Discurso do Presidente da CEP no início dos trabalhos da 154ª Assembleia Plenária

Senhores Arcebispos e Bispos Senhor Núncio Apostólico Estimados Presidentes da CNIR, FNIRF e FNIS Senhores Jornalistas, 1. Damos início a mais uma Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa. No começo dos nossos trabalhos é-me grato saudar o Senhor Núncio Apostólico e regozijar-me com o restabelecimento da sua saúde. A sua presença aqui, Senhor Núncio Apostólico, é o sinal visível da nossa comunhão com o Santo Padre, a quem saudamos colegialmente na celebração do seu Jubileu como Sucessor de Pedro e Pastor da Igreja Universal. O mês de Outubro foi marcado por uma profunda comunhão dos católicos portugueses com o Papa. O facto de ele ter querido associar ao seu jubileu o “Ano do Rosário” proporcionou aos portugueses o celebrar essa festa, partilhando do que intuímos serem os sentimentos mais íntimos de João Paulo II: acção de graças a Deus através de Maria, a Senhora do Rosário. Muitas Diocese organizaram celebrações com essa marca marial e os Meios de Comunicação Social levaram a todos os portugueses o testemunho dessa profunda comunhão com o Papa. Estamos-lhe muito gratos, de modo particular à Radiotelevisão Portuguesa pelo relevo que deu a estas celebrações jubilares. Pudemos saborear o apreço e a estima que os portugueses em geral manifestaram por João Paulo II. Nós só podemos transformar todos esses sentimentos em hino de louvor e de acção de graças pelo Bom Pastor que deu à sua Igreja, que continua a guiar pelos caminhos do amor e da ousadia do Evangelho, com a força inquebrantável do seu espírito, mais visível e sensível num momento em que as forças físicas vão faltando. Obrigado também por este testemunho de coragem no dom da sua vida, até ao fim. 2. O nosso encontro em reunião plenária é sempre e sobretudo, ocasião de exprimirmos a nossa união colegial no governo pastoral das nossas Igrejas. A nossa oração em comum e a nossa amizade sincera são tão importantes como os nossos trabalhos à volta de algumas questões pastorais de maior actualidade. Entre estas sobressai em primeiro lugar a nossa solicitude pastoral com as famílias cristãs e todas as famílias portuguesas. A família é o caminho e o contexto principal da realização da vocação cristã para a maior parte dos católicos e de construção da harmonia e da felicidade para os outros homens e mulheres nossos irmãos. É já um lugar comum falar-se da crise da família. Mas eu quero, agora, saudar em primeiro lugar as tantas famílias generosas e felizes, fortes na sua fidelidade, ternas no seu amor, corajosas nas suas lutas. Elas são, no mundo de hoje, importantes mensageiros da esperança. Quero com esta saudação dizer-lhes como o seu amor é fecundo na Igreja e na sociedade, e recusar visões derrotistas daqueles que, perante as transformações e dificuldades da família na sociedade contemporânea falam dela como se de instituição em vias de extinção se tratasse. Não! Sejam quais forem os problemas a vencer, um futuro positivo da Igreja e da sociedade continuará a passar pela família. E acreditar nisso significa acreditar na humanidade. O seu enfraquecimento ou dissolução, como lugar de comunhão e de compromisso, de complementaridade no dom e partilha da alegria, alfobre onde a vida nasce e cresce em harmonia, acarretam à sociedade as principais manifestações da sua desestruturação: o individualismo egoísta, a solidão, a vulnerabilidade das crianças, a desorientação da juventude. Com a Carta Pastoral que iremos analisar e nos preparamos para publicar queremos dizer às famílias que somos seus aliados e partilhamos com elas a esperança de um mundo novo. 3. A Igreja está no mundo e tudo o que é verdadeiramente humano lhe interessa e lhe diz respeito. Não podemos ficar indiferentes ao grande acontecimento desportivo que se vai realizar no nosso país: a fase final do Campeonato da Europa de Futebol em 2004. Falou-se muito dele nos últimos dois anos, nem sempre na sua dimensão mais bela e atraente: estádios sim, estádios não, milhões gastos que poderiam resolver outros problemas etc. Mas chegou o momento de fazer festa; os estádios estão aí, belos e modernos a desafiar o futuro, grandes palcos para a alegria dos portugueses. E esta festa é dos amantes do futebol, mas será de todos os portugueses, porque ela significa convívio e fraternidade entre povos e nações, nesta Europa que é a nossa casa comum, e que nós queremos mais pacífica e fraterna. Oxalá ressaltem os grandes valores positivos do desporto, das actividades humanas culturalmente mais significativas. Que os novos estádios sejam espaço de uma atitude nova, donde desapareçam a violência e as manifestações sem elevação cultural e que a dimensão profissional das competições não ofusque o espaço para o desporto gratuito, o desporto pelo desporto, na gama imensa das suas expressões e modalidades, que o futebol, apesar de ser “rei”, não deve abafar. A Europa e grande parte do mundo vão estar com os olhos postos em Portugal; oxalá vejam o que nós temos de melhor. 4. A celebração dos 150 anos da morte de Frederico Osanam convida-nos a lançar os olhos sobre as Conferências de São Vicente de Paula por ele fundadas. A sua primeira designação, “Conferências da Caridade”, define-lhe a sua verdade. Algo de muito simples na concepção e esquema organizativo, são a expressão espontânea da fraternidade cristã, estando simplesmente presente junto dos mais pobres e necessitados, para conviver e repartir. É o pôr em prática a intuição de São Paulo: “a caridade é a plenitude da lei”. Saudamos todos os cristãos que, através das Conferências Vicentinas, dão testemunho da sua fé, no amor cristão. 5. É também esse amor à Igreja que nos move nos nossos trabalhos. Façamo-lo sobre o olhar solícito de Maria, Mãe da Igreja. Fátima, 10 de Outubro de 2003 † JOSÉ, Cardeal-Patriarca Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa

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