Eslováquia: Papa inicia visita com mensagem de união entre cristãos, após anos de perseguição

Encontro ecuménico marca primeiro dia de viagem, após passagem por Budapeste

 

Bratislava, 12 set 2021 (Ecclesia) – O Papa chegou hoje a Bratislava para a sua primeira visita à Eslováquia, onde permanece até quarta-feira, depois de ter encerrado o 52.º Congresso Eucarístico Internacional em Budapeste, capital húngara.

Francisco foi recebido pela presidente eslovaca, Zuzana Caputová e duas crianças vestidas com trajes tradicionais que ofereceram pão, sal e flores, em sinal de boas-vindas; centenas de pessoas acenavam bandeiras do Vaticano e da Eslováquia.

O primeiro encontro desta viagem decorreu na Nunciatura Apostólica – embaixada da Santa Sé -, onde o Papa recebeu os membros do Conselho Ecuménico das Igrejas na República Eslovaca.

“Embora ainda não possamos partilhar a mesma Mesa Eucarística, podemos hospedar juntos Jesus, servindo-o nos pobres. Será um sinal mais sugestivo do que muitas palavras, que ajudará a sociedade civil a compreender, especialmente neste período doloroso, que só estando do lado dos mais fracos poderemos sair verdadeiramente todos da pandemia”, declarou.

Francisco evocou os anos de regime comunista, no século XX, mas alertou para o perigo da escravidão “interior”.

“O caminho das vossas comunidades pôde ser retomado após os anos da perseguição ateia em que a liberdade religiosa esteve impedida ou duramente sujeita à prova”, referiu.

O discurso citou Dostoiévski, na sua obra ‘Os Irmãos Karamázov’, sublinhando que “os homens estão dispostos a trocar, de boa vontade, a sua liberdade por uma escravidão mais cómoda – a de sujeitar-se a quem decida por eles –, contanto que tenham pão e segurança”.

Daqui, do coração da Europa, perguntemo-nos: será que nós, cristãos, perdemos um pouco o ardor do anúncio e a profecia do testemunho? É a verdade do Evangelho que nos faz livres, ou então sentimo-nos livres quando alcançamos zonas de conforto que nos permitem gerir a vida e avançar tranquilos sem particulares contratempos?”.

Francisco falou da experiência de fraternidade que marcou o início da evangelização dos países eslavos, pelos irmãos Cirilo e Metódio (séc. IX), “testemunhas dum Cristianismo ainda unido”.

“Como podemos desejar uma Europa que reencontre as suas raízes cristãs, se somos nós os primeiros desarraigados da plena comunhão? Como podemos sonhar com uma Europa livre de ideologias, se não temos a coragem de antepor a liberdade de Jesus às necessidades dos grupos particulares de crentes?”, questionou.

O Papa considerou que a divisão entre Igrejas e comunidades cristãs prejudica o anúncio do Evangelho, pedindo o fim de “cálculos de conveniência, razões históricas e laços políticos” que impedem a unidade.

A intervenção recomendou a recuperação da dimensão de “contemplação”, na vida espiritual dos cristãos, para evitar que a fé seja medida apenas “segundo uma eficiência programática e funcional”.

Francisco destacou ainda a importância do trabalho conjunto em favor dos mais pobres, sustentando que “a partilha da caridade abre horizontes mais amplos e ajuda a caminhar mais rápido, superando preconceitos e equívocos”.

Depois da oração do Salmo 103 e da foto do grupo, o Papa saudou individualmente os participantes do encontro; Francisco reúne-se ainda, em privado, com os membros da Companhia de Jesus presentes na Eslováquia.

A cerimónia oficial de boas-vindas acontece esta segunda-feira, no Palácio Presidencial em Bratislava, pelas 09h15 (menos uma em Lisboa), seguindo-se a visita de cortesia à chefe de Estado eslovaca e o encontro com autoridades, representantes da sociedade civil e o corpo diplomático.

OC

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