Oradores nacionais e internacionais refletem sobre o tema «Fátima Hoje: que caminhos?»
Fátima, 22 jun 2019 (Ecclesia) – O eurodeputado Paulo Rangel afirmou que “acolher migrantes mais do que um mandamento é uma obrigação para os cristãos, para a Igreja”, no Simpósio Teológico-Pastoral ‘Fátima Hoje: que caminhos?’ promovido pelo santuário português, até este domingo.
“Cuidar dos refugiados é uma consequência da cultura judaico-cristã. Há um mandato a partir dos textos sagrados para cuidar dos que estão fora, em fragilidade, porque estão fora do seu ambiente natural”, disse o eurodeputado português na primeira conferência do Simpósio Teológico-pastoral.
O Santuário de Fátima informa que Paulo Rangel salientou que “não é estranho” que o Papa Francisco “esteja tão ferozmente ao lado dos migrantes”, “ele segue o Evangelho”, acrescentou
“A Igreja tem de estar do lado dos migrantes porque tem um fundamento teológico para isso. Não se trata de uma consequência pura e simples do mandamento de amor ao próximo; há fundamentos específicos, literais e textuais para fazer do acolhimento dos refugiados uma obrigação para quem é cristão, para quem tem fé”, desenvolveu Paulo Rangel.
O eurodeputado social-democrata que foi convidado para falar do fenómeno migratório na atualidade e disse que hoje têm uma expressão que “condicionam toda a atividade social, política e económica e, sobretudo, a própria convivência”.
Segundo o santuário mariano, a escritora Lídia Jorge abordou as questões inerentes à “viagem” no mundo contemporâneo, que determinam a existência de um novo paradigma de vivência da espiritualidade, que em última análise dispensa Deus.
“O Homo Viator, hoje em dia, continua a procurar a deslocação e a manter o sentido da peregrinação, mas tende a fazê-lo no meio do ruído, num voo rápido entre aeroportos superpovoados, entre horários fixos que se alteram a cada momento, entre solicitações paralelas de toda a natureza, compromissos sobrepostos, exigências e ameaças de falhas tecnológicas de toda a espécie”, desenvolveu.
Para Lídia Jorge o modo de vida “afasta da contemplação” e o Homo Viator de hoje caminha levando na mochila “os mitos que lhe servirão para fazer o que quiser com eles, no seu futuro”.
O diretor da Cátedra Poesia e Transcendência, da Universidade Católica Portuguesa, no Porto, na reflexão sobre ‘A Criação como paradigma da peregrinação’ explicou que isso “supõe” aceitar “que o peregrino toma parte dessa criação continua”.
“O peregrino é alguém em processo de desproteção, que abdica do hiato de tempo e espaço, que abdica do conforto”, disse José Rui Teixeira, referindo que o propósito é “de se deixar encontrar e de se encontrar”.
Par o teólogo e mestre em Filosofia, uma Igreja que “não assume a sua condição peregrina”, acaba por cair no esquecimento e “na vaidade, presa aos males menores” e o pior que pode acontecer é “a Igreja tornar-se um mal menor”.
A investigadora Helena Vilaça apresentou a “pluralização” religiosa do santuário mariano como a principal novidade de Fátima no século XXI, na conferência ‘Fátima: um espaço global e multirreligioso’.
“Vai ser interessante percebermos se a Igreja católica vai continuar a promover uma ação de catequização, mantendo a sua ortodoxia ou se, em nome da globalização, vai começar a incorporar fenómenos mais individualizados de vivência da fé e da espiritualidade”, afirmou a socióloga.
A docente no Departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto indicou uma “reconfiguração de Fátima” que, à semelhança de outros espaços, é lugar de acolhimento de crentes e não crentes, e os dados apontam para “novas tendências em curso” na vivência e experiência do campo religioso e a grande questão é saber qual vai ser o “ percurso de Fátima” na resposta a esta nova realidade.
Segundo a socióloga, Fátima é, no contexto nacional, um “espaço de reconciliação entre as esferas política e religiosa” e afirmou que “tudo está presente em Fátima” – política, sociedade, economia, turismo – que “provoca como que uma “metamorfose” que obriga a pensar “na sua reconfiguração”.
O Santuário de Fátima informa que o vigário geral e moderador da Cúria Arquidiocesana de Braga referiu-se aos santuários como “um ativo económico fundamental” num contexto mais genérico do fenómeno turístico e apresentou os santuários como os grandes responsáveis por essa dinamização.
“Tratando-se de lugares de chegada, o acolhimento é ponto de honra, sendo um cocktail onde se juntam a bonomia, a educação, a simpatia, a compreensão e a generosidade; Quem não tem bom feitio não deve estar à frente de um Santuário nem estar ao seu serviço”, afirmou o padre José Paulo Abreu, o último orador do primeiro dia do Simpósio Teológico-Pastoral, lê-se no sítio online do Santuário de Fátima.
O Simpósio Teológico-Pastoral ‘Fátima Hoje: que caminhos?’ continuam até este domingo, no Salão do Bom Pastor, no Centro Pastoral Paulo VI.
CB
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