Eutanásia: Consultor do Vaticano teme «alargamento das exceções» e fala em resposta desumana para situações de sofrimento

Filipe Santos Almeida, médico no Hospital de São João, lamenta decisão do Parlamento português

Porto, 07 fev 2021 (Ecclesia) – O médico Filipe Santos Almeida, consultor da Academia Pontifícia para a Vida (Santa Sé), disse à Ecclesia e Renascença que a legalização da eutanásia em Portugal abre caminho a um “alargamento das exceções” para esta prática, que considera uma resposta desumana ao sofrimento.

“Quando retiramos um balizamento estruturante da defesa da integridade e da dignidade da vida humana, a partir do primeiro descondicionamento tornam-se fáceis as justificações para um alargamento destas exceções. E isto redundará, certamente, como tem acontecido nos outros países, num acrescento de portas que se abrem para justificar estes pedidos de eutanásia”, refere o convidado da entrevista semanal conjunta que é publicada e emitida a cada domingo.

O profissional do Hospital de São João, no Porto, entende que Portugal não será exceção na denominada “rampa deslizante”, alertando para o alargamento, no futuro, da eutanásia de menores de idade.

“Para os menores, as portas parecem, às vezes, ter uma dimensão menor, como se tivessem menor dignidade. É mais fácil abrir portas mais pequenas do que portas maiores”, aponta.

O especialista em Pediatria e em Cuidados Intensivos Pediátricos pela Ordem dos Médicos assinala, a respeito da sua experiência, que “perante tantas e tantas situações de doenças incuráveis e terminais, muito próximas de morrer e que terminaram efetivamente na morte das crianças”, nunca viu nenhum pai “pedir a morte dos seus filhos”.

As respostas mais fáceis são, de facto, esconder estas situações, anulando-as. Este é o grande problema da eutanásia: é tentar a resposta a situações graves escondendo-as, anulando-as de forma definitiva. É o mais fácil, mas certamente o mais agressivo e o mais horrendo que se pode imaginar para a nossa consciência de humanos”.

O especialista pede um desenvolvimento dos cuidados paliativos, “não como a resposta direta à questão da eutanásia”, mas para oferecer respostas dignas a quem sofre.

“O envelhecimento, a aproximação da debilidade física e corporal não diminui nada o valor, pelo contrário acrescenta; acrescenta ao valor da vida algo que vai por exemplo atrás daquilo que é a necessidade de respeitarmos e atendermos a vulnerabilidade que naturalmente caracteriza este viver no final da vida”, precisa.

A eutanásia, diz Filipe Santos Almeida, não é resultado de “uma sedução pela morte, mas fundamentalmente de uma incapacidade de aguentar a amargura de um viver dorido e sofrido”, a que a sociedade tem de atender com uma assistência adequada.

O responsável admite que muitos profissionais venham a ser objetores de consciência e que esta situação seja prevista na legislação “até para dar uma feição aparentemente mais justa”.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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