Estar em Missão…

Após o momento intenso de olharmos alguns dos rostos que nos são queridos quase como se fosse a última vez que os fossemos ver, com um misto de sensação de um só até amanhã… passamos o limiar das escadas rolantes do Aeroporto da Portela e embarcamos nessa Grande Viagem que ainda está toda por descobrir, por nos acontecer! Quando deito a cabeça na almofada, já em Maputo, é que tomo consciência: “Espera lá, estou mesmo em África e agora só daqui a um ano é que volto a ver aquela gente (família e amigos) “, gente que embarcou comigo, num pequeno caderno azul repleto de mensagens, pequenos tesouros, que me vão acompanhar nos primeiros dias… uma de cada vez… lida e saboreada antes do adormecer, à luz da lanterna, dentro da rede mosquiteira. Recordo uma das primeiras sensações que tive quando cheguei ao Niassa… ainda não tinha sequer chegado à minha terra de Missão, Cuamba. Encontrava-me em Lichinga, à espera de boleia para o nosso destino final. Foi uma tarde em que acompanhei duas leigas, uma irmã e algumas “mamãs” da Pastoral de Saúde, numa visita a uma “mamã” doente. Foi dos momentos mais fortes que vivi em Missão, o meu primeiro contacto com as comunidades, com os bairros de palhotas, com uma língua linda e indecifrável, com uma simplicidade que comove, de tão bela que é. Aquele momento em que a Irmã falou com a “mamã” para tentar perceber o que lhe tinha acontecido, a serenidade com que rezámos para que a “mamã” melhorasse, o estarmos sentadas em roda, nas esteiras e nos banquinhos de madeira, junto à terra vermelha, por baixo de um céu muito azul… fez-me sentir tão próxima de Deus… e logo ali ao lado, uns momentos depois, visitámos uma menina com um bebé recém-nascido nos braços, que tinha vindo ao mundo há apenas alguns dias e ainda não tinha nome… no regresso a casa, com os cabelos ao vento, sentada na caixa aberta, não era capaz de dizer nada… o meu coração tinha-se aberto a África… de tal forma que o meu sorriso se embebia de Paisagem num silêncio profundo que só pode existir quando o Céu toca a Terra, quando Deus está por perto… Esta é apenas uma das minhas vivências de um ano de Missão por terras longínquas… e talvez sentida de forma tão intensa por ser das primeiras… mas houve muitas mais… momentos especiais que me transformaram para sempre, talvez só possíveis de partilhar verdadeiramente com quem fez caminho comigo, a minha família de lá… a minha comunidade (as três “cuambitas” com quem vivi) … e também algumas pessoas que descobri na minha terra de acácias rubras e palhotas de matope e capim… pessoas dos 4 cantos do mundo! Entre Macuas e Missionários fui aprendendo a Ser… a Ser Mais… mais simples… mais livre… mais despojada… mais cristã… mais moçambicana… mais feliz… Tenho saudades de percorrer aqueles caminhos de terra batida, entre palhotas e capim verde, apenas com umas chinelas nos pés, atravessando o matope seco e saudando as “mamãs” e as crianças de coloridas capulanas, transportando água na cabeça e sorrindo genuinamente com um sorriso que nos abraça e nos faz sentir em casa… a nós, “mucunhas” de Portugal que já sabemos dizer: “Salama!” (olá! Como está?). Fica aqui a tentativa de partilhar convosco um bocadinho do que vivi em Missão… esperando que este testemunho possa ser uma Semente que faça crescer a vontade de Partir… de Partir e de Amar… Joana Máxima Neves (Leigos para o Desenvolvimento Cuamba 2005/2006 – Moçambique)

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