Dois professores, de realidades diferentes, partilham as mesmas dificuldades do novo método de ensino e muitas preocupações para o futuro
Lisboa, 27 jun 2020 (Ecclesia) – Teresa Correia e António Rodrigues são professores de escolas públicas diferentes que, neste fim de ano letivo, partilharam com a Agência ECCLESIA o mesmo sentimento de um “ano incompleto”, onde não se fecharam ciclos e surgem incertezas de futuro.
Teresa Correia, é professora de Português e Francês no Agrupamento de Escolas Mário Sacramento, em Aveiro, e disse que esta sexta-feira vai ficar na sua memória como “um dia muito difícil”.
“Chegamos ao fim do ano letivo com um sabor amargo, uma despedida é sempre triste, ainda hoje tive de me despedir da minha direção de turma, um 9º ano que não vamos mais trabalhar juntos, e tivemos uma despedida muito emotiva”, confessa a professora à Agência ECCLESIA.
A docente tentou manter o ritmo das aulas presenciais, em tempo de pandemia mas considera que não funcionava, “não é a mesma coisa, falta o estar, a presença, a relação, os olhares” o que deu lugar às câmaras que não eram ligadas e a “estarem escondidos atrás dos ecrãs”.
Teresa Correia, com turmas de 30 alunos, optou por dar aulas em turnos, o “ambiente de casa gerava desconcentração” aos adolescentes e sentiu que já tinham saudades da escola.
“Diziam que tinham saudades de estar na sala de aula, tive alunos que não saíram de casa mesmo durante este tempo todo e o facto de estar com eles online e através de email foi muito importante mas não me tirem o estar na sala de aula; é importante fechar ciclos e isso não aconteceu”, desabafa.
Depois de um 3º período de aulas online, onde “faltou também a troca de impressões com outros colegas e o ambiente de sala de professores”, a professora aveirense valoriza a “boa relação com os encarregados de educação” e olha o futuro com apreensão.
“Quero muito voltar à escola mas espero que haja ideia de reduzir o número de alunos por turma ou dividi-los por turnos porque as salas têm de respeitar as normas da distâncias entre alunos, acredito que será um misto de aulas presenciais e online mas temos de ter tempo para reinventarmos novas formas de atuação e há muito a repensar no ensino”, refere.
A cerca de 300 km de distância está o professor António Rodrigues, que dá aulas de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) na Escola Secundária de Amora, em Setúbal, mas o final do ano letivo não foi diferente.
“Deixou a sensação de um ano incompleto, porque houve uma despedida que não é feita da melhor maneira, foi terminar abruptamente… Eu desafiei os alunos a fazer um mini balanço e tive ecos deste tempo, que apesar de tudo foi positivo, mas nada se compara aos anos anteriores, em que havia calor humano, o poder conversar, trocar impressões e partilhar sonhos”, explica à Agência ECCLESIA.
António Rodrigues leciona EMRC do 7º ao 12º ano, a pandemia “obrigou a repensar a relação educativa” e pediu uma solução “com o comboio em andamento”, uma realidade que não deixou tempo para preparação e abriu espaço a muitas dificuldades.
“Vários alunos não tinham relação com as tecnologias ou o até o próprio recurso financeiro para aceder, as ligações eram mais fracas, faltavam câmaras; eu tinha de desligar os microfones de todos e o ensino a distância tornou-se muito difícil no início”, assume.
António Rodrigues arranjou estratégias para ir “captando a atenção dos alunos” mas foi percebendo outras realidades como “famílias desestruturadas que ficaram sem possibilidades de acesso” e os alunos deixavam de aparecer, “razões difíceis de perceber à distância”.
Como professor de EMRC sempre tentou “levar a realidade para a sala de aula” para que os alunos “percebessem o seu lugar na sociedade” e mesmo online foi possível o debate.
“Neste período fizemos uma palestra adaptada, dividida em duas aulas abertas com convidados de países diferentes, no contexto da pandemia noutras realidades, para alunos do 9º ao 12º ano e o diálogo proporcionado, através das novas tecnologias, marcou sendo diferente da rotina das aulas online”, explica.
Olhando o futuro o docente acredita que no próximo ano letivo “haja a possibilidade de ensino à distância”, espera maior preparação para os alunos e encarregados de educação, pois há “uma nova de forma de se continuar, a escola está diferente e serão muitos os desafios que nos esperam em setembro”.
SN