Fátima quer olhar para cada peregrino

Entrevista ao coordenador do programa dos “90 anos das Aparições” O responsável pelo Secretariado do programa dos “90 anos das Aparições” de Fátima, o Pe. Armindo Janeiro, conversa com o Programa ECCLESIA sobre o início das comemorações e a importância de acolher cada peregrino e não as multidões, em abstracto. ECCLESIA – As Jornadas “O Santuário, iniciativa divina em favor dos homens” dão início a estas celebrações dos 90 anos das Aparições. É uma área que quer marcar a actividade do Santuário? Pe. Armindo Janeiro – Esta é uma dimensão fundamental do próprio homem em relação a Deus. A iniciativa é de Deus, em todos os momentos, desde o pensar em nós, dar-nos a vida, sonhar connosco uma história, um futuro. É Ele que está sempre primeiro. O homem está ao nível da resposta, o que a gente mais pode ansiar é assumir esta proposta. Se é de amor, que se responda em amor. Esta temática é colocada no início das comemorações dos 90 anos porque há uma série de acontecimentos que se cruzam, em especial a trasladação da Irmã Lúcia, que acreditou nesta Mensagem com a sua vida, empenhou-a toda. Ela é um exemplo, um testemunho belíssimo para nos falar do que é a resposta aos apelos, aos convites que Deus nos faz. Por isso, damos também uma perspectiva pedagógica às próprias celebrações, para que a gente veja que cada um de nós responda à proposta que Deus nos faz, convidando-nos para a sua intimidade. E – Esse é um desafio para todos os Santuários… AJ – Sim, alargando o nosso horizonte, vemos que Fátima se inscreve no seio do mistério cristão, ou seja, todo esse mistério é uma proposta de Deus. O que é importante é que se responda a essa proposta, que o Amor seja amado, como diziam os místicos. E – Para além da resposta a Deus, o Santuário tem ainda a missão de dar resposta aos muitos que ali chegam. Como? AJ – Essa é a segunda dimensão do acolhimento: as Jornadas Nacionais sobre Acolhimento eram abertas a toda a gente, mas especialmente pensadas para aqueles que, no Santuário de Fátima, são o rosto do acolhimento, os acolhedores. Os capelães, em primeiro lugar, porque são eles os nomeados pela sua Diocese, para estarem aqui. Depois toda a quantidade imensa de servidores do Santuário – sejam eles voluntários, sejam assalariados – que, de uma maneira ou de outra, interpretam este sentir da Igreja em relação ao acontecimento de Cristo e, depois, do sentimento da Igreja quando reconhece aquilo que acontece aqui, em Fátima. Eles são os primeiros a entender este apelo e, ao mesmo tempo, porque estão em contacto directo com os peregrinos que aqui chegam ou outros visitantes, turistas, são o rosto deste Santuário. O que se pretende é que este rosto esteja ao nível da proposta que é aqui feita e sejam eles mediadores, intermediários, para que se dê o tal encontro, a céu aberto, entre tantos. Nas Jornadas foi dito, e bem, que aqui não há multidões. Há muita gente, porque todos fomos chamados pessoalmente e cada um vem a Fátima por uma razão própria – somos muitos e tornamo-nos multidão, mas cada um vem com a sua história, com o seu drama, com o seu motivo de louvor e também de petição. É este encontro que gostaríamos de proporcionar de forma mais séria, cada vez melhor, de modo a chegar mais profundamente à vida das pessoas, iluminado pelo Mistério de Cristo. E – Há a vontade de fazer que os serviços do Santuário sejam mais uniformes? AJ – Sendo as Jornadas para os acolhedores, é normal que sejam eles os protagonistas da reflexão sobre o próprio acolhimento, que nos pode levar à própria mudança. Implicados na reflexão mais facilmente podemos evoluir e melhorar, porque é disso que se trata. E – O que pode mudar em Fátima após a trasladação da Irmã Lúcia? AJ – Isso só Deus saberá. Aqui em Fátima, a Igreja esperou até ao limite para que os factos falassem por si. Procurou ser o mais cautelosa possível e esse critério será mantido. Em relação à Irmã Lúcia, a Igreja deixará falar o sentir do Povo de Deus e se este intuir a santidade, como parece que está a fazer, isso será reconhecido, a seu tempo, com os meios que são conhecidos por todos. E – Esperam-se mais peregrinos no Santuário… AJ – Esse é um dos sinais da santidade reconhecida da pessoa em causa. Já se dizia nos Actos dos Apóstolos que o que é de Deus seguirá o seu caminho, independentemente do que outros acharem. Acredito que se houver densidade de santidade, o Povo de Deus dará a sua chancela, confirmando o que já é o pressentimento de muitos. E – Qual é o objectivo do programa das comemorações dos 90 anos das Aparições? AJ – O que pretendemos com esta cerca de meia centena de iniciativas, em três grandes áreas – estudo e reflexão; manifestações artísticas; oração e meditação – é que, de alguma maneira, este apelo a uma resposta que esteja à altura da proposta que Deus nos faz possa brotar do coração daqueles que sentem que, de facto, Fátima exige alguma coisa.

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