Eutanásia/Portugal: Lei aprovada no Parlamento «é perversa» (c/vídeo)

Presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos afirma que, mais do que garantir a morte a pedido, a legislação deveria assegurar «cuidados adequados»

Lisboa, 19 dez 2022 (Ecclesia) – A presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos (APCP) afirmou em declarações à Agência ECCLESIA que lei da eutanásia aprovada no Parlamento “é perversa” por garantir a morte a pedido sem assegurar “cuidados adequados”.

“Estamos perante um texto que quer permitir à pessoa, com uma doença grave e avançada, poder antecipar a sua morte, porque tem um sofrimento que não tolera. A essa pessoa não garantimos os cuidados adequados, mas vamos passar a garantir a morte a pedido”, alerta Catarina Pazes.

A presidente da APCP lamenta que a associação não tenha sido ouvida pelos partidos que tiveram a iniciativa legislativa sobre a despenalização da eutanásia e considera que os cuidados paliativos são a forma de garantir ao doente a decisão sobre o “processo de fim de vida a pedido”.

“Defendemos que o doente deve participar muito ativamente no seu processo de doença, participar nas decisões, quando a sua vida é marcada por uma doença grave. O acompanhamento por cuidados paliativos facilita esse processo de participação, porque garante ao doente maior conhecimento de toda a situação e planeamento para o futuro”, afirma a enfermeira de cuidados paliativos.

Um debate sobre a autonomia e sobre a liberdade tem de implicar toda a vivência do processo de doença e não apenas a escolha sobre o momento da morte, se é antecipada ou não, face àquilo que é a natureza”.

Em entrevista emitida no programa Ecclesia (RTP2) esta segunda-feira, Catarina Pazes alerta que “um doente que está num sofrimento intenso e que pede a morte” justifica “a intervenção de uma equipa especializada em tratar sofrimento” e é obrigação do Estado garantir esse acesso, através de equipas de cuidados paliativos.

A presidente da APCP referiu que perto de 100 mil pessoas necessitam de cuidados paliativos e que apenas 30% desses portugueses têm acesso a esse “tratamento adequado”, ficando o sofrimento dos restantes sem “ser atendido”.

A expressão de ‘desejo de morte’ não significa querer a eutanásia, na esmagadora maioria dos casos. A expressão do desejo de morrer significa um pedido de ajuda, significa que o doente está no sofrimento e não reconhece que este sofrimento esteja a ser atendido”.

Catarina Pazes considera a legislação sobre a eutanásia “extemporânea e incompreensível” e lamenta que a Assembleia da República “tenha assumido esta como uma prioridade” e não enfrente os “problemas gravíssimos” no Sistema Nacional de Saúde para garantir o acesso aos cuidados de saúde “para todos”.

“No contexto que temos, viver no nosso país e ter uma lei da eutanásia, vai ser muito difícil, vai ser impossível proteger os mais frágeis e os mais vulneráveis”, afirmou a enfermeira que há 12 anos trabalha em cuidados paliativos, em Beja, e é presidente da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos.

PR

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Agência ECCLESIA

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