Empenhados no desenvolvimento integral

Mensagem do Bispo da Guarda para a Quaresma 2006 1. A Quaresma é caminhada em direcção à Páscoa. Na Quarta-feira de Cinzas, iniciamos uma caminhada de renovação pessoal e comunitária em direcção à Páscoa. Páscoa que celebra a Pessoa de Jesus Cristo Morto e Ressuscitado, com Sua vitória sobre as forças da morte, mas também a Vida Nova dos fiéis enxertados em Cristo pelo Baptismo. Este tempo de 40 dias, em que preparamos a Páscoa, podemos considerá-lo o grande retiro de todo o Povo de deus. Durante a Quaresma, Cristãos e comunidades cristãs procuram contrapor à cultura dominante da diversão a nova cultura da conversão. A Quaresma é, de facto, por excelência, o tempo da conversão, entendida esta como mudança de vida, a começar pela mudança de mentalidade e de coração. O jejum, a esmola, a oração mais intensa, incluindo a escuta da palavra de Deus, juntamente com o Sacramento da reconciliação, são os meios tradicionais de conversão especialmente recomendados na Quaresma. 2. Empenhados no desenvolvimento integral A conversão faz-nos voltar para Jesus Cristo. É a Ele que nós queremos converter-nos – e, a partir d’Ele e com Ele, faz-nos também percorrer os caminhos da autêntica caridade cristã. Como Cristo, que, ao ver as multidões, se encheu de compaixão por elas (Mt.36) desejamos deixar-nos também nós condoer pelas necessidades dos nossos irmãos e sobretudo peja tarefa de os ajudar a promover o seu verdadeiro desenvolvimento. O papa Bento XVI na sua mensagem para a Quaresma, convida-nos a dar atenção ao desenvolvimento integral e a descobrir formas sempre novas de intervir no seu processo, remetendo para a Encíclica “Populorum Progressio” de Paulo VI (Maio 1967). Aí se diz o seguinte sobre o que se deve entender por desenvolvimento integral: “a única realidade que conta no mundo é o homem, cada homem, cada grupo de homens, até chegar à Humanidade inteira” (cf. n° 14). Se o ser humano é a única realidade que conta no mundo, ele tem de ser a medida do desenvolvimento, o qual, por sua vez, só será verdadeiro quando promover todas as suas dimensões, sem excluir nenhuma. E, na verdade, qualquer sã antropologia, e também a do Evangelho, diz que nós somos corpo, mas também nos sentimos estruturalmente abertos para a relação. Relação com os outros, pela intersubjetividade; com a natureza, pela necessidade de a conhecermos e dominarmos; de cada um com o mistério profundo da sua consciência; relação sobrenatural com Deus. 3. Dimensões do desenvolvimento integral Verificamos que o desenvolvimento é um tópico chave na vida dos povos e seus governos na actualidade. Os povos do mundo dividiam-se, algumas décadas atrás, entre povos desenvolvidos e povos subdesenvolvidos, passando estes agora a designar-se por povos em vias de desenvolvimento. Hoje está na moda contabilizarem-se, com regularidade, os índices de desenvolvimento de cada país e cada, grupo de países, fazem-se “rankings” e impõem-se regras para atingir metas mais altas de desenvolvimento. Mas geralmente é só do desenvolvimento material ou económico que se trata, aquele único que a globalização tem sabido controlar. Raramente se implica o desenvolvimento pessoal e comunitário nesses números frios. Como cristãos, sentimo-nos obrigados a participar na promoção de um desenvolvimento capaz de gerar condições de trabalho verdadeiramente humano e digno e também de combater o desemprego. As pessoas nunca podem ser tratadas como peças de engrenagem e o trabalho, antes de ser um meio de produção, é para cada um de nós lugar da sua realização pessoal. Mas também é preciso criar empregos e combater o desemprego. Sentimos que aqui estamos a tocar num dos maiores e mais graves problemas que se colocam às sociedades desenvolvidas da Europa, incluindo a nossa – o desemprego. E se