Espiritualidade contra a «ecologia do medo»

«Nova atitude» do cristianismo gera propostas de oração e de respeito pela natureza

Lisboa, 15 Mar (Ecclesia) – O cristianismo tem o potencial de superar uma “ecologia do medo”, promovendo o “equilíbrio com a natureza”, refere o frade franciscano Daniel Teixeira, em texto hoje publicado no semanário Agência ECCLESIA.

Segundo o religioso, “o problema ambiental é científico, técnico e político, mas é também cultural, ético e religioso, pois nos bastidores da crise ecológica está a questão da justiça, da igualdade de direitos humanos e do respeito pelo mundo natural”.

“Para o Cristianismo a Natureza é um maravilhoso presente de Deus ao homem, o que gera uma relação de fraternidade e uma atitude de gratuidade”, precisa, colocando Deus como referência “fundamental e geradora de uma nova atitude perante o universo”.

Frei Daniel Teixeira considera que “o expoente máximo de espiritualidade ecológica cristã é Francisco de Assis, patrono da ecologia, que ao reconhecer um único Pai-Criador de todos os seres de todos se sente irmão, a todos trata por «irmãos»”.

Da relação com a natureza fala também o padre António Teixeira, responsável pela paróquia do Estoril, no patriarcado de Lisboa.

“O mar é quase como o espelho da vida de cada um de nós”, diz à ECCLESIA, falando sobre o «Terço no Paredão», uma proposta de oração com vista para o Atlântico.

Para o sacerdote, é importante que a oração saia das “paredes da igreja” e se divulgue por quem habitualmente não a frequenta.

“Não é a primeira vez que há gente a parar e a juntar-se a nós”, assinala, recordando a ocasião em que jovens protestantes, desligados da fé mariana, se juntaram ao terço.

No livro bíblico dos Reis, o narrador conta que o profeta Elias passou a noite no monte Horeb à espera da manifestação de Deus; soprou um vento impetuoso, a terra tremeu, ateou-se um fogo, mas a presença divina só se revelou na brisa suave.

Hoje, a espiritualidade dos escuteiros católicos também sonda a vontade de Deus através da natureza, como explica Sara Danif, chefe do agrupamento de Miraflores, no patriarcado de Lisboa.

“É reconfortante quando estamos a comer e nada mais se ouve a não ser o som dos pássaros; estamos a adormecer e é o som do vento que nos embala. São estes momentos em que mais sentimos a presença de Deus junto de nós”, afirma.

Para esta dirigente, as actividades ao ar livre proporcionam ocasiões de encontro com Deus que “noutros ambientes não seriam tão naturais”.

“Não há tantas distracções, o tempo corre de maneira diferente”, refere Sara Danif, realçando que, nos escuteiros, as crianças e adolescentes crescem na convicção de que a protecção ao meio ambiente “resulta da consciência plena de que a natureza é dom de Deus”, o que também se traduz na “responsabilidade” de a proteger.

Esta sensibilidade revela-se igualmente nas orações antes das refeições, ou noutros momentos do dia, quando os participantes agradecem pelo sol ou pedem coragem para executar as actividades sob a chuva.

As actividades ao ar livre podem também ser uma experiência quaresmal, já que acampar é “retirar-se para fazer algo distinto do habitual” através de propostas que, dentro da pedagogia escutista, “apelam à mudança”.

Ao longo da Quaresma, que se prolonga de 9 de Março a 21 de Abril, a Agência ECCLESIA vai apresentar semanalmente um dossier sobre espiritualidade cristã, nas suas mais diversas vertentes.

PRE/RM/OC

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