Pandemia veio «mostrar a necessidade de encontrar soluções para todos», disse D. José Ornelas
Fátima, 13 out 2020 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) reforçou hoje em Fátima os seus alertas contra os “movimentos populistas”, sublinhando a necessidade de encontrar soluções comuns para superar a crise provocada pela pandemia.
“Vivemos num tempo em que movimentos populistas manipulam a nostalgia do passado, o medo real e imaginário, o perigo do estrageiro, do que pensa diferente, que usam a ganância de possuir e dominar e até usam o nome de Deus e modelos religiosos para os seus interesses”, disse D. José Ornelas, na homilia da Missa internacional aniversária do 13 de outubro.
O bispo de Setúbal questionou as políticas de “muros”, na linha do que escreveu o indica o Papa Francisco na sua última encíclica ‘Fratelli Tutii’, considerando que se “exacerbam nacionalismos egoístas e conflituosos” e se impedem “consensos mundiais para encontrar soluções para os problemas de todos, como a pobreza, a injustiça, a guerra e a depredação do planeta”.
“Este não é certamente o projeto de Deus nem o caminho que Maria nos indica. Não é deste modo que se constrói a Igreja, casa de Deus para a humanidade”, advertiu.
O responsável sublinhou a situação provocada pela Covid-19 e destacou a necessidade de soluções que contem com a participação de todos.
“A pandemia veio tornar mais visíveis estes problemas, como todos sabemos. Estamos no mesmo barco: ou nos ajudamos para nos salvarmos todos ou o barco afunda-se”, indicou.
Já na última noite, durante a celebração da vigília no Recinto de Oração, D. José Ornelas tinha alertado contra atitudes “manipuladoras e populistas” que têm emergido no atual contexto pandémico.
Pedimos a Maria, nossa Mãe e modelo da Igreja, que esta nossa casa, a casa de Deus, seja verdadeiramente a casa da humanidade, onde possam crescer a fraternidade, a dignidade e a justiça”.
O presidente da peregrinação internacional sublinhou uma celebração “muito contida” do 13 de outubro, no que diz respeito à presença de peregrinos.
Tendo em conta a situação epidemiológica atual, o Santuário de Fátima decidiu restringir o acesso dos peregrinos, limitando o número de participantes, com uso obrigatório de máscara e delimitação do espaço, para criar perímetros de segurança.
“Todos sabemos que essa forma mais atenta e cuidosa provém de uma atitude necessária e responsável perante os condicionalismos da pandemia, que veio alterar radicalmente toda a vida da humanidade, sobretudo nos modos de relacionamento entre as pessoas. Trazemos a esta santuário as dores nossas e da humanidade, pedindo luz e força para vencermos esta pandemia”, declarou o presidente da CEP.
“Deus não está longe. Ele não se alheia dos nossos percursos, da nossas dores, das nossas lutas, das nossas esperanças”, acrescentou.
A homilia evocou a última aparição da Virgem Maria na Cova da Iria, em 1917, e o aniversário da dedicação da Basílica de Nossa Senhora do Rosário, apresentada como sinal da dimensão internacional que assumiu o Santuário de Fátima.
D. José Ornelas realçou que santuários e igrejas, paróquias e comunidades devem ser “lugares de relação e de comunhão”, como “casas de Deus no meio da sociedade”.
“A Igreja enche-se de filhos e filhas gerados pelo seu Espírito, que se tornam irmãos e irmãs, porque têm o mesmo Pai do céu, independentemente da sua origem, da sua raça, da cor da sua pele e do seu estado social. Esta é a semente do mundo novo, o modelo fundamental da Igreja”, precisou.
Durante a Missa do 13 de outubro, os participantes rezaram, em várias línguas, pelos doentes e as vítimas desta pandemia e das suas consequências físicas; pelos trabalhadores e empresários, que enfrentam uma nova crise económica; e pelos “refugiados, marginalizados, oprimidos e por todos os que a sociedade abandona à sua sorte”.
A peregrinação internacional aniversária de outubro decorreu com conjunto de medidas adicionais, reforçando o plano de contingência em tempo de pandemia para o Recinto de Oração.
OC
O espaço do Santuário conta, desde a última semana, com marcações no solo, delimitando áreas circulares de ocupação para cerca de 6 mil pessoas, numa área útil de 48 mil metros quadrados.
O acesso ao Recinto de Oração é feito por oito entradas, com a ajuda de vigilantes e acolhedores; as deslocações no interior só podem ser feitas nos corredores assinalados. Quanto ao fluxo de peregrinos no exterior do Recinto de Oração, a sua gestão é da responsabilidade das forças de segurança, nomeadamente a GNR. Durante a Missa, foi evocado o 108.º aniversário da Guarda Nacional no distrito de Santarém, com uma oração para que “cada um dos seus militares constitua, permanentemente, um exemplo de dignidade, de conduta social, de relações humanas e solidariedade para com o seu semelhante”. |