Professora colocada a 150 km de casa revela o «difícil tempo de confinamento» entre as aulas e o acompanhamento de dois filhos
Lisboa, 26 jun 2020 (Ecclesia) – Liliana Ventura, professora de Educação Moral e Religiosa Católica e mãe de dois filhos, afirmou à Agência ECCLESIA que o fim do ano letivo é feito com tristeza nas despedidas, gestão de emoções e incertezas perante o futuro.
“Ontem tivemos uma despedida de 4º ano, que costumavam ter festinha de finalistas e ligou uma colega a dizer que os alunos estavam muito tristes porque vão para a escola básica 2, 3 e a pedir para nos juntarmos; estivemos em alegre festa online com eles, o professor titular, o de inglês, eu, como professora de EMRC e os meninos que puderam estar, as mães e via-se que estavam felizes por perceber que estávamos com eles”, contou à Agência ECCLESIA.
A professora do Agrupamento de Escolas do Sudeste de Baião disse que este foi um “final de ano diferente” e, apesar da “confusão”, todos os alunos “conseguiram manter-se a fazer os trabalhos”, reafirmaram o valor da escola, confessando “ao longo do tempo que até já tinham saudades das aulas” e das relações com amigos e professores.
“Houve sobretudo a relação dos professores também com os pais, uma ajuda e atenção da maioria dos pais, uma grande envolvência, era necessário para ajudar as crianças que não são autónomas, como dos 1º aos 6º ano”, reforça.
Estando colocada a 150 km da área de residência, Liliana Ventura passaria a semana “fora de casa” em situação normal e sentiu-se feliz pelo confinamento lhe poder proporcionar estar mais próximo da família.
“Por um lado fiquei feliz e pensei que era uma oportunidade para acompanhar os meus filhos mas cheguei à conclusão que não foi bem assim. A gestão é complicado, quando começaram as aulas todas, foi uma complicação de computadores, tablets e questões informáticas… Conseguiu-se com muita calma, ponderação e irritações pelo meio”, confessa.
Liliana Ventura deparou-se com a realidade de todos os alunos do agrupamento estarem inscritos na sua disciplina e tinha turmas do 1º ao 9º anos, estes mais velhos, que muito sofreram em dias de despedida, “não se sentindo preparados para seguir para o 10º ano”.
“Com os alunos do 9º ano, que estão na indecisão, fizemos testes de personalidade para se conhecerem melhor e partilharam que gostaram muito, eles gostam de se sentir reconfortados, esta pandemia trouxe muita união entre os intervenientes da comunidade educativa e sermos mais próximos”, afirma
Como docente de EMRC, valoriza a proximidade que consegue ter com os seus alunos, “algo que a fascina”, e que em tempo de pandemia trouxe essa confirmação “nos pedidos de ajuda, nas mensagens” que recebia e que criou vários grupos em redes sociais.
Mãe de dois filhos, com 11 e 7 anos de idade, e com o marido a trabalhar, a professora teve de gerir o tempo entre as aulas e a “frustração” de não conseguir acompanhar os filhos.
“Tirar do meu tempo profissional para os ajudar, eles precisam do acompanhamento e eu era a única, porque o meu marido continuou a trabalhar e estava eu a gerir tudo cá em casa, sinto que pessoalmente falhei em muitas coisas mas não me posso culpabilizar porque fazia o melhor que conseguia”, assume.
“Ainda bem que acabou este ano letivo”, desabafa a professora, afirmando que foram tempos de “valorizar outras brincadeiras, ensinar as tarefas de casa e até fazer pão”.
“A questão como pais, que é complicada, é da informatização e a dependência deste ano letivo ligado à informática. Eles não conseguem gerir o tempo no tablet, por exemplo… Isso preocupa-me no próximo ano letivo, a informatização do ensino: eles precisam dos computadores para as aulas mas depois como impor limites?”, questiona.
Na família mais alargada a professora e mãe encontrou a união e proximidade “através de grupos de whatsapp” que foram mantendo os laços durante o tempo de pandemia, como forma de estarem unidos, desde “Sever do Vouga até à Nova Zelândia”, sentindo que a união e a ligação fica mais próxima.
SN