tivermos em conta algumas teorias e até práticas ditas de sucesso, que reduzem os lugares de trabalho, substituindo-os por tecnologias avançadas, com efeitos positivos no rendimento económicos então sentimos mais ainda que o problema se agrava. Todavia, continua a ser verdade que no desenvolvimento deve haver lugar para todos, incluindo trabalho para todos. Queremos um desenvolvimento gerador de riqueza, mas que seja também riqueza para todos. Infelizmente, os indicadores sociais e particularmente do nosso país dizem que a riqueza tende para se concentrar e a pobreza tende a alastrar. Precisamos de aperfeiçoar os mecanismos da produção. E tanto mais quanto sabemos que os índices de rendimento do nosso país continuam a divergir dos países da Europa dos 25. Mas também precisamos de os completar com outros mecanismos que promovam a justa distribuição dos bens produzidos. É lugar comum dizer que um dos factores do nosso atraso no desenvolvimento económico relativamente a outros países do nosso enquadramento europeu é o baixo nível da cultura, do conhecimento e da educação do Povo Português. Não é só por razões económicas que precisamos de promover a cultura, o conhecimento e a educação das pessoas. É o desenvolvimento pessoal e mesmo social que o exige. A cultura é o ambiente necessário ao desabrochar e ao crescer de cada pessoa. A educação, considerada como o conjunto das condições indispensáveis para que cada um possa construir o seu próprio projecto de vida pessoal e também para iniciação à vida comunitária, é factor determinante da qualidade de vida dos cidadãos. O conhecimento, e agora com o recurso às novas tecnologias que o tornam cada vez mais acessível, é fundamental para transformar cada cidadão em verdadeiro actor social com capacidade para participar activamente nos centros de decisão. A defesa e a promoção da vida humana e da Famí1ia é o grande critério aferidor da justeza do desenvolvimento. O verdadeiro desenvolvimento gera e alimenta uma cultura de vida e opõe-se à cultura da morte, assim como à mentalidade anti-família. Finalmente, faz parte de uma sã e equilibrada compreensão da Pessoa Humana a sua abertura para os valores de Deus e do sobrenatural. É por isso que a dimensão religiosa e dos valores da Fé, em sua expressão individual, mas também social e comunitária, tem de estar presente em qualquer projecto de desenvolvimento sério. 4. A nossa renúncia quaresmal Apresentadas que aqui ficam as linhas mestras do desenvolvimento integral, é preciso não esquecermos que a nossa conversão, nesta Quaresma, implica também solidariedade material com projectos de desenvolvimento concretos que merecem ser apoiados. Por isso, decidimos dirigir a nossa renúncia quaresmal, este ano, para 3 projectos conduzidos por missionários cujas congregações têm comunidades instaladas na nossa Diocese, a saber: l°) A compra de um barco necessário ao trabalho missionário do Padre Elísio do Rosário Gama, dos Missionários do Verbo Divino, a trabalhar na Amazónia (Brasil) 2°) Apoiar o projecto de construção de um Centro catequético, na Paróquia de S. Miguel Arcanjo Diocese de Santiago, Cabo Verde, conduzido por 2 sacerdotes missionários da Congregação do Espírito Santo, os Padres António Marques de Sousa e Nuno Miguel da Silva Rodrigues. 3°) Apoiar outro projecto chamado de S. João de Brito, em Luanda, desenvolvido por sacerdotes jesuítas sob orientação do seu provincial, o Padre Casimiro Gaspar. Trata-se de um conjunto logístico destinado a cursos de formação, retiros, exercícios espirituais e outros encontros de cariz pastoral. Vamos ser generosos porque a solidariedade alarga os horizontes da nossa Fé e também dos nossos projectos humanos, pessoais e familiares. D. Manuel da Rocha Felício, Bispo da Guarda

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