Esculturas Paulinas nascem em Felgueiras

Até 16 de Maio, a criatividade de três escultores dará à luz obras relacionadas com S. Paulo. O Ano Paulino ficará marcado na Paróquia de Margaride, em Felgueiras. Três escultores estão a burilar três imagens de S. Paulo que ocuparão espaços públicos na cidade. De 4 a 16 deste mês, os escultores Isaque Pinheiro, Paulo Neves e Volker Schnüttgen trabalham diariamente na sua peça até ao resultado final. Oscarina Martins, da equipa organizadora do Simpósio de Escultura sobre S. Paulo, disse à Agência ECCLESIA que esta iniciativa pretende abrir o Ano Paulino à sociedade. “A paróquia organiza celebrações, peregrinações e um curso de Teologia sobre este apóstolo, mas estas actividades estão muito viradas para as comunidades”. A arte é um meio evidente nesta abertura e “congrega muitas pessoas” – sublinha. Durante o dia, os escultores trabalham na pedra até ao nascimento da obra de arte. Antes do produto final, os artistas realizaram um trabalho prévio. “Fizeram visitas aos locais onde as peças serão colocadas para saberem o enquadramento”. Mediante a obra e as palavras de S. Paulo, a escultura “nasce da criatividade do artista”. Através das maquetes feitas pelos autores, o visitante pode ver a obra final. “A previsão é que as peças estão concluídas” no dia 16 de Maio. Para que a iniciativa fique para a posteridade, será lançado um catálogo no próximo dia 15 de Maio. Para além das entrevistas com os escultores, testemunho de Tolentino Mendonça, o livro terá fotografias destes dias de trabalho e o testemunho de D. Manuel Clemente que visitará este simpósio na próxima sexta-feira (8 de Maio). Uma das peças ficará no adro da Igreja Matriz de Felgueiras; outra irá para o Santuário de Santa Quitéria e a freguesia de Torrados receberá outro S. Paulo. O simpósio está a decorrer no adro da Igreja Matriz de Felgueiras, onde os escultores dão à luz a obra de arte. Ao passarem pelo local, as pessoas “param e ficam curiosas” – salienta Oscarina Martins. E acrescenta: “há muita curiosidade porque não temos o hábito deste tipo de acontecimento”. Memória descritiva das obras Escultura de ISAQUE PINHEIRO Segue-se uma breve explicação do processo técnico, usado na interpretação da obra proposta para o simpósio de escultura em pedra de Felgueiras. Este projecto surge no âmbito do simpósio de arte sacra de Felgueiras cujo tema é “São Paulo”. O processo que estamos a desenvolver consiste em seleccionar uma obra representativa de São Paulo existente na Diocese do Porto e fazer uma leitura 3D usando tecnologia avançada, com fim a uma nova interpretação das formas já existentes. A obra foi seleccionada com base em conversas com o Reitor do Seminário Maior do Porto e contamos com a inesperada e feliz sugestão do Bispo do Porto, D. Manuel Clemente. Uma vez seleccionada, sujeitamos a obra do século XVIII existente na igreja de São Pedro da Cova a uma Tomografia Axial Computorizada (TAC), a fim de obter uma imagem Computorizada 3D da mesma. Para esta fase do processo recorremos a uma clínica médica especializada neste tipo de técnicas. Do processo já resultou material rico a nível plástico e com uma vasta margem para novas interpretações. O melhor exemplo disso é o vídeo resultante da montagem, em sequencia, das imagens dos cortes captadas pelas leituras do TAC, onde mostra em movimento, todo o interior da escultura, em madeira. Feita a leitura 3D procede-se agora à construção da maqueta seguida da construção da nova obra. Nesta nova fase usamos um bloco de mármore de Estremoz com aproximadamente 2,5 m de altura, cortamo-lo em fatias de 2 cm de espessura e damos forma ás varias placas em função das leituras que obtivemos no TAC, mas com outra escala. Por fim voltamos a montar o bloco de mármore, agora com uma nova forma. Uma imagem de São Paulo do século XVIII reinterpretado em 2009. Escultura de VOLKER SCHNÜTTGEN Titulo da escultura: Os testamentos segundo São Paulo. A minha proposta escultórica é constituída por três elementos: Dois blocos de rocha calcaria (moca creme ou brecha marítima) do mesmo tamanho (cada bloco: 180 x 130 x 50cm) separados por um vidro de 272 x 176 cm. Um dos blocos está colocado de uma forma estável numa das suas faces, o outro num estado de equilíbrio em cima duma aresta; plasticamente um jogo entre permanência e dinamismo. O vidro é elemento separador, mas a sua transparência permite continuidade da imagem. Os dois blocos representam as duas metades de um livro. Livro e espada são os signos do São Paulo, representados em muitas imagens do santo. A vida do São Paulo é caracterizada por uma ruptura radical: de um defensor militante da ordem antiga converteu-se para um dos mais activos lutadores da nova era do cristianismo, que quebrou com as fronteiras do mundo judaico e levou a nova doutrina para o mundo pagão. Não foi autor de um dos livros do Novo Testamento (como não conheceu Cristo pessoalmente) mas enriqueceu-o por muitas letras. Pretendo de uma linguagem lapidar no sentido da origem da palavra (=que diz respeito a lápide, esculpido nitidamente na pedra, à procura da clareza) representar esta mudança na vida de São Paulo; uma vida que provocou como poucas outras a cisão entre a doutrina ortodoxa judaica e a nova abertura do cristianismo, e na sua consequência a globalização desta nova religião. Escultura de PAULO NEVES Este projecto surge no âmbito do simpósio de arte sacra de Felgueiras cujo tema é “São Paulo”. A obra é executada em mármore de Estremoz, raiado de rosa, com altura de 3mx1,5m por 20cm, colocada numa base de betão de 0,70×0,70×1, revestida a aço corten. Na base é recortada a frase “Tornei-me tudo para todos” (1 Cor 9, 22b) – palavras de São Paulo retirada da sua primeira carta aos Coríntios. É este o conceito-base de toda a obra que toma a forma de uma folha de carvalho. O local onde a obra será colocada foi o espaço de uma árvore e ao seu redor, muitas outras dão vida ao ambiente. A folha de carvalho é, por natureza, uma folha caduca e como tal, símbolo de renascimento, morte e ressurreição. Para os druidas, membros de uma elevada estirpe de Celtas, o carvalho era uma árvore sagrada. Aliás, a palavra druida é de origem céltica, e segundo o historiador romano Plínio – o velho, ela está relacionada com o carvalho – etimologicamente, relacionou a voz druida com o nome grego drãj «carvalho», certamente pela importância que nos cultos religiosos druídicos tinham esta e outras árvores. Nas clareiras, no coração das profundas florestas, sob os carvalhos, os Druidas transmitiam pacientemente aos seus discípulos a sua sabedoria imemorial. Para os Romanos, o carvalho era também símbolo da alma humana. Estes simbolismos provocaram a escolha da folha de carvalho para representar São Paulo que se “fez tudo” para todos.

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