Estas crianças são todos nossos filhos

O dia Mundial da Criança recorda-nos, ciclicamente, como as crianças do século XXI vivem a mais degradada situação social de sempre. Pobres entre os pobres, frágeis entre os frágeis, silenciosos entre os silenciosos, as crianças escassamente têm a voz e o cuidado indispensáveis, pois as sociedades do conhecimento e da afluência não são capazes de lhos reconhecer nem dar. Entre a crise económica, e a ameaça constante da fome, a crise política que conduz à degradação dos sistemas educativos e a fragilização social das famílias, é difícil conceber para a educação das crianças um cenário mais complexo e comprometido. As crianças não são adultos em miniatura nem seres desprovidos de sentimentos, sensibilidade, drama ou paixão, mas pessoas que se caracterizam por um conjunto particular e promissor de necessidades como, logo desde a vida intra-uterina, a de serem amadas. Um amor de cuidados e rotinas, de respeito e interacção é o motor mais potente do desenvolvimento infantil. Logo surge, também, a necessidade de amar, que emerge muito precocemente e se manifesta no sorriso, nas lalações, nos bracinhos que se estendem. Entretanto, desperta a necessidade de compreender, ligada à curiosidade e ao interesse em explorar o mundo, acompanhada de mil perguntas e da vontade de comunicar. Conjuntamente surge a necessidade de esperar, porque se a criança compreende que os pais a amam e a cuidam também é capaz de suportar as separações, acreditando que voltarão a reunir-se. Finalmente, surge a necessidade de acreditar, pois a criança é atraída pelo maravilhoso, pela beleza, pelos relatos fundadores da sua cultura, parte que são da sua capacidade de ser um ser espiritual. E porque o amor é a base do desenvolvimento psicológico, social, moral, a base de sustentação da personalidade, as crianças não são apenas cidadãos de um país, nem meros membros de uma comunidade. As crianças são, sobretudo, os filhos dos seus pais. Uma sociedade evoluída e digna deveria compreender esta verdade primordial do despertar da consciência humana, verdade antiga que deve ser repensada e reconstruída à luz das sociedades contemporâneas. A barbaridade humana da exploração e da violência nunca poderá ser sanada nem corrigida se os adultos não tiverem tido, na sua infância, a garantida possibilidade de viver no contexto de uma comunidade de amor e gratuidade, de estabilidade e apreço, motivação e regras, orientação e a liberdade de se ser, apenas, pessoa. Essa comunidade existe, nas suas múltiplas modalidades, desde a aurora da humanidade. Convém, agora, que os poderes não se confundam e que limitem a sua sábia acção a defender e a garantir que as famílias terão o seu espaço de intervenção educativa junto dos filhos, sem necessidade de convencer os pais a ceder a sua influência a educadores de substituição. Nada educa melhor do que o amor inteligente.

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