Especial: «Os símbolos das minhas Jornadas da Juventude» (c/fotos)

Portugueses recordam experiências das JMJ que deixaram marcas na sua vida

Lisboa, 20 nov 2020 (Ecclesia) – Os símbolos das Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ), que vão ser entregues a uma delegação portuguesa, este domingo, são replicados na vida de cada pessoa que faz a experiência do evento, com memórias e objetos que permanecem.

João Filipe Carapito é hoje pai de quatro filhos e professor na cidade de Évora; em 1993, tinha 17 anos de idade e viajou para os Estados Unidos da América, para participar na JMJ de Denver, convocada pelo Papa João Paulo II.

“Foi um desafio enorme porque era do outro lado do mundo”, reconhece João que viajou para o Colorado com um grupo de jovens ligados ao Caminho Neocatecumenal.

Uma viagem ao “coração do capitalismo” onde, para o jovem, “tudo era grande, a começar pelo avião que nos levou”.

O entrevistado recorda o apoio e a atitude de confiança dos seus pais.

“Hoje, que sou pai, reconheço a aflição dos meus pais em enviar um filho para os Estados Unidos durante duas semanas, sem os meios que temos hoje para comunicar”, assume.

No trajeto para Denver recorda um clima pouco consensual quanto à visita do Papa e como por vezes, passavam avionetas com mensagens pouco abonatórias: “Lembro que uma delas dizia ‘o Papa é o maior pecador’…”.

No grupo de João Carapito estava o padre João Marcos, que hoje é o bispo de Beja.

“Ele disse-nos: olhem que aquela mensagem deve estar certa. É natural que o mais iluminado tenha grande consciência dos pecados que tem. O Papa deve achar-se mesmo o maior pecador”, assinala.

“Isto tocou-me, porque me apercebi também do caráter político da visita e o Papa tinha consciência disso. Sabia que estava a viver ali um momento histórico” reconhece João Carapito.

Quanto aos símbolos das Jornadas, o entrevistado considera João Paulo II como o grande sinal para os jovens dessa época.

Para mim ele é o símbolo das Jornadas. Recordo quando desceu no helicóptero e a forma como nos olhava. O seu olhar não era no vazio, todos nos sentíamos olhados pelo Papa pessoalmente”.

A Cruz é para João Carapito um sinal forte que o Papa entrega aos jovens.

“É nos momentos de dor, nos momentos de angústia angustiado, é nesses momentos que aparece Deus, e isso vê-se na cruz, é na cruz que Cristo se aproxima de nós”, declara.

Após a experiência de Denver, João participou ainda na JMJ de Paris, em 1997, Roma, no ano 2000, e Madrid, em 2011.

Catarina Pires e Tiago Mendes, partilham a amizade, o escutismo e duas JMJ: Madrid em 2011 e Cracóvia em 2016.

Para Catarina, com uma vida pouco comprometida em Igreja e com apenas 15 anos, o convite para Madrid era a forma de, pela primeira vez, sair do país e fazer umas férias com os amigos.

“Afinal não foi nada disso, vim completamente diferente”, reconhece.

A mudança aconteceu no centro da capital espanhola durante a Via-Sacra; a proximidade de Bento XVI levou-a a pegar na máquina fotográfica.

“Nesse momento o padre Marco Luís que nos acompanhava disse-me: fotos do Papa tens na internet aos montes, aproveita o momento”, recorda.

Catarina seguiu o conselho: “Senti que o Papa me olhava, foi um momento único que me pôs a chorar de emoção e que ainda hoje recordo comovida”.

A experiência alterou a sua relação com Deus e direcionou a sua vida até hoje.

A cruz das jornadas é para Catarina um sinal de união.

“Todos temos uma cruz, nas dificuldades temos a vantagem de nos agarrarmos a ela para nos poder reerguer”.

Antes das jornadas, Tiago Mendes diz que poderia ser considerado “um cristão de sofá”.

“As jornadas foram para mim uma forma de fazer um zoom out na minha vida e perceber a real dimensão da Igreja e a sua pluralidade”, lembra.

Tiago reconhece que na experiência de Madrid percebeu que “a fé é muito mais do que cultura”.

“Ali eu vi jovens de culturas completamente diferentes, e a formas como eles celebravam a fé acentua aquilo que há de comum na nossa vida”, indica.

Tiago considera que a cruz da JMJ “não é um ponto final” e aponta para a “ressurreição”, que dá sentido à vida.

A experiência das jornadas é perpetuada em pequenos objetos que reavivam uma vivência que perdura.

João gosta de olhar o crachá das jornadas de Denver e perceber como ele lhe refresca aquele verão de 1993.

Catarina guarda a sua mochila azul de Cracóvia e por vezes, recorre às orações do guião para a ajudar na sua relação com Deus.

Tiago tornou-se catequista, e da mochila vermelha e amarela de Madrid, retira a edição do Youcat, que ali foi entregue aos jovens e que hoje, é ferramenta preciosa na forma com transmite a fé.

Com 3,8 metros de altura, a Cruz das Jornadas foi confiada por João Paulo II aos jovens no Domingo de Ramos de 1984, para que fosse levada por todo o mundo; desde aí, iniciou uma peregrinação que já a levou aos cinco continentes e a quase 90 países, como várias passagens por Portugal.

Em 2003 a “cruz dos jovens” esteve no Estádio Nacional para assinalar os 25 anos de pontificado de São João Paulo II.

A cerimónia, que contou também com a presença da imagem peregrina da Nossa Senhora de Fátima, juntou 40 mil pessoas, que esgotaram a capacidade do recinto desportivo.

Francisco Noronha de Andrade, servita de Fátima e um devoto das aparições da Cova da Iria, foi o ideólogo da iniciativa.

A ideia de reconstituir um terço vivo surgiu num dos muitos livros que guarda sobre Fátima: “Foi na Austrália em 1953, que a imagem peregrina número 1 participou também numa reconstituição humana do terço. Quando vi isto, sugeri ao D. José Policarpo que aceitou de imediato a ideia”.

“Foi a cruz dos jovens que abriu a celebração, entrando no estádio transportada por um grande número de jovens do Patriarcado de Lisboa”, relata o entrevistado.

A cruz foi depois colocada no altar onde permaneceu, enquanto no relvado se organizavam as contas do terço.

Este símbolo das JMJ esteve em Portugal em 2003, no âmbito da preparação das jornadas de Colónia (2005), na Alemanha.

A passagem dos símbolos da JMJ do Panamá, que recebeu a edição internacional de 2019, para a capital portuguesa, que recebe a edição no verão de 2023, vai acontecer este domingo, na Basílica de São Pedro, no final da Missa presidida pelo Papa, às 10h00 (hora local, menos uma em Lisboa), com transmissão online.

A caminhada para a JMJ de 2023, em Lisboa, vai estar em destaque na emissão do programa 70×7, este domingo, pelas 17h40, na RTP2.

HM/OC

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Agência ECCLESIA

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