Esther Mucznik: Viagem à Terra Santa não foi histórica

Investigadora avalia positivamente visita de Bento XVI, mas não deixa «marca na relação entre judeus e cristãos» A viagem de Bento XVI à Terra Santa não foi histórica, mas “também não tinha de ser”, afirma Esther Mucznik, investigadora de assuntos judaicos. “É ainda cedo para dizer isso”, afirma à Agência ECCLESIA. Sem hesitações, a investigadora afirma que a deslocação, em 2000, de João Paulo II foi “histórica”, mas porque “era a primeira oficial”. O carisma do antecessor de Bento XVI, o pedido de perdão, a ida ao Muro das Lamentações convergiram para “uma alteração e para um contributo decisivo na aproximação entre judeus e cristãos”. A recente visita que Bento XVI realizou à Terra Santa, entre os dias 8 e 15 de Maio, “prosseguiu na mesma senda”, mas não alterou “profundamente” o caminho já iniciado. Comparando com João Paulo II, a investigadora centra que o tempo e as relações “são outras”, acrescentando que a personalidade do actual Papa “menos afectiva, mais intelectual e teórica” mostra “ter a palavra certa, mas não a palavra que toca”. A visita de Bento XVI ao memorial Yad Vashem, em Israel, era um dos momentos mais aguardados. Esther Mucznik afirma que, como Papa alemão, “ele tinha uma responsabilidade especial” e talvez por isso “as pessoas esperavam mais”. Mas, no conjunto, o Papa “correspondeu à expectativa”. Apesar de algum descontentamento gerado pelo discurso que Bento XVI proferiu no Memorial, sem referências à sua experiência pessoal durante a II Guerra Mundial e nenhuma condenação explícita dos nazis, a investigadora acredita que esta é uma questão encerrada. “Se analisarmos, racionalmente, os discursos do Papa e as suas posições sobre o Holocausto, não existe margem para dúvidas”. Bento XVI foi “claro” e algum descontentamento existente “não vai afectar a relação” entre judeus e cristãos. O levantamento da excomunhão do Bispo Richard Williamson, que negou o Holocausto e a posição de Pio XII, são “questões passadas”, que a abertura dos arquivos do Vaticano e a investigação histórica irá permitir “esclarecer claramente”. Acerca do conflito entre israelitas e palestinos, a investigadora aponta que Bento XVI “não poderá fazer milagres”, num dividendo que “é político e só nesse âmbito poderá ser resolvido”. Assinala, no entanto, que o Papa teve “intervenções políticas”. As tomadas de posição foram “muito claras”, pronunciando-se “por diversas vezes, a favor do estado palestiniano” e “condenando a barreira de segurança” entre israelitas e palestinos. Bento XVI pediu ainda o reconhecimento internacional do Estado de Israel, dentro de fronteiras seguras. Esther Mucznik indica que “o Papa foi até bastante longe nestas questões”. A posição de Bento XVI “tem o seu peso” mas “a resolução não está aqui”. A investigadora destaca o encontro inter-religioso em Nazaré, como um “momento pacífico e de convivência” e ainda a simbologia “de se ter cantado, de mãos dadas, em vez de o rabino proferir mais um discurso”. No entanto, reconhece que o problema é mais complicado. “Grande parte dos fieis, quer sejam judeus, cristãos ou muçulmanos, quer a paz, dialogar e encontrar-se”. Mas, “há franjas” e essas “tomam conta, infelizmente, do mundo mediático”. Esther Mucznik lamenta “a importância dada, em demasia, ao «ruído lateral»”, e o menor destaque “à publicação, por parte dos rabinos de Israel, em diversos jornais, de um texto de boas vindas ao Papa e a uma saudação da viagem”. A comunicação social deu maior relevo às posições “descontentes” que eram “barulhentas mas minoritárias”. A investigadora assinala o “bom ambiente entre todas as populações e entidades oficiais”, conferindo-lhe “a devida importância”, e os “discursos muito bons” do Presidente de Israel, Shimon Peres, que acompanhou de forma “próxima e emotiva” a viagem.

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