Eleições na Itália: Igreja activa, mas neutra

A Itália prepara-se para as eleições legislativas de 9 e 10 de Abril num clima de grande divisão entre duas facções, direita e esquerda, representadas por Silvio Berlusconi e Romano Prodi. A Igreja Católica no país não ofereceu nenhuma indicação de voto, mas não permaneceu à margem do evento. A Conferência Episcopal Italiana (CEI) não apoia oficialmente nenhum partido, mas pediu aos políticos que defendam a família tradicional e não legalizem as uniões de facto ou entre homossexuais, ideias que dividem a classe política, pois muitos consideram a solicitação uma ingerência da Igreja em assuntos que não lhe dizem respeito. O Cardeal Camillo Ruini, presidente da CEI, foi um dos principais visados, por ter apresentado de forma clara a posição da Igreja em relação a vários temas “fracturantes” na sociedade italiana. A vaga de secularização e de laicismo parece ter chegado à sede do catolicismo, com muitos a preferirem que as posições católicas sejam remetidas para o “âmbito privado”, ou seja, as quatro paredes das igrejas. O presidente da CEI foi sempre pronto a defender que não se poderia espera que a Igreja fosse “indiferente” à vida da sociedade, e lembrou aos cidadãos e candidatos alguns “conteúdos irrenunciáveis” e “verdades elementares que dizem respeito a toda a humanidade”. Na última grande intervenção pública sobre as eleições, Cardeal Ruini elencou como temas centrais os direitos de cada pessoa – em especial dos imigrantes -, a defesa da família tradicional baseada no casamento entre homem e mulher e o direito dos pais de escolherem a educação dos seus filhos. “O nosso compromisso é o de não nos envolvermos, como Igreja, em qualquer decisão política ou partidária e, ao mesmo tempo, propor aos eleitores e aos futuros eleitos uma série de conteúdos que não se podem esquecer, fundados sobre o primado e a centralidade da pessoa humana”, explicou o Cardeal perante o Conselho Permanente da CEI. As posições da Igreja foram, de forma geral, bem aceites por Berlusconi e Prodi, apesar de alguns grupos aliados de Prodi e movimentos católicos terem criticado “a falsa equidistância dos Bispos italianos”. Embora os candidatos tenham tentado manter a Igreja e as crenças religiosas afastadas da polémica, nos últimos dias de campanha, Berlusconi criticou a esquerda lançando mão da religião para convencer os eleitores de que não podem votar em partidos “que manifestem intenções contra a religião Católica e a Igreja”. Prodi, de procedência democrata-cristã, disse que a fé e os valores “são coisas muito importantes para serem instrumentalizadas” em campanha eleitoral.

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