Faz-te ao largo: lança as redes da cultura da vida

“Faz-te ao largo”: lança as redes da cultura da vida A página do Evangelho que escutámos é-nos tão familiar que, porventura, já não nos surpreende. E, no entanto, é cheia de surpreendente beleza e actualidade. A pesca miraculosa e superabundante é símbolo da missão dos apóstolos e da Igreja, ao longo dos tempos, com as suas grandes questões e dificuldades. A própria barca é uma metáfora muito bela não só da nossa condição humana, mas também da Igreja que atravessa o mar imenso da história. “À Tua Palavra lançarei as redes” Jesus sobe para a barca e quer embarcar connosco ao longo da nossa vida. Toma o seu lugar e alimenta o povo com a Sua Palavra de vida. Eis a imagem da comunidade cristã que vive a sua fé pondo no centro a Palavra de Deus, isto é, Jesus como Palavra de revelação e de salvação. E na força desta Palavra é enviada em missão: “Faz-te ao largo”… “À Tua Palavra lançarei de novo as redes” – responde Pedro. A Palavra revela-se eficaz, portadora de frutos, de abundância de vida numa pesca abundante. É a Palavra de Jesus que enche as redes e que torna eficaz o trabalho apostólico. Com o sopro do Espírito, a Palavra impulsiona as velas da barca da Igreja e dá-lhe força e coragem para olhar em frente e realizar a missão confiada a Pedro de “ser pescador de homens”, isto é, de ir ao encontro dos que têm necessidade de ser amados e de ser salvos de morrer afogados no mar da opressão, do egoísmo, da injustiça, do sofrimento, da escuridão, do medo de viver e da morte. “Faz-te ao largo”: lança as redes da cultura da vida, em profundidade “Faz-te ao largo”: é o convite poderoso que o Senhor nos dirige hoje para enfrentarmos os desafios da evangelização no terceiro milénio, as grandes responsabilidades da hora presente, entre as quais o anúncio renovado do Evangelho da vida. “Faz-te ao largo” e lança as redes em profundidade: especialmente nas águas profundas da cultura de hoje marcada por um vazio de sentido, onde faltam referências fundamentais para o viver comum, e por visões fragmentárias do ser humano que o deixam fragilizado no amor e na paixão pela vida humana. Uma situação que nos interpela “a abrir o coração aos outros, reconhecendo as feridas provocadas à dignidade do ser humano; a combater qualquer forma de desprezo da vida e de exploração da pessoa; e a aliviar os dramas da solidão e do abandono de tantas pessoas” (Bento XVI). Toda a vida pede amor! “Faz-te ao largo” e lança as redes em profundidade: é o convite a sair da superficialidade e a ir ao mais profundo de nós mesmos, do nosso coração e da nossa consciência e a perguntarmo-nos: amo e respeito verdadeiramente a vida humana? O nosso tempo, a nossa cultura, a nossa nação amam verdadeiramente a vida? Quem ama a vida, de facto, não a tira mas dá-a. Amar a vida significa não negá-la a quem quer que seja, nem sequer ao mais pequeno e indefeso nascituro. Nenhuma vida humana, mesmo no seu primeiro desabrochar, pode ser considerada de menor valor ou disponível como um objecto descartável. É necessária uma decidida viragem cultural para percorrer o caminho virtuoso do amor solidário à vida humana! Sim, a vida humana é uma aventura para pessoas que amam sem reservas e sem cálculos, sem condições e sem interesses. Mas é, sobretudo, um dom em que reconhecemos o amor do Pai e a alegre responsabilidade pelo seu cuidado e pela sua protecção, particularmente quando é mais frágil e indefesa. Amar a vida é então empenhar-se para que cada homem e cada mulher acolham a vida como dom, a guardem com amorosa solicitude e a vivam na partilha e na solidariedade. “Ó Maria, Mãe de Jesus e Mãe nossa, confiamo-nos a Ti, queremos deixar-nos conduzir por Ti; e o Teu Coração terno e materno, o Teu Imaculado Coração, nos inspirará a amar, proteger, cuidar, defender e servir toda a vida humana. Ámen!” +António Marto, Bispo de Leiria-Fátima Santuário de Fátima, 4 de Fevereiro de 2007

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