Europa/Guerra: Religiões na Geórgia vão juntar-se em «momento de silêncio» pela paz

D. José Bettencourt, núncio apostólico na Geórgia e Arménia, destaca «importância» da mensagem de Fátima em ambientes de conflito

Tiblissi, 13 mai 2023 (Ecclesia) – D. José Bettecourt, representante do Papa na Geórgia e Arménia, afirmou que o conflito na Ucrânia é vivido “à flor da pele” pelos georgianos e indicou a realização de um ato simbólico pela paz organizado entre várias religiões.

“O conflito na Ucrânia sente-se muito. Em 2008, na Geórgia, viveu o mesmo e desde então 20% da Geórgia está sob controlo russo. Nessa altura, houve muita gente que teve que deixar as suas casas, os seus entes queridos, os cemitérios não podiam ser visitados e nunca mais puderam voltar. O conflito na Ucrânia sente-se à flor da pele. Há um sentido muito forte, juntamente com os ucranianos que estão a viver este horror no momento atual”, conta à Agência ECCLESIA.

No dia 25 de maio, as várias religiões presentes na Geórgia vão reunir-se num ato simbólico denominado ‘silêncio pela paz’.

“Estamos a organizar, em Tiblisi, uma iniciativa com todas as denominações religiosas para o silêncio para a paz. Não podemos rezar juntos – há obstáculos para que isso aconteça – mas as religiões podem encontrar-se para um silêncio para a paz. Será uma ocasião de encontro entre todos os hebreus, os cristãos ortodoxos, católicos e apostólicos, os muçulmanos, yazidis, bahá’í, todos juntos como um sinal de que todos desejamos a paz. É ilustrativo do impacto da mensagem de paz de Fátima”, recorda.

D. José Bettencourt indica que a mensagem de paz e de reconciliação “é uma mensagem que toca no íntimo”.

O objetivo seria “rezar pela paz”, tendo surgido no contexto do “primeiro aniversário da guerra na Ucrânia”, mas os responsáveis queriam “pensar em algo maior, com horizontes mais largos, mais fundos”.

“Assim nasceu a ideia do silêncio para a paz. Vai acontecer num local simbólico, enigmático, que se identifica imediatamente com a Geórgia, e é um sinal para o povo nacional, também para o mundo, e esperamos que o silêncio aconteça, juntando todos os povos e religiões. No fim, todos nós queremos a paz e o bem”, indica.

Em setembro a Geórgia recebeu a visita da imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, recordado como uma viagem de “enorme significado”.

“Tornou-se mais real a mensagem de oração, reconciliação e de paz. Com a vinda da imagem, esta mensagem foi muito sentida e vivida. Tratou-se de uma atenção que a Igreja católica universal teve para com este povo e região. Era também uma ocasião para esta Igreja confiar à Igreja universal as suas dificuldades e dores, para que se unissem as suas orações. Trouxe muito conforto e esperança e percebem-se sinais muito bonitos, tendo passado sete meses”, indica.

A imagem da Virgem Peregrina de Fátima esteve de 27 de setembro a 14 de outubro na Geórgia, de 15 a 20 de outubro no Azerbaijão e de 21 a 30 de outubro na Arménia.

“Houve uma grande preparação a nível espiritual e também social. A imagem foi acolhida com muito entusiasmo porque se trata de uma mensagem de reconciliação e de paz, numa região que procura tanto a paz. A imagem foi acompanhada por sacerdotes, na sua maioria, jovens que acompanharam nas aldeias e nas comunidades onde havia católicos. Eles ficaram muito tocados pela fé”, recorda o Núncio Apostólico.

D. José Bettencourt recorda que entre o Azerbaijão e a Arménia existe um conflito que dura já alguns anos e o objetivo de trazer a imagem, a esta região, surgiu entre os bispos, tendo sido uma ocasião que “ajudou a unir as comunidades católicas que se encontram”, divididas em três ritmos diferentes, latino, arménio católico e sírio caldeu.

O responsável recorda que na sua história Tiblisi foi reconstruida “38 vezes” e que se guarda na memória o “genocídio de 1.5 milhões de arménios entre 1915-1917”.

“A imagem que veio trouxe uma mensagem de paz e de reconciliação, e conseguiu unir não só os latinos, mas os arménios católicos e os muçulmanos que vieram visitar a imagem de Fátima que conheciam e tinham uma noção sobre o significado da visita”, recordou.

D. José Bettecourt recorda ter estado com o núncio apostólico D. Visvaldas Kulbokas, de Kiev, onde teve ocasião de manifestar a fé que conduz as pessoas.

“Tivemos ocasião de confidenciar um pouco e ele falava que havia tanta coisa que se tinha passado na Ucrânia que era inexplicável; obviamente falava de um poder superior que tinha ajudado, salvo e amparado em situações humanamente não possíveis. Sente-se o poder da oração da Igreja universal, a começar no santuário de Fátima e espalhado por todos os fiéis”, recorda.

A entrevista vai estar em destaque na emissão deste domingo do Programa Ecclesia, na Antena 1 da rádio pública (06h00).

HM/LS

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