y nueno milénio»). Enquanto o trabalho é um meio, a festa é um fim em si própria porque antecipa, no tempo, esse fim que é plena finalização do mundo e da história, a festa definitiva do banquete do reino dos céus. A festa constitui um acontecimento de “grande significado antropológico”, pois introduz uma ruptura “no ritmo normal do tempo e reenvia o homem para um tempo sem tempo” (A. Martins, «A Festa – o Ámen da criação»). A missão de uma pastoral da cultura é restituir ao homem a sua plenitude de criatura “à imagem e semelhança de Deus” (Gn. 1, 26). Consequentemente – e esta observação é essencial para uma pastoral da cultura – “não se pode negar que o homem sempre existe dentro de uma cultura particular, mas também não se pode negar que o homem não se esgota nesta mesma cultura. De resto, o próprio progresso das culturas demonstra que, no homem, existe algo que transcende as culturas” (Veritatis Splendor, n.º 53). Hoje, o entretenimento é marcado por duas palavras: valores e contradições. Se por um lado é marcado por uma “momento de humanização, potenciação da criatividade e construção lúdica da própria realidade” por outro é um espaço de contradições porque, “muitas vezes, serve para alienar o indivíduo e é uma espécie de ruído de fundo”. Nesta experiência de “grande aceleração” é necessário um novo humanismo e pensar “clareiras”. O entretenimento é “demasiado importante para estar confiado somente à sociedade do espectáculo”. Terá que ser olhado como espaço de humanização. Quando a secularização se transforma em secularismo entra-se numa “crise cultural e espiritual, da qual um dos sinais é a perda do respeito pela pessoa e a difusão de uma espécie de niilismo antropológico que reduz o homem aos seus instintos e tendências” (cf. Veritatis Splendor, n.º 32). Não hierarquizar a cultura Numa sociedade onde o ter ganha vantagem ao ser, o Pe. Tolentino Mendonça salienta: “não podemos hierarquizar em alta cultura e baixa cultura”. É urgente potenciar as várias dimensões da cultura visto que esta não anula as culturas. “Os poetas também gostam de futebol.” Ao construirmos uma pirâmide cultural corremos o perigo da “banalização e de ficarmos somente numa vivência epidérmica da realidade, mesmo nos aspectos lúdicos e criativos”. Na cultura portuguesa encontramos realidades que “inscrevem uma grande esperança nos vários âmbitos”. Em todos os campos da cultura verificamos uma “grande vitalidade. Um sinal muito positivo”. A cultura é o território privilegiado “onde a mudança se espelha” e se encontra “a alma do homem do nosso tempo. Na construção de uma cultura como reflexão profunda “das práticas e modos”, colaboramos “para uma transformação” – sublinha ainda. É a capacidade, exclusiva do homem, de dar sentido à história que constrói a cultura. Um povo que rompe com a sua memória compromete o futuro. A memória histórica narra o futuro. Não no sentido arqueológico, mas criativamente, para “fazer surgir novas forças para uma renovação global da Europa sobre o plano espiritual, moral e político” – afirmou João Paulo II. Por outro lado, Rémi Brague revela que “o cristianismo está presente na cultura europeia.” Ele é considerado, portanto, “como parte do conteúdo desta cultura, ao lado de elementos como a herança antiga ou a judaica” – acentua. É essencial o diálogo Igreja / Cultura mas “necessitamos de encontrar novos parâmetros porque a sociedade mudou”. Compete à Igreja encontrar “propostas pastorais com relevância cultural”. O grande drama de hoje é que “a proposta cristã se tornou irrelevante do ponto vista cultural” – disse o Pe. Tolentino Mendonça. De facto, a sociedade tem “necessidade de artistas”, da mesma forma que precisa de cientistas, técnicos, trabalhadores, especialistas, testemunhas de fé, professores, pais e mães, que “garantam o crescimento da pessoa e o progresso da comunidade, através daquela forma sublime de arte que é a «arte de educar»” – escreveu João Paulo II na Carta aos Artistas. Numa perspectiva de preparação evangélica, a pastoral da cultura tem como objectivo prioritário “inserir a seiva vital do Evangelho nas culturas, a fim de as renovar interiormente e de transformar, à luz da Revelação, as compreensões do homem e da sociedade que modelam as culturas” – («Para uma Pastoral da Cultura», do Conselho Pontifício da Cultura). Luís Filipe Santos

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Agência ECCLESIA

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