E a missão acontece

Projecto ASA 2003 A mala está pronta. Estou prestes a sair do Sumbe para Luanda, donde seguirei para Portugal. Para mim está terminar a missão “ASA 2003” por estas terras de Angola, embora ela continue em Portugal até que estes quatro jovens regressem, no próximo dia 13 de Setembro. O que me faz partir antes deles é a festa em honra de S. Sebastião e de Santa Teresinha, na paróquia de Regueira de Pontes, de que sou pároco. Até agora o trabalho deste ano tem decorrido dentro do previsto, graças a Deus, sem grandes percalços. Só o paludismo, um imponderável já previsível, lançou para o “estaleiro” uma das voluntárias, obrigando-a a fazer um interregno no seu trabalho; é que com aquele bichinho não se brinca e quando ele ataca é preciso: fazer a medicação, descansar e comer bem. Com esta estratégia costuma passar. O tempo deste projecto em Angola é de dois meses, bastante breve para o muito que há a aprender e a fazer por cá. O que costumamos dizer aos voluntários quando se preparam para ir, e principalmente quando já lá se encontram, é que o objectivo é levá-los a conhecer uma realidade muito diferente daquela a que estão habituados e que com eles regresse o desejo de lá voltar por um período mais longo e por isso mesmo em que possam ser mais úteis. Mas embora o tempo seja breve, é gratificante ver a alegria com que a maioria das pessoas nos recebe e a importância que elas dão a pequenas acções de formação que estes jovens têm dado nas áreas em que estão a formar como estudantes que ainda são. Estivemos seis dias no Gungo, uma comunidade do interior da diocese de Novo Redondo, onde trabalhei durante três anos (entre 1993 e 1996) e que já não tinha visita de missionários havia um ano. Aquele povo, que tem tanto de simpático como de pobre e isolado, sorveu literalmente a nossa presença e quase não nos deu tempo para descansar, tal era o seu desejo de aprender novas coisas. Quando visitei os 70 catequistas que estavam no curso bíblico que o Manuel Henrique ministrou, parecia que até os olhos ouviam de tão abertos que estavam. Houve uma semana de formação intensiva para professores do ensino básico da educação pública que deixou satisfeitos tanto os docentes como os seus responsáveis, tanto mais que a formação básica dos primeiros é bastante baixa. Com que alegria eles cantavam as músicas que a Cátia Biscaia lhes ensinou para transmitirem às suas crianças. Os jovens da JECA (Juventude Estudante Católica de Angola) acolheram com entusiasmo a formação na área de Psicologia ministrada pela Tânia Pinto. No fim de um dos ciclos o diálogo de culturas concretizou-se não só pelas palavras, mas também na área gastronómica com um lanche onde estiveram a par pastéis de bacalhau e Vinho do Porto, por um lado e quisaca, caçuço do rio Keve, funge de madioca e garapa, por outro. E as crianças da escola da Pedra Um têm mais um nome e uma professora no seu coração. As dinâmicas, jogos e canções já tornaram bem conhecida a professora (ainda estudante) que quando sobe de jipe o morro da Pedra Um, por entre os solavancos de uma picada com buracos, ouve, por vezes não se sabe bem de onde, a entusiasta saudação: “próféssôra Cátáriiiiina, tchauéééé”. Recordo ainda aqueles refugiados de Cassongue à espera de serem levados para as suas zonas de origem. Cerca de oitenta pessoas, entre adultos, velhos e bastantes crianças, a viver em tendas, em condições bem precárias. A alegria dos seus rostos no dia em que lhes levámos comida, sabão e roupa que tinha chegado no nosso contentor. Este ano enviámos um de 40 pés com cerca de 23,5 toneladas de bens diversos oferecidos pela nossa diocese. Graças a Deus e à colaboração da Caritas Nacional de Angola o processo este ano foi muito mais rápido que por exemplo o ano passado. A descarga do contentor ocorreu no dia 2 de Agosto para grande alegria de todos nós. Estas são apenas algumas pinceladas do que tem sido o “Projecto ASA 2003”. Comigo trouxe quatro quadros literários, pintados por cada um dos quatro voluntários e que serão publicados nas próximas edições. Sumbe, 25 de Agosto de 2003 Pe. Vítor Mira

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