Fátima 2017: Canonização de Francisco e Jacinta exigiu «revolução» na Igreja

Pastorinhos são as primeiras crianças não-mártires a ser declaradas como santas

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 11 mai 2017 (Ecclesia) – A canonização dos pastorinhos Francisco e Jacinta Marto, a que o Papa vai presidir este sábado, só foi possível graças a uma “revolução” na prática habitual da Igreja, explica o cardeal português D. José Saraiva Martins.

As duas crianças, as mais novas dos videntes de Fátima, vão tornar-se a 13 de maio os mais jovens santos não-mártires na história da Igreja Católica, 17 anos após a sua beatificação, também na Cova da Iria,

O antigo prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, que acompanhou este processo, recorda que antes da beatificação dos pastorinhos de Fátima, em 2000, a Igreja acreditava que as crianças, devido à sua idade, “ainda não tinham a capacidade de praticar em grau heroico as virtudes cristãs”.

“Eu aqui fiz uma revolução, porque estava convencido de que o Francisco e a Jacinta praticaram as virtudes cristãs que talvez não tenham os adultos”, refere D. José Saraiva Martins à Agência ECCLESIA.

O cardeal dá como exemplo a atitude dos pastorinhos durante os interrogatórios de agosto de 1917, nos quais se mostraram prontos a morrer, recusando mentir.

“Preferir morrer a dizer uma mentira: gostaria de saber quantos adultos teriam esta heroicidade”, realça.

A causa de canonização dos pastorinhos contou, ao longo dos anos, com o apoio de fiéis e responsáveis da Igreja em todo o mundo, que escreveram ao Vaticano para solicitar que o mesmo avançasse.

Foi no pontificado de João Paulo II que se decidiu analisar, com a ajuda de peritos – teólogos, psicólogos, pedagogos – a possibilidade de beatificar crianças que morreram aos 10 e 9 anos, superando a oposição existente.

O processo começou há mais de meio século, já após a trasladação dos restos mortais de Francisco e Jacinta Marto para a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.

A 30 de abril de 1952, D. José Alves Correia da Silva, bispo de Leiria, procedeu à abertura dos dois processos diocesanos sobre a vida, virtudes e fama de santidade de Francisco e de Jacinta, que contou com 140 sessões e 52 testemunhos.

Esta fase diocesana só seria encerrada em 1979, seguindo então para o Vaticano, onde em 1989 o Papa João Paulo II assinou o decreto de heroicidade das virtudes do Francisco e da Jacinta.

“Os decretos das virtudes dos irmãos Marto, e a consequente concessão do título de veneráveis, representam um momento verdadeiramente significativo para a História da Igreja, na medida em que, pela primeira vez, e depois de um longo período de reflexão teológica iniciada precisamente em resposta à Causa dos dois pastorinhos de Fátima, é reconhecida a heroicidade das virtudes e a maturidade de fé de crianças não-mártires, abrindo assim o precedente para que a santidade das crianças seja reconhecida”, refere uma nota do Santuário de Fátima.

Após esta decisão, seguiu-se o necessário reconhecimento de milagres atribuídos à intercessão dos pastorinhos, que levaram à sua beatificação e, agora, canonização, alargando o seu culto para o âmbito universal, na Igreja Católica.

OC

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Agência ECCLESIA

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