Eutanásia: «A minha morte também é tua» – Comissão Diocesana Justiça e Paz de Angra

Organismo realça que «nenhum homem, nenhum Estado tem o direito de eliminar a vida humana»

Angra do Heroísmo, Açores, 18 fev 2020 (Ecclesia) – A Comissão Justiça e Paz da Diocese de Angra escreveu o documento ‘A minha morte também é tua’, sobre a despenalização da eutanásia, no contexto do debate e votação de quatro projetos de lei na Assembleia da República.

“Nenhum homem, nenhum Estado tem o direito de eliminar a vida humana”, lê-se na nota enviada à Agência ECCLESIA.

A Comissão Diocesana Justiça e Paz de Angra explica que a posição da Igreja Católica perante a eutanásia se tem “mantido constante ao longo do tempo” e baseia-se no princípio da “inviolabilidade da vida humana desde o seu início até ao seu fim natural”.

“’Não matarás’ não é apenas um mandamento religioso, mas um princípio básico da moral natural”, destaca.

O organismo da Diocese de Angra assinala que a Igreja “não pode deixar de olhar com misericórdia e angústia” para o “calvário” em que muitos doentes se encontram, “sem esperança de cura, aprisionados a um corpo que só lhes traz sofrimento”, e considera que seria, “no mínimo, desumano, julgar a atitude de quem pede que “lhe aliviem o sofrimento, nem que seja com a morte” nessas circunstâncias.

“Não se trata de julgar ou condenar quem quer que seja. Trata-se de constatar que, nesses casos, mesmo os mais extremos, temos o dever de tudo fazer, não temos o direito de pisar uma linha vermelha que deve ser um marco civilizacional”, desenvolve o texto.

A Comissão Diocesana Justiça e Paz alerta para a “sociedade da solidão e do abandono”, que “condiciona profundamente” as escolhas, considerando que “há muito que apostar nos cuidados paliativos”, por isso, a eutanásia “é, de alguma forma, uma derrota humana, porque está na natureza humana dar tudo pela vida e nunca pôr a morte (o ato de matar) como equação”.

“Despenalizar a eutanásia não significa obrigar ninguém a morrer, mas fazê-lo quando o sistema de cuidados paliativos é tão precário pode implicar a banalização da eutanásia”, acrescenta, referindo que “apenas 30% dos doentes” que necessitam de cuidados paliativos têm acesso a eles.

O movimento “#simavida” quer apresentar ao Parlamento uma Iniciativa Popular de Referendo e a Comissão Diocesana Justiça e Paz assinala que um referendo à eutanásia “não sendo a opção ideal”, porque “a vida não se referenda nem deve ser objeto puro e simples de opinião pública”, permite um “debate aberto na sociedade portuguesa”, com contributos de todos os quadrantes, “sem pressas nem decisões eventualmente precipitadas”.

“Ir contra o primado da vida, na guerra, nos lugares da fome, no aborto, na pena de morte, no suicídio, na própria escolha livre de morrer, é atentar contra a Humanidade de todos os seres humanos”, lê-se na nota ‘A minha morte também é tua’, da comissão presidida por Aurélio da Fonseca e assistida espiritualmente pelo padre José Júlio Rocha.

CB/OC

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Agência ECCLESIA

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