Ética e empresa não são conceitos antagónicos

O ciclo de debates sobre o “Código de Ética para empresários e gestores”, da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE), conheceu mais um capítulo no passado dia 22, com um encontro destinado a debater a relação entre “Ética e Empresa”. João César das Neves, professor da Universidade Católica Portuguesa, foi um dos intervenientes no debate, tendo explicado que “a ética não é um conjunto de regras para aprender como nos devemos comportar, nem um conjunto de reformas, mas é o saber o que eu devo fazer aqui e agora e responder às questões à luz das razões últimas da minha vida”. A relação entre esta e a empresa deve ser estruturada, segundo o economista, “de acordo com o princípio da cooperação e não do conflito”. César das Neves citou a Epístola de São Paulo a Timóteo, que serviu de pano de fundo à sua intervenção, carta onde se escreve que “nós nada trouxemos para o mundo e não podemos dele levar coisa alguma (…) os que querem enriquecer caem em tentação e cilada, e em muitos desejos perniciosos que mergulham o homem na ruína e na perdição, porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro”. Ludgero Marques, presidente da Associação Empresarial de Portugal, lembrou que “a empresa está socialmente inserida e as suas responsabilidades perante estas são as mesmas dos indivíduos”. “A ética, a todos os níveis da sociedade, tem de dominar todas as nossas actuações”, apontou. “A ética empresarial alargou-se da garantia das boas práticas negociais à obrigação de manutenção de práticas e valores socialmente responsáveis para com os trabalhadores”, acrescentou. Este responsável vincou a necessidade de se passarem a objectivos “menos egoístas, menos centrados na sobrevivência da empresa em si mesma, considerando-a como responsável na criação de riqueza, a distribuir pela comunidade, na preservação do ambiente e no bem-estar de toda a comunidade”. João Proença, Secretário Geral da União Geral de Trabalhadores (UGT), optou por concentrar a sua intervenção sobre os problemas dos trabalhadores no quadro da empresa. Para o sindicalista, “o trabalho digno, de qualidade” deve ser uma preocupação central. Comentando o documento da Acege, João Proença destacou como ponto positivo o facto de este assinalar que a ética dentro da empresa deve ser a mesma que a da vida privada: “são as pessoas que deve ser éticas”, afirmou. O líder da UGT destacou que “a ética não é um obstáculo à produtividade, ates pelo contrário”, dando exemplo de valores éticos – respeito pelo ambiente, luta contra o trabalho infantil – que podem surgir como valores de competitividade. João Proença condenou, por outro lado, práticas como o despedimento colectivo com o objectivo de valorizar empresas cotadas em bolsa. Com o projecto de “Código de Ética para empresários e gestores”, elaborado por José Roquette, a Associação Cristão de Empresários e Gestores quer chegar a todo o tecido empresarial. O combate a fenómenos de concorrência desleal, como a economia paralela, corrupção, evasão fiscal e financiamento ilegal de partidos políticos são algumas das medidas preconizadas pelo projecto. Este código de ética está a ser alvo de discussão pública durante os próximos meses, e será apresentado na sua forma definitiva no congresso da ACEGE, que decorrerá nos dias 8 e 9 de Outubro.

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top