Novo programa propõe abertura inter-cultural e multireligiosa A abertura do novo ano educativo traz novidades de monta para a área curricular disciplinar de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC). Na verdade, a apresentação de um novo Programa significa um passo histórico no evoluir de uma vertente da Educação, a qual, mau grado todas as dificuldades criadas, por factores externos e internos, tem resistido e dado provas da sua necessidade em sistema educativo que se queira plural e livre. Os motivos fundamentais da mudança são os principais desafios externos que se colocam à EMRC. Em primeiro lugar, as mutações culturais, que provocam esta área do saber a tornar-se cada vez mais, e de acordo com as orientações do Directório Geral da Catequese, um saber transmitido com o rigor dos outros saberes e em sinergia com os mesmos, para dar chave hermenêutica de interpretação da vida de onde vimos (reconhecimento do percurso cultural) e inspirar a construção de uma matriz cultural iluminada pelos valores evangélicos, que origine práticas sociais decorrentes. Isto significa que o desenho confessional da “disciplina”, sem perder a sua identidade, tem de se revestir abertura inter-cultural e multireligiosa evidentes. Não é para suscitar discípulos de Jesus Cristo. Mas é para consolidar a fé dos que o são, por uma desinibida inserção na cultura deste tempo, com capacidade crítica. E, para os não crentes ou de outros credos, a oferta de uma interpretação existencial da vida, da pessoa, do mundo, da história, que, porventura, suscite interesse e curiosidade e, quem sabe, motive para uma busca a caminho do Evangelho. Depois, há áreas do saber que, tocando aspectos que se prendem com o saber religioso, ou o omitem ou o distorcem (história, ciências da vida e da natureza filosofia…). Surge aqui o desafio da interdisciplinaridade, que, sem invadir terrenos de especialidade, proporcione uma visão sem preconceitos dessas mesmas áreas do saber e motive os seus professores a alargarem os seus horizontes. Em terceiro lugar, face à deserção sensível da população aderente, por virtude de uma cultura de crença sem vínculos de pertença ou de uma pertença fluida porque pouco crente, a reformulação de temáticas, a sua reorganização, a inclusão de novas e, sobretudo, a vertebração do programa por competências – manter sempre a perspectiva de ultrapassar os saberes inertes, para propor caminhos de saberes em uso, neste caso desabrochando em capacidades e atitudes palpáveis de cidadania ou compromisso cristão – darão uma ideia da utilidade e eficácia desta área curricular disciplinar. O programa é suficientemente aberto para provocar a criatividade permanente, de materiais e experiências, de práticas pedagógicas dinâmicas e diversificadas. Para vencer o laicismo militante, que ignora ou faz obstrução à EMRC, o corpo de docentes tem de ser qualificado por uma formação inicial competente, sempre em crescendo por uma formação permanente de qualidade. A sua presença nas comunidades educativas não pode ser de passagem; têm de ser os primeiros, esses professores, a empenharem-se na gestão curricular e no projecto da escola. A qualidade da área e do desempenho de quem a ministra é também a forma de vencer a apatia de muitos responsáveis de educação, que lhe perderam o sabor ou andam demasiado distraídos. O diálogo institucional, a todos os níveis, urge que seja suportado por uma perfeita articulação dos responsáveis nacionais, diocesanos e locais. Sem complexos, de igual para igual: a Igreja é uma força social, é um laboratório de cultura com provas históricas irrefutáveis, o programa de EMRC pode ombrear com outros quaisquer programas. Deixar-se tratar por insignificante é pactuar com uma fúria educativa totalitária, que lesa os mais elementares direitos da liberdade de aprender e ensinar. Entregar-se passivamente ao domínio do Estado é omitir o grave dever de continuar a ser um ingrediente no plasmar da matriz cultural emergente. Querubim Silva, Conselho Nacional de Educação