Economia de comunhão

O sistema económico actual parece incapaz de esbater as desigualdades de distribuição da riqueza. O lucro é visto como um objectivo quase exclusivo das decisões económicas, tornando a actividade económica cada vez mais desumanizada. Em Maio de 1991, Chiara Lubich (Fundadora e Presidente do Movimento dos Focolares), durante uma visita ao Brasil – São Paulo, impressionada pelo contraste entre o mar de arranha -céus e uma grande extensão de “favelas”, lançou o Projecto da “Economia de Comunhão na Liberdade” (EdC), como resposta concreta às necessidades ali sentidas. Sob o impulso da Encíclica Centesimus Annus que tinha acabado de ser publicada pelo Papa, Chiara Lubich propôs a actuação de uma comunhão de bens a partir do próprio tecido empresarial. Lançou, então, o desafio aos empresários, no sentido de que os lucros obtidos nas suas empresas fossem livremente distribuídos por três finalidades: (1) uma parte destinada a ajudar os mais pobres, (2) outra para a formação de pessoas com uma mentalidade nova, capazes de agir segundo uma “cultura do dar”, (3) e uma terceira destinada ao desenvolvimento da própria empresa. Este projecto difundiu-se rapidamente, sendo que, hoje envolve já mais de 700 empresas por todo o mundo, que operam normalmente no quadro da economia de mercado, tendo porém o ser humano, e não apenas o lucro, no centro do seu agir económico. Esta ideia não se apresenta, por isso, como uma nova forma de empresa, mas como uma proposta de agir económico que renova, a partir de dentro, as usuais formas de empresa. Também em Portugal, cerca de 15 empresas fazem esta experiência e as suas actividades desenvolvem-se em áreas diversas tais como a saúde, a indústria transfor-madora, a consultoria e outros serviços. O interesse por esta nova realidade chegou já a diversas universidades dos 5 continentes, tendo-se elaborado diversas teses e realizado várias conferências e seminários para estudar o desenvolvimento desta experiência. Para além de uma forma nova de ajudar os pobres, este projecto constitui para muitos uma nova visão da economia, tanto no plano prático como teórico. A este propósito, por exemplo, a Profª. Manuela Silva, numa das três Conferências realizadas em Portugal sobre este tema, lançou a questão: “(…) tratar-se-á de uma mera utopia reservada a alguns experimentos pontuais ou estaremos perante a emergência potencial de um novo paradigma de racionalidade económica, com bases de sustentação suficientemente sólidas para ser susceptível de generalização?” De facto, o projecto de Economia de Comunhão não se concretiza apenas numa forma invulgar de repartir o lucro das empresas, pois baseia-se numa cultura renovada, de raiz evangélica, que pode ser denominada como “cultura do dar”. Tal como afirmou Chiara Lubich em 91, “Ao contrário da economia consumista, baseada na cultura do ter, a Economia de Comunhão é a economia do dar. Isto pode parecer difícil, árduo, heróico, mas não é assim, porque o homem, feito à imagem de Deus, que é Amor, encontra a sua própria realização justamente no amar, no dar. Esta exigência está no mais profundo do seu ser, quer ele seja ou não crente. E é precisamente nesta verificação, confirmada pela nossa experiência, que está a esperança de uma difusão universal da Economia de Comunhão”. Filipe Coelho

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