Eleger

Luís Filipe Soares

Eleger alguém ou algo ou uma ideia é um acto profundamente reflexivo, profusamente pessoal, mas, e ao mesmo tempo, reveste-se de uma transcendência social impactante e estruturante: somos seres comunitários, comunicantes e as nossas decisões individuais manifestam-se positivamente, ou nem tanto na comunidade e na sociedade que nos suportam e nos importam.

Eleger é ler o mundo e as suas circunstancialidades, percepcionar e assimilar as informações (res)surgentes, criteriá-las e conferir-lhes um sentido-sentido. É lermo-nos, e com isso transformar as nossas habituações, as nossas ambições, sonhos e premonições em soluções e realizações significantes que nos irão proporcionar um Bom-tempo… com o Outro: nessa busca incessante, nunca alcançável, jamais desistida: a felicidade como tal.

Eleger é escolher entre várias possibilidades, às vezes infinidades; seleccionar o que mais nos convém em estrita harmonia com o que se adequa melhor à vida em comunidade.

Eleger é colher as utilidades das nossas escolhas e colocá-las ao serviço de todos.

Eleger é recolher os frutos dessas decisões e guardá-los para repartir no amanhã.

Eleger é inteligência, pois decidir entre várias e invariadas opções nem sempre se afigura fácil. Requer um pensamento apurado e depurado para discernir superlativamente as melhores vantagens e arredar as piores desvantagens.

Eleger é elegância que se transmuda em exigência substantiva e não aceita facilmente todas as obviedades apresentadas.

E eleger é o que de facto vamos fazer nestas próximas eleições, e é somente este processo reflexivo (como se fosse pouco!) que temos de gerar para que as nossas escolhas sejam do interesse pátrio.

Bem sabemos que as eleições deveriam proporcionar tempos de reflexão e planeamento activo e construtivo; mas, não raras vezes, tornam-se num quase tormento; tanto é o ruído mediático e imediato. E também é por isso mesmo que a Democracia está e permanecerá em crise sempre que a degradação moral e de valores, a estupidificação constante e crescente, a simplificação bacoca, as soluções instantâneas e milagrosas, a mentira descarada, o engano propositado, a omissão sonsa, o bem-comum menorizado, o poder inebriado e endeusado… forem, todas elas, características e modos de actuar identitários dos partidos: os seus representantes e representados falam de mais; ouvem de menos e fazem… o que fazem! E parece que, historicamente, não há maneira de melhor fazerem!

De facto, os partidos e logo nós (quer queiramos quer não, até porque ainda não se encontraram alternativas e formas e fórmulas a este sistema democrático) estamos numa encruzilhada. O modelo civilizacional ocidental (de matriz judaico-cristão é preciso dizê-lo) está a ser acossado por outras visões e imposições que, inusitadamente, são também fomentadas a partir de dentro (o wokismo anda por aí…) querendo minar esta herança cultural e com isso destruir (ou pelo menos desconstruir (intencionalmente ou não) este nosso modo de vida e de estar perante ela mesmo…

Contudo e apesar de tudo e até por causa disso tudo, as eleições tornam-se de especial relevância; votar- esse acto de um desejo enraizado que quer ser conducente a uma mudança auspiciosa; essa promessa de intencionalidades que se fazem acção e se espera (sempre) fecunda- é medular. E ainda que interessem (e muito) os desapontamentos constantes e não menos importantes com que as elites e os eleitos teimam em nos mimosear, votar ainda será a melhor forma de germinarmos uma mudança primacial e substancial no modo como toda a sociedade portuguesa opera a partir de si…

Reflictamos consciente e racionalmente, e votemos. Para eleger… bem; ou pelo menos, o melhor, nos possíveis!

Luís Filipe Soares- Vila Mendo- Guarda

 

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