E em nome do Espírito Santo

Se a tradição é o cartaz da História, a História é a fonte fecunda de ideias e acontecimentos que merecem ser lembradas para sempre, ainda que, uma vez quer outra, a mesma História reclame novas peregrinações na rota do tempo e da tradição para que se reavive a memória. Assim aconteceu desde que, já em 1989, se realizou na Casa dos Açores o lº Congresso sobre o Espírito Santo, e a implantação do seu culto no território português; e com os portugueses, em terras que se costumavam dizer “d´aquém e d´além mar”, desde as ilhas do Atlântico ao Brasil, Japão, Índia e norte América, com os emigrantes na sequência dos navegadores. Em 1980 um pequeno grupo de cidadãos fortemente empenhados numa aliança-quadrinómio: História, Tradição, Cultura e Religião, envolveu-se na criação de um Centro de Investigação e Fenómenos Religiosos (CIFR) que se debruçou em trabalhos de pesquisa e análise em tudo quanto fosse terra de, e com, portugueses. Em 1992, na Universidade da Beira Interior (UBI – Covilhã) criou-se um Seminário, e que, sob orientação do açoreano Prof. Costa Garcia, se dedicou a um estudo de pesquisa e análise exaustiva sobre o culto do Espírito Santo e as organizações comunitárias na Cova da Beira. Em 1996, o CIFER assina um acordo com a Universidade Católica Portuguesa, aceitando a Faculdade de Teologia dar, em 1997, a um Congresso científico-doutrinário sobre o tema. Em 1998 ganha corpo o II Congresso sobre o Espírito Santo, mas conotado com as Misericórdias Portuguesas e que se cumpriu, com êxito e generosos ecos na Universidade da Covilhã, e em conotação e participação densa e activa da União das Misericórdias Portuguesas. Em 2001 publicam-se as Actas do referido Congresso, onde intervieram teólogos, historiadores, sociólogos, biblistas e especialistas em outros diversos ramos do saber: tradicionalistas, folcloristas e “caçadores” como também contadores de lendas e histórias, e ressaltando em tudo a História no coração da lenda, e a lenda como auréola da história. Fizeram-se inquéritos por todo o país; e, sobretudo através das Misericórdias, apurou-se que as tradicionais e populares Santas Casas eram, na sua maioria, a memória e herdeiras da Confrarias, Impérios do Espírito Santo em todo o espaço lusitano, designadamente na Beira, ao longo do Zêzere até ao Tejo – e a propósito do que o historiador Jaime Cortesão chamava ao rio Zêzere o “Rio do Espírito Santo”. E também na região do Oeste, assim como em tudo quanto tivessem sido “terras da Rainha Santa”, o culto memória e tradição do Espírito Santo teve “impérios” e “bodos” e cortejos; como o dos tabuleiros em Tomar é ainda disso memória. Em 2004, e por iniciativa da Torre do Tombo, uma generosa equipa de investigadores e intérpretes, levam a cabo uma densa rede de inquéritos e investigações, dando origem a um magnífico Tomo, graficamente bem equacionado e literariamente de muito apreciável texto assinado por uma elite de investigadores e intérpretes de Tombos e Documentos de teor paracletiano. Em 2005, mas de âmbito e impacto mais regional, realizou-se o Congresso do Espírito Santo em Santarém, e do qual foi publicado um album-memorial sobre o evento: “O Divino Espírito Santo – a história e a festa”, com base numa exposição documental e iconográfica abrangendo memórias iconográficas da Diocese. Finalmente em 2006, Alenquer alvoroçou-se com júbilo e mérito, porque recuperou memória, e fez festa do maior júbilo, ao descobrir que, afinal, foi ali o berço do culto, dos impérios e dos bodos do Espírito Santo, com a Rainha Santa Isabel. Desta forma, o Espírito Santo, bem como o seu culto, hoje tão em vias de ser reavivado como merece – e é preciso – Fonte de Caridade, alma de Fraternidades (Irmandades, Confrarias, Corporações) cumpre e anima o que de melhor já se registou na história, como quando o Papa Inocêncio III, já no seu tempo, promoveu a criação do Grande Hospital do Espírito Santo, em Roma, – e bem perto do Vaticano – lhe chamou e o classificou como “Ginásio da Caridade Cristã”. Só por isso há tudo a merecer e a ganhar, para que um reavivar do culto e festa do Espírito Santo seja uma quase “cruzada-paixão-religião”, a trazer uma auréola de luz nova aquilo que ainda hoje chamamos “tradição”, mas a precisar de uma alma nova. Manuel Ferreira da Silva

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