Estes alemães?

João Aguiar Campos, Secretariado Nacional das Comunicações Sociais

Calma. Se esperam ler aqui uma diatribe sobre a senhora Merkel mais o seu ministro das Finanças com a crise grega como pano de fundo, desiludam-se. 

O que aqui trago hoje não é mais que o tranquilo desejo de sublinhar uma decisão estes dias tornada pública pela Conferência dos bispos alemães. Versa orientações para os responsáveis financeiros das instituições eclesiais, exortados a um «investimento ético e durável».

Não sei alemão e não fico sossegado com resumos googlados. O que reporto li-o, por isso, no “La Croix”, que dá sintética conta do que foi tornado público no passado dia 3 deste mês de Julho.

O documento em causa, disponível em PDF, tem uma quarentena de páginas e um glossário. Propõe «um caminho em sete etapas», abarcando diversos items. Um deles desafia as estruturas e os movimentos eclesiais a avaliarem a idoneidade dos seus parceiros em temas como a pornografia, a corrupção, a energia nuclear e as experiências com embriões. Enfim, algo muito próximo do “Projeto Ético de Fundo Santander Central Hispano Responsabilidade”, redigido pelo Instituto Social Leão XIII.

Diz a sabedoria popular que «quem anda com lobos aprende a uivar». O que, traduzido para o caso que agora nos ocupa, quer dizer que nunca ficaremos com as mãos limpas se alguém sujar as suas com o nosso apoio…

Citando o presidente do Comité Central dos Católicos Alemães (ZdK), o “La Croix” transcreve esta afirmação, em defesa da transparência: «O modo como a Igreja gere as suas finanças e a sua riqueza é uma questão-chave para a sua credibilidade». Depois, na boca do cardeal Reinhard Marx coloca uma exigência prática: «Devemos interrogar-nos sobre o modo como a Igreja gere os seus recursos, como as estruturas eclesiais investem o seu capital e como pode a ética ser integrada na economia».

Que o episcopado alemão faça o que acaba de fazer é importante a vários níveis. Um deles tem mesmo a ver com críticas que sofreu num passado não muito distante: há dois anos a Igreja alemã era notícia, ao ser acusada de esconder parte do seu património em orçamentos especiais. Outros investimentos não estariam, por seu turno, a servir as melhores causas. Agora organiza-se, compromete-se e clarifica caminhos. É bom.

Felizmente que, em diversos ambientes vai conquistando terreno a preocupação de ter em conta critérios éticos e sociais na hora de decidir investimentos. Cresce, por isso, a consultoria neste domínio e aumenta o número dos fundos de investimento que usam filtros. Trata-se, ao fim e ao cabo, de consciencializar os investidores e proporcionar-lhe o lucro a que justamente aspiram, sem que valha (quase) tudo para o conseguir.

É obrigatório que as instituições eclesiais abracem de alma e coração este caminho que, aliás, a Doutrina Social da Igreja propõe para dentro e para fora. Até para não suceder que, pregando aos outros, fique a casa de ferreiro com espeto de pau…

Sim; há que pôr mãos ao trabalho de «uma grande obra educativa e cultural», como chama o Compêndio da Doutrina Social (375) ao esforço de não absolutizar a economia.

João Aguiar Campos

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