Centro Domus Carmeli, em Fátima, integra soluções de aproveitamento dos recursos naturais e de luta contra o desperdício
As soluções ambientais adoptadas pelo Centro Domus Carmeli, em Fátima, fazem deste edifício um exemplo no aproveitamento dos recursos naturais e na luta contra o desperdício de água e calor.
O superior da congregação dos Carmelitas Descalços, Pe. Pedro Ferreira, não sabe se a prioridade dada à ecologia está a ser seguida no planeamento de outros edifícios da Igreja Católica. Ainda assim, considera que os projectos que ignoram esta perspectiva acabam por “não beneficiar das possibilidades que a natureza permite”.
Os “sérios problemas económicos” da congregação determinaram que o aspecto financeiro fosse o principal critério na construção do Domus Carmeli.
“Foram feitos estudos que indicavam que o respeito pela natureza nos ficava mais barato”, disse à Agência ECCLESIA o responsável pelo centro.
Para o Pe. Pedro Ferreira, “a preocupação pelas questões ambientais não resulta da espiritualidade dos Carmelitas, embora gostemos de viver em paz com a natureza”.
“É um absurdo estar a comprar água”
O Domus Carmeli adquiriu reservatórios com capacidade para 370 metros cúbicos de água. “O investimento feito nessas cisternas vai ser recuperado a curto prazo”, observou o provincial.
A água armazenada é canalizada através de um sistema autónomo para os sanitários e para a rega dos jardins. “Não perdemos nenhuma gota da chuva que cai na área coberta”, garantiu.
“É um absurdo estar a comprar água, quando na Cova de Iria há dificuldades de escoamento sempre que há grandes chuvas”, referiu o Pe. Pedro Ferreira.
Calor, arrefecimento e isolamento acústico
O responsável pela estrutura assegura que “o revestimento não permite entrar frio no Inverno”.
“A casa demora três ou quatro dias a aquecer”, mas a temperatura distribui-se equitativamente por todos os espaços, esclareceu o carmelita. “E não há problema se o sistema não funcionar durante um ou dois dias, porque os materiais conservam o calor”, acrescentou.
O aquecimento do ambiente e das águas sanitárias é feito através de painéis solares termodinâmicos.
Chegado o Verão, “as pessoas que entram na casa pensam que há ar condicionado”, quando, na verdade, são os materiais utilizados na construção que travam o calor exterior.
O revestimento do Domus Carmeli também protege os seus habitantes do ruído. O edifício localiza-se “diante de um parque importante do Santuário de Fátima”, pelo que “há muito barulho durante as noites do fim-de-semana”, assinalou o religioso.
Falta de diálogo entre universidades e empresas
“Nós optámos por esta solução porque tínhamos arquitectos e engenheiros ligados à Universidade de Aveiro, que nos abriram novas perspectivas”, afirmou o Pe. Pedro Ferreira.
O superior salientou que entre as empresas de construção e as universidades “não há um grande diálogo”. “E isso é grave”, acrescentou.
A ausência de comunicação entre os dois sectores fez-se sentir durante a edificação do Domus Carmeli: O empreiteiro “teve alguma dificuldade em aceitar tipos de construção a que não estava habituado”, contou o sacerdote.
“Tiveram que ser os arquitectos a defender que ‘isto é o que se ensina agora nas escolas, e é isto que se deve pôr em prática’”.
“Se estas parcerias não se concretizarem – continuou o religioso – as nossas universidades envolvem-se em pesquisas que depois não são aplicadas.”
O Pe. Pedro Ferreira revelou que os investigadores de algumas universidades têm visitado o edifício para observar como o sistema de aquecimento capta, “em pleno Verão, vários metros cúbicos de água da atmosfera”.
“Estamos muito contentes com a casa”, declarou o superior dos Carmelitas Descalços.
O segredo está no projecto
O principal responsável pela edificação do Domus Carmeli, o engenheiro David Ferreira Leite, explicou que os materiais utilizados “são conhecidos”, embora o “mais complicado” seja “respeitá-los” durante a execução do projecto.
“Um bom material, associado a uma má aplicação, é o grande problema das construções”, referiu o especialista.
“Com técnicas vulgaríssimas obtêm-se bons resultados”, indicou David Ferreira Leite. “Só há um ‘segredo’: ser consciente a projectar”.
Igreja envolve-se na Cimeira de Copenhaga
A Conferência de Copenhaga sobre as mudanças climáticas, que decorrerá entre 7 e 18 de Dezembro, irá tomar decisões que vão influenciar muitos aspectos da vida humana, no presente e no futuro.
O Conselho das Conferências Episcopais da Europa e a Conferência das Igrejas Europeias, juntamente com outras comunidades, a título individual, escreveram uma carta na qual assinalam que os desafios da cimeira “não têm apenas a ver com as vertentes técnicas das mudanças climáticas: ética, cultura, fé e religião são elementos substantivos”.
A mudança de estilos de vida, apontam, deve ser tida em conta se a questão das mudanças climáticas quiser ser efectivamente abordada, assegurando um desenvolvimento humano integral.
Por seu lado, a CIDSE e a Cáritas Internacional, em parceria com o Conselho Mundial das Igrejas e a APRODEV, convidaram as paróquias de todo o mundo a repicarem os sinos das igrejas, apelando a uma acção urgente sobre as alterações climáticas.
Este “toque de alarme dirigido aos líderes que decidem as medidas que podem assegurar o nosso futuro comum” está agendado para 13 de Dezembro, às 14h00 (hora de Lisboa).