Fé e ética na vida pública

Tem o cristianismo algo a dizer na vida pública actual? De que modo podem (e, às vezes, devem) os cristãos participar nessa vida pública, que engloba a política, mas também outras esferas, como a social e a cultural? Que critérios éticos utilizar? Questões como estas são abordadas num livro do jovem teólogo espanhol Francisco José Alarcos Martinez, que a Gráfica de Coimbra editou na tradução portuguesa de Margarida Maria Osório Gonçalves e cuja leitura aconselho. A Ética na Vida Pública, assim se chama o livro, começa por analisar a “crise da modernidade”. Modernidade que remeteu a religião para a esfera privada da vida humana – muitas vezes, é certo, com a ajuda dos crentes, ao perfilharem uma visão da fé puramente individual, intimista, desprovida de dimensão social e de exigências éticas quanto ao bem comum da sociedade. Na linha do Concílio Vaticano II, Alarcos Martinez propõe uma intervenção cristã na vida pública, de maneira a que, aí, “a fé não seja algo irrelevante e privado”. Concretamente, “uma fé que tenha relevância pública e social, rejeitando aquela que era entendida como assunto exclusivamente privado e pessoal, cuja única manifestação social era a liturgia”. Isto, porque “o público e o social são, para a fé, ocasião de expressão e de exercício da caridade”. Numa sociedade pluralista como é a nossa, a participação dos cristãos não deve fazer-se através de partidos confes-sionais: os próprios cristãos dividem-se legitimamente nas suas opções político-partidárias. O processo é mais complexo e exige uma ética pública, além de uma “teologia política”. E requer, antes de mais, uma ideia clara por parte dos cristãos sobre a sua própria identidade – aquilo que é específico da sua fé e coloca desafios éticos adicionais. Não se julgue, porém, que este livro se ocupa apenas de princípios teóricos na sua abordagem da dimensão pública da fé. Há uma preocupação pastoral, prática, que é tema do seu quarto e último capítulo. O que reforça o interesse e a utilidade deste livro, hoje, em Portugal. Francisco Sarsfield Cabral (Director de Informação da Rádio Renascença)

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