Ética nas estratégias de actuação dos empresários cristãos

A ética não deve ser considerada pelos empresários como um empecilho, mas como uma oportunidade para promover a eficiência na prossecução dos objectivos nos negócios. Isso mesmo vieram dizer a Lisboa os participantes no XXVI Congresso Mundial da União Internacional dos Empresários Cristãos (Uniapac) sob o tema “Reforçar os líderes empresariais para servir a humanidade no mundo moderno”. O Cardeal Renato Martino, presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, esteve presente na abertura do Congresso, sustentando que os empresários católicos devem ter uma atitude de “abertura à solidariedade” e estar atentos aos problemas, não só da própria empresa, mas também da sociedade do país onde vivem e de todo o mundo. Os negócios, entendidos como “sociedades de pessoas”, beneficiam da atenção a três dimensões relacionadas com a definição do ser humano: a dimensão imaterial, a dimensão relacional e a dimensão social. Neste contexto, como defendeu o Cardeal Martino, “a ética, baseada na natureza humana, é uma oportunidade para o negócio”. Bento XVI enviou uma mensagem aos participantes deste congresso, que foi apresentada pelo presidente do Conselho do Pontifício Justiça e Paz, na qual o Papa afirmava que “a caridade e a verdade” devem pautar a vida dos empresários. Humanismo empresarial Formar os empresários e gestores no tratamento da pessoa humana dentro das suas empresas no mundo moderno era o grande objectivo do Congresso Mundial da Uniapac. Em declarações à Agência ECCLESIA Bruno Bobone, coordenador geral do Congresso, realçou que “pretendemos ver como na prática conseguimos trazer para dentro das empresas esta preocupação e como podemos divulgar mais e ensinar melhor as formas de aplicar o tema central do evento. Não sendo uma iniciativa de Doutrina Social da Igreja (DSI), o Congresso esteve baseado na DSI visto que “pretendemos aplicar estes valores à vida empresarial, dos negócios e mercados” – disse. Com cerca empresários de todo o planeta, este congresso trouxe a Portugal directores de grande empresas a nível mundial. “O impacto é muito grande” – realçou Bruno Bobone. Esta afluência demonstra que existe uma preocupação dos empresários em alterar o rumo dos acontecimentos. A iniciativa contou com a presença do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, que mostrou a sua satisfação pelas motivações destes empresários. “Elogiou a nossa preocupação na inclusão das pessoas excluídas no circuito económico” – esclareceu. Bruno Bobone acredita no plano de inclusão que o Presidente advoga, mas assegura que “temos de criar fórmulas de inserir os excluídos dentro das empresas e conseguir ocupá-los e dar-lhes formação”. Caminhos para um humanismo empresarial porque apesar do lucro “ser um dos objectivos da empresa não é o principal” – frisou. E acrescenta: “mais do que o lucro está a sustentabilidade das empresas e a vivência dentro das empresas. A razão principal do lucro é pagar os capitais investidos e dar uma ideia da saúde da empresa”. A empresa tem que reconhecer que ao “criar felicidade à sua volta vai conseguir uma rentabilidade superior. A sustentabilidade é uma das mais valias”. Lideranças responsáveis Ao longo dos três dias de trabalho, foi destacado que os líderes empresariais têm uma clara responsabilidade na realização pessoal dos seus empregados. “Uma empresa será o que os seus líderes forem. Treinar grandes líderes, incluindo uma dimensão ética, é algo de essencial”, referem as conclusões do Congresso. Os participantes manifestaram-se particularmente sensibilizados pelo debate sobre a DSI e a sua implicação nas estratégias de actuação dos empresários cristãos. O documento conclusivo destaca “a responsabilidade moral dos empresários e gestores cristãos no contexto amoral da economia” e a influência que os mesmos podem ter na sociedade. Os participantes lembraram ainda que a DSI é um “longo e nunca acabado processo”, que deve ser entendido como um caminho.

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