Congresso sobre roboética analisou perigos e potencialidades, num cenário de profunda mudança
Cidade do Vaticano, 26 fev 2019 (Ecclesia) – O Vaticano reuniu desde segunda-feira especialistas mundiais da área da robótica, da teologia, da filosofia e da ética para debater os perigos e potencialidades das tecnologias em áreas como a saúde ou a guerra.
A conferência sobre “roboética”, que se conclui hoje, foi promovida pela Academia Pontifícia para a Vida (Santa Sé) e contou, entre os seus participantes, o especialista japonês Hiroshi Ishiguro, “pai” de Geminoid, um humanóide que é uma cópia de si mesmo.
O cientista destacou os potenciais da interação humano-robô na medicina, na sociologia ou na exploração espacial.
“Em dezenas de milhares de anos, os seres humanos podem tornar-se uma forma de vida inteligente, mas inorgânica, uma espécie de nova evolução. A sociedade simbiótica homem-robô não vai acontecer em breve, mas essa é a minha ideia do futuro “, disse, na sua conferência.
O padre Carlo Casalone, jesuíta e membro da secção científica da Academia Pontifícia para a Vida, falou à Agência ECCLESIA e Família Cristã sobre a necessidade de preservar o “sentido” do humano e determinar o rumo que se pretende, neste campo.
“Vão ser elaborados critérios que nos ajudem a interpretar, numa escuta livre e crítica, procurando encontrar parâmetros que definam o que é bom para o homem, para a humanidade, no seu todos, no desenvolvimento destas tecnologias”, precisou.
O padre Emmanuel Agius, decano da Faculdade de Teologia da Universidade de Malta e membro do ‘European Group on Ethics in Science and New Technologies’ (Grupo Europeu de Ética na Ciência e Novas Tecnologias), realça, por sua vez, que a reflexão teológica deve “levantar questões antropológicas, epistemológicas e deontológicas”.
O sacerdote recorda os problemas ligados ao desenvolvimento da inteligência artificial, com “máquinas muitas vezes mais inteligentes do que os seres humanos”, ou dos algoritmos na escolha dos trabalhadores.
“Isso poderia ser facilitador para as multinacionais, mas não estamos a criar um novo tipo de discriminação? Ou a vigilância dos trabalhadores: vamos respeitar a autonomia do indivíduo?”, precisa.
O padre Emmanuel Agius assinala que a sua reflexão não é tanto sobre a tecnologia, mas sobre o impacto desta na sociedade.
“As máquinas vão ser programadas com princípios, valores, processos de tomadas de decisão, para se conseguir tomar decisões. Mas não são o mesmo que um agente humano, que tem intenção, vontade, sentido de discrição, prudência… podemos atribuir tudo isto a uma máquina?”
Kojiro Honda, professor na Universidade de Medicina de Kanazawa (Departamento de Humanidades), no Japão, falou da relação dos japoneses com os robôs, muito influenciados com a “subcultura de animação Manga” que tornou estas figuras familiares.
“O Japão tem um sério problema social, que é o envelhecimento da população. É um grande problema que temos de resolver, e os responsáveis da robótica querem usar a sua tecnologia”, em particular no campo da saúde e do acompanhamento dos idosos, assinala.
O conferencista disse à Agência ECCLESIA e Família Cristã que existe no Japão uma “atitude muito conservadora” em relação à eventual fusão homem-máquina, também por motivos religiosos.
“Se queremos que o nosso espírito funcione bem, temos de manter o nosso corpo purificado, e essa purificação é muito importante. Os japoneses consideram que a fusão entre humano e robô não vai permitir essa purificação e o regresso ao corpo inocente, e por isso rejeitam essa possibilidade de transformação”, precisa.
O encontro começou com uma audiência concedida pelo Papa a todos os participantes
OC
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