Feira de solidariedade Emmaús anima Gare do Oriente

Discípulos do Abbé Pierre ensinam a transformar o lixo em ouro Quem passar na Gare de Oriente, por estes dias, dá de caras com aquilo que, à primeira vista, pode parecer uma feira de antiguidades: móveis, livros, discos e outras preciosidades que o tempo marcou. A feira de solidariedade Emmaús vai continuar por lá até 15 de Fevereiro, com o objectivo de transformar o que os outros consideram lixo em ouro verdadeiro, indispensável para os projectos que o Movimento Emmús, do Abbé Pierre, desenvolve em Portugal e no mundo. “Tudo o que aqui está foi recolhido por nós, de casa em casa, junto de pessoas que nos contactaram para recolher coisas velhas, que já não querem”, explica o Humberto (assim mesmo, que neste movimento só o primeiro nome conta) à Agência ECCLESIA. Confessa que a maior parte das coisas são “lixo”, mas o que sobra, depois de limpo e restaurado, vale muito para aqueles que a sociedade deixou à margem. A grande maioria das pessoas que abordámos parava fascinada pela hipótese de encontrar uma relíquia qualquer, a preço de ocasião. O próprio Humberto confessa que as perguntas não são muitas – a maioria das pessoas nem sonha de onde veio tanta coisa, e que muito mais ainda está em Caneças. O dinheiro que vai ser recolhido nestes dias vai alimentar essa comunidade, mas também uma série de projectos de solidariedade, numa lição que os que menos têm dão ao resto do mundo: 2500 Euros para as vítimas dos incêndios do passado verão, 25000 Euros para Moçambique e Timor Leste (em colaboração com as irmãs Concepcionistas) e 15000 Euros para a Guiné-Bissau. Outra parte segue para a associação “Emmaüs International”, fundada em 1971. Um resultado positivo é absolutamente necessário, tanto mais que as comunidades deste movimento não recebem nenhum tipo de subsídio, por opção. O ensinamento do Abbé Pierre diz que o dinheiro não faz o homem grande, mas que os grandes homens conseguem tudo, mesmo o dinheiro necessário. O Humberto não esconde a sua admiração pela figura fundadora. O momento é particularmente significativo, dado que passam 50 anos sobre o grito do “Abbé Pierre”, a denunciar que nem todos têm está garantido o direito a uma habitação digna. No passado dia 28 de Janeiro o apelo foi repetido, falando-se de uma “crise sem precedente na habitação” e apelando-se à responsabilidade de cada cidadão para com os desalojados e marginalizados. QUEM É O ABBÉ PIERRE? Heni Grouès é o quinto filho de uma família de cinco rapazes. Nasceu no dia 5 de Agostp de 1912 em Lyon. Quando tinha 15 anos, no decurso de um congresso de jovens cristãos em Assis, sentiu “a emação indescritível” da revelação. Em 1938 entrou no convento dos Capuchinhos, onde passou a chamar-se “Padre Filipe”, tendo sido ordenado em 1938. Trabalhou na catedral de Grenoble e na Alsácia, antes de se empenhar na Resistência durante a II Guerra Mundial – período em que ajudou muitas pessoas a fugir para a Suíça, sendo conhecido, na resistência, como “Abbé Pierre”. Em Novembro de 1949 fundou a associação Emaús, uma comunidade que se consagra à construção de casas provisórias para sem-abrigo, financiada pela revenda de objectos de recuperação. O Movimento de Emaús abarca hoje 84 comunidades em que vivem e trabalham mais de quatro mil pessoas, em trinta países dos cinco continentes. Comendador da Legião de Honra, o Abbé Pierre é uma personalidade que muitos franceses apreciam pelo seu compromisso com os mais pobres. A COMUNIDADE DE CANEÇAS O movimento Emmaús, após procurar uma casa abandonada, uma fábrica em ruínas ou um armazém fora de serviço, acabou por encontrar um local na Quinta das Lages. A primeira comunidade Emmaús em Portugal foi crescendo, de modo a oferecer a cada Companheiro um espaço para se reencontrar e partilhar. Hoje em dia tem capacidade para acolher 30 pessoas, embora o Humberto assinale que a casa não está cheia. “Embora a situação esteja melhor, em termos materiais, a solidão é um problema cada vez maior e isso que nós procuramos resolver”, assinala. Lamenta que muitas pessoas não saibam que é fácil ajudar, oferecendo as coisas que não querem. O endereço é Estrada do Lugar de Além, 16 – Caneças; tel. 219800038. E como os próprios dizem, “recolhemos tudo o que não precisa”. A outra comunidade Emmaús em Portugal fica no Porto, na Rua Lindo Vale, 193; tel. 225509501. Esta instituição foi fundada há pouco, organizando-se de forma semelhante ao movimento iniciado em França, para acompanhamento da gente que faz da rua a sua casa.

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