Fátima: «Na Ásia, budistas, hindus, cristãos, muçulmanos, todos amam as peregrinações» – D. Luis Antonio Tagle

Cardeal de Manila preside às celebrações deste ano dos dias 12 e 13 de maio, na quarta deslocação ao Santuário da Cova da Iria

Foto Vatican Media

Lisboa, 11 mai 2019 (Ecclesia) – O cardeal Luis Antonio Tagle, que preside este ano à peregrinação internacional aniversária de 12 e 13 de maio, diz que vir ao Santuário de Fátima “é como regressar à infância”num país onde “todos amam as peregrinações”.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, antes do início das celebrações na Cova da Iria, o também presidente da Cáritas Internacional fala da sua relação pessoal com Nossa Senhora de Fátima, e a importância que tem no seu país; aborda as razões pelas quais este é um destino cada vez mais querido para os povos asiáticos e refere a mensagem que vai querer deixar aos fiéis nestes dias.

“Lembro-me que quando era criança, em Manila, a primeira oração que aprendi, além do Pai-Nosso, foi a Avé Maria. Os mais novos aprendiam a rezar o Rosário e andavam de casa em casa a levar esta oração aos vizinhos”, recorda D. Luis Antonio Tagle, para vincar “a grande devoção a Nossa Senhora que existe na sua terra natal”.

Neste ambiente, havia “quase sempre uma imagem de Nossa Senhora de Fátima”, o que levou o cardeal filipino a crescer também nesta devoção e a vir à Cova da Iria logo que teve oportunidade.

“Esta será a minha quarta vez em Fátima”, refere o arcebispo de Manila, de 61 anos.

Sobre o que é que o atrai na espiritualidade de Fátima, D. Luis Antonio Tagle destaca uma mensagem de paz e de comunhão “muito apropriada e necessária para este tempo”.

Numa era em que “a violência se está a propagar um pouco por todo o mundo”, numa sociedade marcada pelo “medo de quem é diferente, de quem é estrangeiro”, onde existe tanto “preconceito”, e “tanta divisão, entre ricos e pobres”, é “fundamental que as pessoas redescubram os laços que têm em comum”, salienta aquele responsável.

Um repto que marca também o tema deste ano da peregrinação dos dias 12 e 13 de maio e que o cardeal de Manila vai “querer sublinhar”.

“Temos um mundo onde a comunhão entre as pessoas se está progressivamente a desintegrar e a mensagem aqui para esta festa é a de que somos um só povo, todos viemos do mesmo Deus, que nos criou iguais, como irmãos e irmãs”, reforça D. Luis Antonio Tagle, que deixa para já uma interpelação:

“Será que conseguimos voltar a ser um só povo novamente? Também nós cristãos, católicos, todos quantos irão participar nesta festa? Espero que todos recebamos esta mensagem, de sermos agentes de comunhão e de solidariedade, e construir um mundo onde possamos dizer: aqui estou seguro porque estou rodeado de irmãos e irmãs”, exortou.

De há algum tempo para cá, tem-se verificado um crescimento acentuado no número de peregrinos asiáticos que vêm ao Santuário de Fátima.

Só nos primeiros meses de 2019, e estes são apenas os números registados no Serviço de Apoio ao Peregrino do santuário mariano português, acorreram à Cova da Iria quase dois mil peregrinos asiáticos, com destaque para países como a Coreia do Sul, o Sri Lanka e também as Filipinas.

“Eu venho aqui não apenas por mim mas também em nome de muitas comunidades filipinas”, reconhece o cardeal de Manila, que inclusivamente recebeu muitos pedidos de familiares e amigos para que “reze por eles a Nossa Senhora de Fátima”.

Foto: Lusa

Para o cardeal filipino, a grande razão para este amor que os povos asiáticos têm por Fátima está precisamente nesta “linguagem da peregrinação”, que é “muito querida” para as populações da Ásia, independentemente da religião em causa.

“Budistas, hindus, cristãos, muçulmanos, na Ásia todos amam as peregrinações. E ir para Fátima é uma linguagem que muitos não cristãos conseguem entender. Com uma mensagem de conversão, de paz e de oração. Acho que é algo com que os povos asiáticos facilmente se identificam”, defende D. Luis Antonio Tagle.

A afluência crescente de peregrinos asiáticos ao Santuário de Fátima tem-se refletido também ao nível da presidência das celebrações, nos últimos anos, numa aproximação à Ásia.

Em 2018, o cardeal John Tong, bispo emérito de Hong Kong, foi o primeiro responsável católico chinês a presidir a uma peregrinação internacional aniversária em Fátima, e em outubro as cerimónias contaram com a presença do bispo de Hiroxima, no Japão, D. Alexis Mitsuru Shirahama.

Para outubro deste ano, está prevista a vinda a Fátima do arcebispo de Seul, na Coreia do Sul, o cardeal Andrew Yeom Soo-Jung.

“Durante muitos anos o cristianismo foi associado à Europa, há mesmo a tendência entre certas comunidades asiáticas para se dizer que para serem cristãs primeiro tê de se tornar europeias. Mas Jesus é universal, e o Evangelho pode ser transmitido em linguagens, em imagens mais próximas das populações asiáticas”, conclui o arcebispo de Manila

JCP

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Agência ECCLESIA

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