Fé e Cultura no Centro

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o Pe. Alexandre Cruz adianta as razões para a presença da Igreja Católica no mundo académico, atenta a professores e alunos. É Director do Centro Universitário Fé e Cultura. Nas actividades que promove faz transparecer o Evangelho e cria pontes entre a fé e a razão. Em entrevista à Agência ECCLESIA, o Pe. Alexandre Cruz adianta as razões para a presença da Igreja Católica no mundo académico, atenta a professores e alunos. Agência ECCLESIA (AE) – Em que medida é importante este serviço da Igreja no mundo universitário? Pe. Alexandre Cruz (AC) – Onde está a comunidade humana e onde habita a sociedade, a proposta do sentido religioso deve ser inerente. Descendo à realidade temos de nos aperceber que mais de 400 mil estudantes estão permanentemente em estabelecimentos do Ensino Superior. Uma percentagem grande da população nacional. Onde estão pessoas a estudar, estão os futuros profissionais por isso toda a formação humana é essencial. Estamos em contextos sociológicos diferentes, outrora as propostas de fé não eram tanto propostas mas imposições. O tempo é outro e desafia-nos à criatividade e a estimular a vida no seu sentido mais pleno. A estimular a outra face da vida. O processo de Bolonha – a licenciatura passa para três anos – desafia os agentes da Pastoral Universitária à participação e à dinâmica. Todo o contexto do Ensino Superior é um terreno onde é importante ir semeando conteúdos para além da dimensão profissional. AE – Com o Processo de Bolonha a Pastoral Universitária é “obrigada” a alterar a forma de lançar as sementes? AC – Não sei se os serviços mudam a sua táctica e estratégia pelo facto das licenciaturas deixarem de ter 5 anos e passarem a ter 3 anos. Com três anos, a premência e a urgência de despertar para a participação – em contextos sociológicos onde o indiferentismo é frequente – é fundamental. É essencial procurar despertar os estudantes, professores e funcionários. AE – Que lugar ocupa o corpo docente na Pastoral Universitária? AC – Há o esforço de convidar os professores para intervenções de conteúdos mas também integrá-los nas equipas de Pastoral Universitária. Estamos num mundo pós 11 de Setembro que colocou no mapa toda a dimensão fenomenológica, filosófica, sociológica e religiosa. Temos de perceber o que habita a consciência da humanidade. AE – A forma como lançam as redes tem em conta o percurso dos jovens ou vão ao encontro daqueles que estão a zero? AC – Hoje dizemos Pastoral de Juventudes e não Juventude por isso, neste contexto do ensino superior, há uma pluri-vivência de formas. Como os caminhos são múltiplos vamos ao encontro de todos. A Pastoral Universitária é diferente das outras formas de pastoral porque é Pastoral de ambiente. Temos actividades com sucesso e outras onde existe o reverso da medalha, que é a indiferença e a apatia. AE – Como se faz a primeira abordagem? AC – Não há fórmulas mágicas. Naturalmente que todas as componentes – a primeira é a dimensão pessoal – são essenciais. Por outro lado há a dimensão do que se vê e o procurar despertar motivações de quem tem sede e quem vem à procura. A nós compete-nos fazer com que elas se prolonguem no tempo e na participação. Há um elemento que é necessário redescobrirmos: o gosto de viver o sentido da vida e da fé cristã. O cristão tem de descobrir as cores da sua fé. AE -Ao longo do ano, que actividades propõe a Pastoral Universitária de Aveiro? AC – Primeiro escutamos o que poderá ser interessante e estimulante. Depois, em sintonia com aquilo que a comunidade pretende – tendo em conta a identidade de cada serviço – propomos algumas áreas. Numa dimensão de rede e parceria alargada entre instituições e serviços apostamos em sete palavras chaves. A primeira é o acolhimento porque este deve ser estimulante para favorecer a participação e as vivências. A segunda traduz-se em quatro palavras: animação, arte, cultura e ciência. Neste sector de propostas incluem-se as conferências, semanas de arte, oficinas e vários workshops. Uma procura de descoberta com as várias comunidades. Muitas vezes corre-se o perigo de apresentar uma proposta de fé para o século XXI como, porventura terá sido apresentada há mil anos atrás. Não pode ser. Temos que mudar a forma. O essencial é o Evangelho mas, actualmente, Ele tem outros rostos e outros nomes. É fundamental assumir a dimensão da transdiscipli-naridade. Deus ama a ciência só que, na nossa dimensão de frases feitas e de horizontes sem horizontes, não notamos isso. Fala-se na nova evangelização e nova linguagem mas estamos a enganar-nos a nós próprios porque não queremos mudar, rever dogmas e fazer um confronto com as ciências humanas com a revelação cristã. Falamos de novas linguagens e novos dinamismos mas continuamos a transmitir e viver de forma antiga. Só com humildade percebemos que ciência não é tudo e não tem as soluções para a humanidade. Muitas vezes somos os primeiros a criar o divórcio entre a fé e a ciência. O terceiro termo é saúde e estar bem. Aqui apostamos na dimensão antitabágica e formação nos primeiros socorros. Iniciativas que vão ao encontro da área da saúde. O quarto elemento é a formação humana. Fazemos curso de auto-conhecimento, de cidadania e de educação. A quinta palavra chave é a formação teológica. A Teologia Cristã, a perspectiva ecuménica e o diálogo inter-religioso. Nos últimos anos fizemos sempre conversas com diferentes líderes das grandes religiões. O sexto ponto é a celebração. A dimensão das caminhadas no ritmo litúrgico e bênção dos finalistas. Por último temos os projectos de volun-tariado universitário. Nestes projectos estabelecemos parcerias e fazemos alguns programas de voluntariado: explicações, Florinhas do Vouga, Hospitais, ATLs, Lares de Idosos, Prisões, Pessoas com Deficiência, Cáritas Diocesana e Protecção e Qualidade de Vida Animal. AE – Uma panóplia de actividades? AC – É um caminho de vida e de fé. AE – Os jovens universitários de Aveiro têm tempo para participar nas actividades? AC – A participação é a grande dificuldade. Temos níveis diferentes de participação mas o castelo constrói-se a partir da base. Este terreno tem de ser explorado porque é aqui que estão os futuros profissionais. É aqui que se deve semear para mais tarde colher.

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