Fátima: «É preciso ver a Igreja no mundo, identificada com os problemas reais das pessoas e da sociedade», defende bispo de Angra

D. Armando Esteves Domingues presidiu à Eucaristia da peregrinação da Família Espiritana à Cova da Iria, pedindo profetas «capazes de tocar e curar as feridas da sociedade»

Foto: Santuário de Fátima (imagem de arquivo)

Fátima, 08 jul 2024 (Ecclesia) – O bispo de Angra defendeu este domingo, na celebração eucarística da Peregrinação Nacional da Família Espiritana a Fátima, uma Igreja mais próxima dos problemas reais das pessoas e da sociedade.

“É preciso ver a Igreja no mundo, identificada com os problemas reais das pessoas e da sociedade, misturada com as injustiças e desigualdades que são fruto também da sua ação ou inação e tudo fazer para haja igualdade de direitos e deveres para todos”, afirmou D. Armando Esteves Domingues, pedindo profetas “capazes de tocar e curar as feridas da sociedade”.

“Profetas como os que, em todas as épocas, saíram do seu comodismo, por amor a Deus e aos irmãos”, realçou, na homilia enviada à Agência ECCLESIA, na missa a que presidiu no recinto do Santuário da Cova da Iria.

Com o lema “Orar, repartir, servir”, a família missionária espiritana realizou a 44º peregrinação à Cova de Iria, este sábado e domingo, que culminou com a Eucaristia, na qual o bispo de Angra deixou algumas questões.

Perguntemo-nos: há saúde igual, médico de família, etc. para todos?; há acesso a uma justiça igual para todos, todos, todos?; há acesso à educação igual para todos ou continuamos com escolas de ricos e pobres e regiões do país descriminadas?; há habitação digna, trabalho justo e bem pago ou exploração?; há proteção suficiente à família, também nos horários laborais, na defesa do domingo como dia de descanso e da família?;  para quando o esforço sério pelo fecho das grandes superfícies ao domingo?”, interrogou.

Segundo D. Armando Esteves Domingues, estas e outras “deveriam ser lutas proféticas de todos os cristãos para a defesa da vida concreta das pessoas”.

“Precisamos de cristãos profetas em todos os lugares, que tomem posição, sejam interventivos, sobretudo onde se jogam os direitos que são de todos, todos, todos!”, destacou.

Na homilia, o bispo diocesano questionou “onde andam os profetas instituídos no Batismo e Confirmação, no Matrimónio e Ordem”, referindo que Deus conta com todos como são, “gente normal e com defeitos”.

“É aí que somos chamados a reconhecer o Deus cristão: na ordinariedade de uma humanidade que a fé sabe abrir a uma outra dimensão, a ponto de ver nessa existência profundamente humana a narrativa do amor do Pai pela humanidade. O Deus cristão salva a humanidade partilhando a sua normalidade e dando assim sentido à nossa normalidade”, salientou.

D. Armando Esteves Domingues lamentou que também hoje, tal como os contemporâneos, as comunidades passam ao lado de Cristo e “não O reconhecem na pessoa do irmão”.

Apelando por um alargamento dos horizontes de missão, o bispo citou palavras do Papa Francisco: “Prefiro uma Igreja magoada, dorida e suja porque andou pelas ruas do que uma Igreja doente porque está confinada e agarrada à sua própria segurança. Não quero uma Igreja preocupada em ser o centro de tudo e que acaba presa num emaranhado de obsessões e formalidade”.

D. Armando Esteves Domingues sublinhou que “a Igreja não é uma elite, mas um povo a caminho, peregrino”.

“Buscamos, muitas vezes a utopia de pessoas intocáveis, completamente formadas, santas, para a missão. Vivemos a utopia de grupos fechados para a própria santificação, quando ser santo sempre implicou ter o olhar de Jesus e sair para servir a todos como irmãos”, acrescentou.

No final da homilia, o bispo de Angra evocou os Missionários do Espírito Santo e toda a família que, “com o coração aberto a toda a humanidade, são de todos, todos, todos, não ocupam espaços ou lugares, mas vivem para alargar o reino”.

“Damos graças a Deus pelo seu grande trabalho ao serviço das missões, sobretudo em países de língua portuguesa, e rezemos por todos eles, padres ou leigos, consagrados ou até casados, para que nos digam com a vida que a missão nasce da oração e que o serviço começa com o repartir do que temos e somos”, pediu.

“Partilhamos da vossa alegria por serdes, desde a fundação, uma Palavra Nova pronunciada pelo Espírito Santo para o bem dos pobres de bens e de Deus. Continuai fiéis ao vosso Fundador e seus continuadores”, completou.

D. Armando Esteves Domingues encerrou a celebração com uma frase do Beato Carlo Acutis, que vai ser um dos novos 15 santos da Igreja Católica.

“Estar sempre unido a Jesus, esse é o meu projeto de vida!”, citou, fazendo um pedido: “Que seja também esta a nossa forma de ser profetas no mundo de hoje, no nosso mundo, com aquilo que temos e somos, e que a Mãe do Céu e Senhora de Fátima nos ensine a construir este mundo de justiça e paz, para ‘todos, todos, todos’; que assim seja”.

LJ/OC

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