Lisboa, 02 mar 2016 (Ecclesia) – A Associação dos Médicos Católicos Portugueses (AMCP) diz que aprovar a eutanásia seria introduzir no país uma “cultura de morte”, e considera incompreensível este debate quando há pessoas que ainda nem sequer têm acesso a cuidados de saúde.
Para o presidente da AMCP, o que está em causa é um conjunto de pessoas que encontraram “as condições políticas” necessárias para tentar impor “uma nova visão”, assente num “humanismo laico”, e que é “radicalmente diferente daquela que tem sido consensual na sociedade portuguesa”.
Isto abre toda uma “caixa de Pandora” que pode ter “consequências cada vez maiores”, ao nível do modo como se olha para o papel do médico, que “seja em que circunstância for, jamais deve dar a morte ao doente”, e também no plano de como se poderá passar a encarar a “vida humana” e “a doença”, frisa Carlos Alberto da Rocha.
Um grupo de cidadãos da sociedade portuguesa, congregados num movimento intitulado “Direito a morrer com dignidade”, conseguiu reunir as assinaturas necessárias para levar a legalização da eutanásia a debate, no parlamento.
O manifesto da iniciativa, que tem como um dos rostos principais João Semedo, antigo coordenador do Bloco de Esquerda, sublinha as más condições em que se morre em Portugal e defende a despenalização da morte assistida.
Segundo Sofia Reimão, presidente do núcleo da AMCP de Lisboa, é “muito importante clarificar conceitos” e “não esconder o que é proposto”.
“Quando falamos de eutanásia e ouvimos morte assistida, a assistência na morte é exatamente o que nós queremos (…) acompanhar o doente nas suas situações de sofrimento”, salienta.
Aquela responsável prossegue apontando que, com a legalização da eutanásia, o que é é propostos “é que os médicos matem os doentes a seu pedido”.
“E isto não só é contrário à ética médica, à deontologia como é contraditório à função do próprio médico”, complementa.
Sofia Reimão lamenta que “num momento em que Portugal vive uma crise económica complicada, em que os cuidados de saúde são confrontados diariamente com problemas difíceis de resolver, em que não existem ainda cuidados de saúde para toda a população, se esteja a discutir a morte”.
Porque não vemos “iniciativas partidárias, propostas, para alargar os cuidados paliativos” em áreas como “as doenças neuro-degenerativas?”, exemplifica.
A médica recorda ainda que antes de pressupostos como a liberdade e a autonomia das pessoas está “o valor e a indisponibilidade da vida humana”.
Um conceito que não pode ser tido como algo a manter ou a descartar “consoante as fases da vida” ou com base em “critérios utilitaristas e de economicismo que são muito graves”, frisa Sofia Reimão.
A AMCP invoca casos de países como a Bélgica e a Holanda, onde a eutanásia foi aprovada há já alguns anos e onde em 2015 se registaram “mais de dois mil pedidos”.
Esta prática, que começou por envolver “doentes terminais”, progressivamente “foi amplificada a situações de sofrimento psicológico” e a uma conjuntura “onde já não são só os doentes que a pedem mas também as famílias”, explica Sofia Reimão.
“Portanto acho que há algo aqui a aprender e Portugal pode ser pioneiro nesta defesa do valor indisponível da vida humana”, conclui a médica católica.
PR/JCP