Economia solidária e desenvolvimento local como resposta à crise

Relações de proximidade, sustentabilidade e respeito são via para mercado mais justo e integrador Mostrar que as associações de desenvolvimento local e a economia solidária que assenta em relações de proximidade, de sustentabilidade e respeito são soluções para a actual crise e para os problemas globais, é o objectivo da Manifesta.

Criada em 1994, a Manifesta – Assembleia, Feira e Festa do Desenvolvimento Local, mostra que as situações de pobreza, desemprego, exclusão social, risco de desaparecimento culturas e riscos ambientais “são resolvidas não por entidades macro, mas por estas organizações locais”, explica à Agência ECCLESIA Rogério Roque Amaro, professor de economia do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – ISCTE.

Lamentavelmente, estas respostas “não chegam a ser conhecidas pela sociedade civil”. “Não dão nas vistas, são de pequena dimensão, são localizadas em locais marginais, em localidades periféricas e para onde os holofotes da comunicação social não estão virados”.

Roque Amaro reconhece que falta marketing social. “Não temos esse hábito”, regista, mas “é possível fazer diferente sem cair no marketing das empresas normais”. O professor lamenta também que os outros parceiros “olhem para nós de soslaio e como associações que fazem coisas interessantes mas num mundo à parte”.

A Manifesta realizou recentemente o seu sétimo encontro anual, envolvendo cerca de 150 a 200 associações a nível nacional. O encontro quis mostrar que “só há solução para a crise mundial e sustentabilidade para o Séc. XXI se os três parceiros da economia se articularem” – empresas de economia de mercado, o Estado e as associações de desenvolvimento local. Respeito, conhecimento e reconhecimento de igualdade” são a chave para a conjugação do caminho.

A economia de mercado e a aposta no desenvolvimento local defende “valores e conceitos que não estão ainda na ordem do dia – solidariedade, sustentabilidade, economia articulada com cultura e ambiente”, indica Roque Amaro.

Mas o dia-a-dia mostra que a conjugação das três parceiros  é possível.

A alternativa da economia solidária retoma algumas iniciativas com décadas de história, mas alia também a criatividade inovadora das novas gerações. Roque Amaro exemplifica com um programa de Capital de Risco Solidário que está, actualmente a desenvolver juntamente com alunos do ISCTE, que visa, “através de poupanças voluntárias, criar um fundo de apoio a micro empresas para pessoas em situação de pobreza em São Tomé e Príncipe”.

Mas há mais e já em desenvolvimento. Sistema de micro crédito e apoios financeiros alternativos para as populações que pretendem ter acesso a créditos para manterem, criarem ou salvarem os seus negócios e que não tem acesso ao sistema normal de financiamento, desenvolvimento de sistema de trocas solidárias em São Brás de Alportel, possibilitando outra moeda de troca.

A economia solidária sistematiza a solidariedade que havia nas economias pré-industriais. “A partilha do pastoreio, utilização do forno comunitário, ou até mesmo os serviços não mercantis entre vizinhos”, centra Roque Amaro, acrescentando que “há muitos problemas que vão sendo resolvidos, mesmo sem publicidade”.

A economia solidária e o desenvolvimento local “não pode ser vista como algo marginal, mas como um caminho essencial no Século XXI, quer como resposta à crise actual, mas também como solução para outros grandes problemas como o ambiental ou a pobreza e exclusão social, diálogo intercultural”. Um dos objectivos passa pela criação de uma secretaria de Estado da Economia Solidária.

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