Doentes crónicos não encontram uma casa

O Pe. José Nuno Silva, Coordenador nacional dos Capelães Hospitalares, considera que a maioria dos doentes terminais não tem uma casa para morrer. Em entrevista ao mensário “Solidariedade”, da CNIS, este responsável indica que “as casas estão vazias e não foi a morte que saiu de casa, foi a vida”. Por isso defende os cuidados paliativos, com um espaço onde “o hospital oferece o que tem de melhor ao morrer e tudo aquilo que a família e o lugar casa oferece de positivo ao morrer e que se perde no hospital”. Ao longo do seu percurso, o Pe. José Nuno Silva tem dedicado uma especial atenção aos cuidados paliativos. Sobre isso, considera que em Portugal “estamos a caminhar”, porque se está a apostar em formação e na criação de novas unidades. Mas sublinha que “os cuidados paliativos são uma emergência nacional, para além de serem uma emergência global”, porque existe a ideia de os cuidados paliativos se tornarem “na expressão última da solicitude da sociedade para com quem morre ou de se tornarem «morredouros», para onde se evacuam aqueles que já não querem ser vistos nem ninguém quer vê-los”. Aqui se articula directamente a “eutanásia e a forma como a nossa cultura entende e lida com o sofrimento”. O seu desejo é que “as IPSS se empenhem nesta causa, mas que a reflictam muito bem, porque esta é uma causa tão emergente, mas tão ambígua nas possibilidades de concretização”. Da sua experiência diária com os doentes afirma que “não é possível conceber cuidados de saúde sem pensar na dimensão espiritual e religiosa. O homem é um ser espiritual e a abertura à transcendência faz parte da condição humana”, sempre, não apenas “quando chega a hora de morrer. Esse é um dos grandes equívocos da nossa civilização”. O coordenador nacional dos capelães hospitalares relembra que se o Estado assume como tarefa sua prestar cuidados de saúde, “depreende-se que são cuidados de saúde integrais”, aponta, “onde se inclui uma dimensão fundamental, que é a espiritual e religiosa”. Por isso, espera que com o novo enquadramento legal seja “mais favorável do que aquele em que estamos, em que podemos chegar à situação disparatada de ter um capelão para 799 camas”.

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