Fátima: Comunidade surda peregrina à Cova da Iria pela sexta vez

«Faz-me falta esta peregrinação», diz Amílcar Furtado, de Lisboa

Foto: Santuário de Fátima

Fátima, 13 set 2020 (Ecclesia) – O Santuário de Fátima, com o seu grupo de intérpretes de Língua Gestual Portuguesa, acolhe desde sábado a sexta peregrinação da comunidade surda à Cova da Iria, com um programa específico e participação, pela primeira vez, na Peregrinação Internacional Aniversária de setembro.

“Sinto que a peregrinação é algo que é muito íntimo para mim. O dia 12 e o dia 13 têm bastante interesse para mim, tem um programa bastante especial e, neste momento, sinto que me faz falta esta peregrinação”, disse Amílcar Furtado à Agência ECCLESIA.

O peregrino surdo de Lisboa explica que o que mais gosta em Fátima é a procissão das velas “como sinal de esperança” mas também “visualmente é muito agradável”.

“Desde cedo vinha assistir à procissão das velas em maio e o dia 13 é um dia especial, porque foi o dia em que a minha mãe foi levada para o céu”, acrescentou.

A Peregrinação Nacional da Comunidade Surda é promovida pela equipa de intérpretes de Língua Gestual Portuguesa (LGP) e o Santuário de Fátima desde 2013, quando começou a ser celebrada a Missa dominical das 15h00 com interpretação em LGP, na Basílica da Santíssima Trindade.

“Fátima tem este serviço e acho que é bastante importante. Desde pequenino, a minha família é muito católica praticante mas nunca percebia a informação que era transmitida; A partir do momento em que havia intérprete comecei a ter acesso à informação e consegui perceber o significado daquilo que o padre dizia, das orações, a própria história da Nossa Senhora de Fátima e todas as outras informações”, desenvolveu Amílcar Furtado.

O peregrino surdo de Lisboa vai “transmitir” a informação da Peregrinação Internacional Aniversária de setembro “em gesto internacional” para os peregrinos de outros países, considerando que é algo “muito importante para o santuário”.

O padre Francisco Pereira, membro da equipa da Pastoral da Mensagem de Fátima, refere que o acolhimento que o Santuário oferece aos peregrinos surdos “é uma dimensão da fé, que é levar o Evangelho e levar a mensagem de Nossa Senhora, mensagem de esperança, mensagem de evangélica” ao maior número de pessoas possível.

“Esta peregrinação é uma forma de alargarmos a participação da comunidade surda; É muito importante que se sintam membros da mesma comunidade, que não seja um grupo à parte para quem a gente faz algumas coisas especiais, mas não, fazem parte da nossa comunidade, adaptando-se a eles, às suas particularidades, mas acolhemos, com eles participamos e eles participam connosco”, desenvolveu o capelão do santuário.

Idalina Pinto, peregrina surda do Pombal, participa “habitualmente” na Missa das 15h00, aos domingos, e afirma que na Cova da Iria se sente acolhida: “Porque a informação que me dá e que me transmite é claramente do meu interesse”.

“Havendo intérprete facilita, se não existisse viria apenas em forma de passeio e de visita. Nesse momento, quando tenho interpretação, é um momento que me arrepia, que me emociona”, acrescentou, realçando que a peregrinação da comunidade surda “é muito interessante e muito importante”.

“Estamos todos unidos e isto é que é importante percebermos que somos uma mesma comunidade cristã que se sente acolhida no colo da mãe. Podermos ter assim a comunidade surda portuguesa a participar connosco é uma grande alegria e uma grande motivação para continuarmos a abrir assim as portas, as fronteiras, mesmo com as limitações do Covid-19”, acrescentou o padre Francisco Pereira.

https://www.facebook.com/SantuarioFatima/videos/632276080998225

Joana Sousa, da equipa de intérpretes de Língua Gestual Portuguesa, destaca que este serviço que existe no santuário desde 2013 “é para os 35 mil surdos gestuantes de LGP existentes em Portugal”, que é um número “bastante grande”.

“Finalmente houve oportunidade, e existe oportunidade semanalmente, destas pessoas poderem assistir em pé de igualdade com as outras pessoas ouvintes” à Missa, assinala

Neste contexto, acrescentou que têm “simultaneamente Missa a ser transmitida e falada em português e transmitida em língua gestual”, tanto a parte do presidente da Eucaristia “como da assembleia”, com “dois intérpretes junto ao altar”, algo que, para quem é surdo, “é fundamental que possa saber qual é a resposta e qual é o modelo exato dessa mesma resposta”.

A Peregrinação Internacional Aniversária de Setembro que celebra a quinta aparição de Nossa Senhora aos Pastorinhos, em 1917, integra este ano, pela primeira vez, a sexta peregrinação nacional da Comunidade Surda à Cova da Iria e os peregrinos surdos participaram na oração do Rosário, na noite de sábado, quando um dos mistérios do terço foi recitado em LGP, na Capelinha das Aparições.

CB/OC

 

A primeira peregrinação da comunidade surda realizou-se em setembro de 2015, com cerca de três dezenas de surdos.

Joana Sousa explicou que têm percebido que “os surdos se sentem muito bem com estes momentos” específicos do seu programa onde, por exemplo, podem “finamente fazer a sua confissão coletiva”.

“Uma coisa que não passa pela cabeça do comum mortal é que a pessoa surda também se queira confessar. Existe neste programa específico esse momento de reconciliação, que é dos momentos mais altos desta peregrinação da comunidade surda”, explicou a ex-coordenadora da equipa de intérpretes de Língua Gestual Portuguesa do Santuário de Fátima.

 

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Agência ECCLESIA

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