Encontro no Centro de Reflexão Cristã destacou centralidade da «pessoa dos últimos»
Lisboa, 18 set 2019 (Ecclesia) – O Centro de Reflexão Cristã (CRC) promoveu esta terça-feira um colóquio dedicado à ‘Economia de Francisco’ com o professor e investigador Carlos Farinha Rodrigues e o padre José Manuel Pereira d´Almeida, vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa.
Carlos Farinha Rodrigues disse à Agência ECCLESIA que a mensagem do Papa e a sua reflexão sobre a economia “têm uma importância que transcende a própria Igreja Católica” e têm a ver com “o futuro da própria sociedade”.
Neste contexto, destacou três aspetos na intervenção de Francisco que “são extremamente importantes” sobre a economia, a começar pelo “combate às desigualdades e exclusão social”.
“Um aspeto fundamental na intervenção do Papa, corresponde a reforçar a noção de que a Igreja deve ter uma posição a favor dos pobres”, explicou o professor do ISEG – Lisbon School of Economics & Management, indicando como segundo ponto “a dignidade do trabalho”, que, “às vezes, é menos tido em conta”, e por último as “preocupações com a casa comum”.
Já o vice-reitor da UCP disse que a “economia que mata” “não é a dominante no ensino e na investigação” e destaca que nas escolas Católica, em Lisboa e no Porto, há “áreas de economia do desenvolvimento” que procuram “uma economia que faça viver”.
Neste âmbito, o padre José Manuel Pereira d´Almeida realça que a ‘economia de Francisco’ tem no centro “a pessoa e a pessoa dos últimos, dos mais pequenos, dos pobres, para o desenvolvimento humano integral”, como é “apanágio” do que tem vindo a ser desenvolvido desde o pontificado de São Paulo VI, “com linguagens sucessivamente diversas”.
O colóquio ‘A economia de Francisco’ marcou o início das atividades do Centro de Reflexão Cristã – “um espaço de diálogo entre cristãos de diferentes sensibilidades, e entre cristãos e não cristãos” –, depois da pausa do verão.
Em declarações à Agência ECCLESIA, o presidente do CRC destacou que “é muito importante a preocupação” que o Papa Francisco manifesta sobre o que “tem sido a economia dominante e as conceções dominantes sobre a economia”.
“[O Papa] analisou que é uma economia que mata, uma economia que exclui, em que efetivamente há uma degradação do meio ambiente, de uma forma muito acentuada, […] e põe em causa a sustentabilidade do nosso sistema e da terra que queremos deixar às novas gerações habitável”, desenvolveu José Leitão, observando que “é muito importante” o apelo de Francisco em “mobilizar economistas, nomeadamente jovens empresários, numa lógica diferente”.
O Papa convocou jovens economistas, empresários e empresárias de todo o mundo para um encontro de 26 a 28 de março de 2020, na cidade italiana de Assis.
“Pode ter um aspeto positivo no despertar de consciências que precisamos de uma nova visão de economia, do ensino da economia e na forma como nos inserimos na economia”, desenvolveu Carlos Farinha Rodrigues.
O vice-reitor da UCP, padre José Manuel Pereira de Almeida, espera que este encontro de Assis possa ter um “impacto sucessivamente maior” na sociedade portuguesa e no mundo em geral.
Já Carlos Farinha Rodrigues assinala que a mudança de mentalidade “é extremamente difícil”, devido à visão da economia que se “tornou dominante nos últimos anos”, mas é preciso “ter uma economia que seja feita para a pessoa humana e não para o lucro”.
“Não ser fácil não significa que não seja possível, urgente, não significa que não seja necessário”, concluiu o professor e investigador, à margem do colóquio no CRC.
CB/OC