Em Setúbal, ensaiamos uma Igreja de braços abertos… como Cristo

João Marques, diocese de Setúbal

O tempo que vivemos entusiasma os nossos jovens.

Num tempo de crises (financeira, sanitária, sociocultural, energética, bélica e até religiosa), acolher a Jornada Mundial da Juventude, em 2023, é uma graça e uma oportunidade de uma dimensão difícil de alcançar aos nossos olhos terrenos.

Eu próprio tenho feito um esforço para entender esta graça de Deus. Em 2019, quando se anunciou a realização da JMJ em Lisboa (na altura para 2022, entretanto adiada para 2023 devido à pandemia), não imaginava as voltas que as nossas vidas iriam dar. Não só pelos desafios do mundo, mas também pelos desafios que são colocados a nós, jovens portugueses católicos.

Organizar uma Jornada Mundial da Juventude não é só organizar um evento. A JMJ Lisboa 2023 é um potencial acontecimento transformador para a vida da Igreja, em Portugal e no Mundo. É a primeira jornada totalmente feita para jovens nativos digitais. É a primeira jornada a colocar no terreno o Sínodo realizado em 2018, sobre os jovens, a fé e o discernimento vocacional, que convida a escutar os jovens e a colocá-los como agentes ativos da vida da Igreja. É a jornada da “Laudato Si”, da “Fratelli Tutti” e da “Economia de Francisco”. É a primeira jornada sinodal. É a jornada que convida os jovens a levantarem-se, a despertarem do alheamento e da autorreferência, a irem ao encontro de Cristo vivo e a testemunharem a alegria desse encontro.

Os jovens estão cá

Tenho sentido, nos muitos contactos que tenho feito com as realidades juvenis da Diocese de Setúbal, que os jovens acolhem entusiasticamente o seu papel nesta Igreja em transformação. Durante o mês de novembro, milhares de jovens (e não só) vibraram, rezaram, emocionaram-se e peregrinaram com os Símbolos da Jornada Mundial da Juventude (a Cruz Peregrina e o ícone mariano “Salus Populi Romani”). Alguns, quem sabe, até iniciaram um caminho de conversão.

Muitos jovens foram a voz e as mãos desta peregrinação, foram o rosto de Cristo e de Maria juntos dos mais frágeis, das periferias, daqueles que não procuram mas que desejam ser encontrados por Jesus. Concretizada com a ajuda de todos, tivemos uma peregrinação dos símbolos sobretudo pensada por jovens que sentiam o ardor missionário e a necessidade de partilhar com outros a alegria de ser Igreja.

Dizia uma jovem, em referência à celebre frase, que “juntos somos mais fortes, mas com Cristo somos imparáveis!”

O que vejo, oiço e sinto é que os jovens estão cá. Estão cá para transformar e para desinstalar. Para aprender e para ensinar, com humildade. Estão cá para construir uma Igreja de portas abertas, do século XXI mas que não esquece a sua história e tradição. Uma Igreja que quer uma relação viva, alegre, profunda e autêntica de Jesus com a sociedade em que se insere.

Ser Igreja de Acolhimento na JMJ Lisboa 2023

Sendo uma Diocese de Acolhimento da JMJ Lisboa 2023, a Diocese de Setúbal tem uma responsabilidade acrescida pois receberá muitos dos milhares de peregrinos que chegarão de todo o mundo entre 1 e 6 de agosto. São jovens, com as suas comunidades e os seus párocos, que estão a preparar este acolhimento nas suas múltiplas vertentes (voluntários, espaços de acolhimento, famílias de acolhimento, divulgação, receção de peregrinos e muitas outras).

Este é um outro desafio para a nossa Igreja: ser uma Igreja de Acolhimento. Nestes dias, em Setúbal, ensaiamos uma Igreja de braços abertos… como Cristo. E não me refiro apenas aos peregrinos da Jornada Mundial da Juventude.

Refiro-me ao nosso novo bispo, por quem esperamos e rezamos.

Refiro-me a todos, sem exceção, no dia a dia, especialmente aos que vivem mais afastados de Jesus e que vivem fora do padrão de valores cristãos. Também aqui, os jovens têm um papel importante: ajudar a acolher todos, sem julgamento, com um sorriso, com a Palavra e com o amor que emana do Espírito Santo.

A seis meses da Jornada Mundial da Juventude, temos o desafio de apresentar esta proposta de Igreja a todos, pois tão depressa não voltaremos a ter esta oportunidade, tão perto de nós.

Na despedida dos Símbolos na nossa Diocese, dizia um jovem: “Nós temos o desafio de trazer todos, e de fazê-los levantar, tentarem, experimentarem algo novo. Todas as pessoas de fora, com o nosso esforço, vão conseguir levantar-se e vão perceber que mesmo que não seja algo para eles é algo que é bom para nós e também é bom para eles”.

É este o desafio: convidar todos os jovens, e também os menos jovens, a fazer este caminho connosco. A organização da JMJ Lisboa 2023 conta com todos: os jovens, e também os menos jovens, em especial para apoiar no acolhimento que é a nossa missão, a nossa responsabilidade e a nossa prioridade pastoral.

Levantemo-nos apressadamente! Nossa Senhora da Visitação, rogai por nós!

 

João Marques, Coordenador do Comité Organizador Diocesano de Setúbal da JMJ Lisboa 2023

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Agência ECCLESIA

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