Padre José Manuel Pereira de Almeida afirma que é necessário ir além dos diagnósticos sobre o SNS e “discutir as terapêuticas”, em conjunto
Lisboa, 26 jun 2022 (Ecclesia) – O Coordenador da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde afirma que continua a ser um risco ter “a medicina a dois ritmos” e defende práticas médicas atentas “a todos e não aos que podem pagar”.
“Eu creio que é bom não termos uma medicina a dois ritmos. Lembro-me de, nos anos oitenta, ver escrito na Avenida de Berna, ali ao pé da Igreja de Fátima, algo que se dizia que tinha sido escrito pelas anarcas e dizia mais ou menos isto: ‘os ricos com médicos privados e os pobres privados de médicos’. E isso continua a haver como risco”, afirmou o padre José Manuel Pereira de Almeida na entrevista Renascença/Ecclesia desta semana.
Para o sacerdote, médico, especialista de Anatomia Patológica que é atualmente vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa, é necessário ter uma medicina “particularmente atenta a todos e não aos que podem pagar”, garantindo cuidados de saúde de forma universal.
“Parece que afinal os que podem pagar têm uma medicina melhor. Era uma coisa que não acontecia quando eu estava nos hospitais, porque o sector privado era pequeníssimo”, afirmou.
Referindo-se à morte do bebé no Hospital das Caldas da Rainha, o sacerdote disse que “é importante que não fique agora no esquecimento porque já não é notícia” e disse que a tragédia “vai marcar aquela mãe e a família”.
Na entrevista Renascença/Ecclesia, o padre José Manuel Pereira de Almeida analisou a situação atual do Sistema Nacional de saúde e defendeu que “os serviços de saúde é que têm que estar organizados de forma a que as pessoas possam ter os melhores serviços, nos melhores lugares”.
“As esperas são mais que muitas. É sabido que o número de médicos de medicina geral e familiar não cobrem, nem de perto nem de longe, o número dos cidadãos portugueses. É de facto uma ponta do icebergue, mas a culpa não está nos cidadãos, seguramente. Está na organização do Serviço Nacional de Saúde”, defendeu.
Para o padre José Manuel Pereira de Almeida, é necessário ir além dos diagnósticos dos cuidados de saúde e “discutir as terapêuticas”, em conjunto.
“Eu creio que as partes sociais ou institucionais, ou seja, quer os académicos, quer o setor do Estado, o setor social e o setor privado, quer a Ordem dos Médicos, a Ordem dos Enfermeiros para só dizer duas importantes; e os sindicatos respetivos, os representantes das associações dos doentes estão preparados para o diálogo”, afirmou.
Questionado sobre os reflexos de uma possível despenalização da eutanásia no Sistema Nacional de Saúde, o coordenador da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde, “pode acontecer que essa função seja atribuída a um grupo privado ou a dois grupos privados que, esses sim, tem médicos e funcionários para a eutanásia”.
O padre José Manuel Pereira de Almeida disse que “é muito provável” que o presidente da República vete o diploma, lembrando que “os senhores deputados fizeram pequeníssimas alterações” e eu “não respondem às questões que o Tribunal Constitucional tinha colocado”.
O coordenador da Comissão Nacional da Saúde defendeu também o envolvimento das paróquias na assistência religiosa nos hospitais, afirmando que é “missão de todos os batizados, nas comunidades em que vivem”.
Entrevista conduzida por Paulo Rocha (Ecclesia) e Henrique Cunha (Renascença)
PR