Educação é a melhor arma para combater pobreza infantil

A educação é a melhor arma para combater a pobreza infantil, um problema que afecta uma em cada seis crianças portuguesas. Educação na família, na escola e na sociedade, diz Teresa Costa, responsável pela Confederação Nacional de Acção Sobre o Trabalho Infantil (CNASTI), mostrando-se surpreendida com os dados revelados recentemente por um estudo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Aquela responsável sabia que o futuro de muitas crianças estava ameaçado pelas condições sociais em que vivem, mas não conhecia a real dimensão da situação. Teresa Costa refere que o desemprego veio aumentar consideravelmente a fragilidade de muitas famílias. Nestes casos, as crianças e os idosos são os primeiros a sofrer as consequências da falta de salários. No entanto, a questão não se restringe a factores económicos, assenta fundamentalmente numa mudança de atitudes e valores. Portugal aderiu de um modo extraordinário à sociedade de consumo, mas não investiu na qualificação dos cidadãos. E os resultados estão à vista. A escola é a primeira a ser negligente quando surgem dificuldades, repara a presidente da CNASTI, observando que «quando não há dinheiro a primeira decisão é retirar o menino do infantário ou do ATL», mas não há cortes no uso do telemóvel ou roupas de marca. Muitas vezes, o insucesso dos filhos resulta da falta de orientação dos pais, nota Teresa Costa, frisando que há muitos encarregados de educação que estão apáticos, depressivos e sem grandes perspectivas de vida. Um sentimento que os mais novos apreendem e tendem a reproduzir. Teresa Costa lamenta que haja adultos indiferentes ao facto de os menores não serem bem sucedidos nos estudos e até mesmo abandonarem a escola. Regra geral, estes adolescentes saem do ensino, quase sempre, para irem trabalhar. Ou melhor, para conseguirem meios que lhes permitam adquirir os bens [supérfluos] que os pais deixaram de poder dar. Aquela responsável não tem dúvidas de que a desmotivação dos pais se traduz na tristeza dos filhos. A agressividade e o desinteresse demonstrado por muitos petizes vem de casa, onde a retaguarda parental falha. Contudo, a presidente da CNASTI está convicta de que o actual quadro de pobreza infantil não é diferente do de há 20 anos. Ganhou foi outros contornos e, felizmente, mais visibilidade. Em seu entender, a realização de estudos científicos contribui para alertar as pessoas e as entidades para esta causa e, eventualmente, despoletar medidas de prevenção. E no que toca a políticas de intervenção, Teresa Costa é peremptória: «dar dinheiro é o mais fácil, mas não resolve o problema». É imprescindível avançar com uma acção integrada e articulada, não só junto dos mais novos, como das respectivas famílias. Para isso, recomenda, é necessário pôr técnicos a trabalhar no terreno, que façam o devido acompanhamento e avaliação dos apoios concedidos. Mais importante que a atribuição de subsídios é a criação de projectos de vida, a alteração da forma de estar e agir dos encarregados de educação. Portugal continuará a ter uma taxa de pobreza infantil excepcionalmente alta enquanto não tiver como prioridade as crianças e a sua formação, comenta Teresa Costa, acrescentando que cada um de nós pode contribuir para a construção de gerações mais felizes e mais capazes. Em sua opinião, este caminho implica incutir nas camadas jovens sentido de responsabilidade e pôr de lado o facilitismo, que tomou conta da população em geral. Hoje, repara Teresa Costa, as crianças têm a percepção que não custa obter aquilo que a publicidade vende. Os conflitos emergem quando os mais velhos não têm possibilidade de lhes comprar. Aí, pouco habituados ao “não”, vão à luta, usando os mais variados métodos, alguns de índole criminosa. Não é difícil encontrar crianças a passar droga, até nos meios rurais. Governo precisa de investir no desenvolvimento humano A presidente da Confederação Nacional de Acção Sobre o Trabalho Infantil (CNASTI) diz que o Governo precisa de investir mais no desenvolvimento humano. Até agora, as prioridades têm sido o desenvolvimento económico, com avultados investimentos em infra-estruturas. Teresa Costa considera que as políticas sociais e educativas devem ser revistas. Não se admite que não haja psicólogos nas escolas, nem professores para o ensino especial. Em sua opinião, é preciso apostar na prevenção, de modo a potenciar a diminuição de riscos e danos. De outra forma, não poderá haver progresso humano e social. A pobreza continuará a avançar sobretudo entre as camadas mais vulneráveis. Teresa Costa recorda que a CNASTI já provou que com alguns meios é possível conseguir bons resultados. A luta contra o trabalho infantil foi muito profícua. Embora a sua erradicação seja uma miragem, esta “praga” deixou de comprometer o salutar desenvolvimento de muitas crianças no país. As dificuldades económicas têm sido o pretexto usado pelo Estado para não destacar os técnicos que a Confederação anualmente tem pedido. Teresa Costa refere que há cinco anos que solicita ao Ministério da Educação o destacamento de professores, mas o pedido não tem sido deferido. O mesmo se passa com outras associações, que, segundo aquela responsável, têm vontade de trabalhar, mas não dispõem de recursos para levar avante as acções programadas. Resta a esperança que os novos governantes sejam mais sensíveis a estas causas.

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