Terreno no Paço Episcopal de Faro concretiza preocupações ecológicas, da compostagem ao aproveitamento de águas pluviais, oferecendo «oásis» de interioridade
O bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, é o protagonista de uma visita guiada à inesperada Horta ‘Laudato Si’ que nasceu no Paço Episcopal de Faro. Um terreno fértil, com preocupações ecológicas, inspirado nos desafios que Francisco lançou à Igreja e ao mundo com a sua encíclica de 2015, no centro de um ano especial que se encerra a 25 de maio.
“Orientei para lá toda a chuva dos telhados, funcionando como cisterna”
D. Manuel Quintas encontrou árvores e canteiros de flores, que já davam vida ao terreno. A captação de água ajudou a desenvolver a horta, a partir de um poço com 13 metros de profundidade.
A Horta ‘Laudato Si’ tem um valor simbólico e de produção, com verduras para consumo da casa e, sobretudo, para partilhar com quem mais necessita, o que permite “uma pacificação ainda maior” na relação com a natureza.
“Isto é para os outros”, realça o bispo do Algarve.
D. Manuel Quintas serve a Igreja Católica no extremo oposto ao do seu nascimento, mas as raízes ligadas à terra garantem uma continuidade: “Eu nasci no meio disto, sou do nordeste transmontano, de uma família ligada à agricultura”
“Para mim, a natureza é algo que me complementa, que me completa, mesmo”
A relação com o trabalho agrícola vem desde a infância e acompanhou D. Manuel Quintas, como missionário em África e na sua formação nos seminários dos Dehonianos.
“A natureza forma, educa, dá um equilíbrio muito grande do ponto de vista do equilíbrio da vida”, realça.
O bispo católico sublinha que os próprios ciclos da Liturgia assumem a cadência da estações, para que cada pessoa se renove, como a natureza faz
O bispo do Algarve encontra neste espaço um “oásis”, numa vida agitada.
“É um espaço de contacto com a natureza, procurando paz interior, harmonia com o que nos rodeia”, aponta.
O nome ‘Laudato Si’ nasceu espontaneamente, assim que o Papa publicou a sua encíclica ecológica e social em 2015. E procura concretizar os ensinamentos de Francisco sobre uma natureza que “retribui cuidando de quem cuida”.
As preocupações ecológicas incluem a compostagem com minhocas californianas, separando os resíduos, “como em todas as famílias”.
“Não precisamos de estar a sobrecarregar os contentores do lixo”, indica D. Manuel Quintas.
Na horta encontram-se ervas aromáticas, árvores de fruto, batata-doce e hortícolas, que servem também de alimento aos passarinhos.
“Vêm cá os pardais de Faro tomar o pequeno-almoço e comem as alfaces todas”, graceja.
Um espaço de oração
O cuidado da terra, sublinha o bispo do Algarve, vai para lá da “subsistência” e chega à “existência”, à vida interior de cada um.
“Muitas vezes rezo aqui o terço, a Liturgia das Horas”, relata.
Para D. Manuel Quintas, este contacto oferece uma maneira menos “agitada”, mais “natural” de olhar para o mundo e a vida, em harmonia com a natureza.
“Não podemos viver desligados da natureza”
A entrevista com D. Manuel Quintas está em destaque na emissão do Programa ECCLESIA, na Antena 1 da rádio pública, pelas 06h00 deste domingo, assinalando o encerramento do Ano ‘Laudato Si’, uma iniciativa convocada pelo Papa Francisco e pode ser vista no programa 70×7, também deste domingo, na RTP2, às 18h05.
PR/OC